13 abril 2022

Vai um gin do Peter’s ?

NO “OBRIGADO” OS PORTUGUESES VÃO MAIS LONGE… 

Poucas palavras se aplicarão melhor ao mistério da Semana Santa do que o OBRIGADO/A. Até porque é a quadra em que o silêncio mais se sobrepõe. 

Uma boa visita guiada à etimologia desta palavra foi oferecida por Sampaio da Nóvoa, ao concluir uma conferência numa universidade do Brasil, em Dezembro de 2014. Querendo esmerar-se no agradecimento ao apoio e carinho que costumavam dispensar-lhe do outro lado do Atlântico, lembrou-se de discorrer sobre a etimologia dos termos mais usados nas línguas ocidentais para o agradecimento, avaliando-os à luz dos três níveis identificados pelo grande filósofo e teólogo da cristandade – S. Tomás de Aquino. Na escala traçada pelo italiano no «Tratado da Gratidão» começa-se (i) pelo mero reconhecimento, (ii) avança-se depois para a gratidão (iii) até se atingir o expoente ao estabelecer um vínculo. Nóvoa encontrou inúmeros exemplos linguísticos para os dois primeiros níveis, mas apenas o caso português para o patamar mais elevado, numa proeza linguística e talvez civilizacional incomum:



Escusado será dizer quanto esta conclusão foi ovacionada pelo público brasileiro, (em geral) falante brioso da língua portuguesa, claro que com as suas variantes específicas e algo diferentes da versão usada em Portugal. Aliás, Nóvoa começou a conferência a brincar com essa óbvia diferença (não apenas fonética), que levava muitos brasileiros a ter dificuldade em reconhecê-lo como falante da mesma língua.
 
No rol dos agradecimentos, aplica-se um «obrigado» a quantos se batem pela liberdade na ponta mais massacrada da Europa, conforme têm repetido ao líder da Ucrânia vários dos líderes ocidentais de diferentes latitudes, do Japão a Itália, passando pelo Parlamento britânico, para apenas citar alguns dos primeiros a posicionar-se nesta ofensiva tremenda. Porém, como bem alertou o líder religioso ortodoxo da Ucrânia, na raiz das agressões bélicas costuma medrar a mentira, uma enorme mentira, que alimenta a megalomania, um orgulho feroz, a inveja e um egoísmo insaciável. O vocalista dos U2 resumiu o engodo que é a guerra, ao citar uma frase celebrizada na Primeira Grande Guerra: a escolha dos que não têm de ir para o campo de batalha, jogando com o sangue dos novos para tentar fazer valer as suas ganâncias. A mensagem de Bono flui ao som da Ave Maria de Schubert, num dueto memorável com Pavarotti (passado na RAI Uno em 2003): 


Inocentes atirados para a morte por líderes cruéis foi uma constante a manchar a história da Humanidade. Quantos enfrentaram a morte por generosidade e com galhardia. Quantos continuam a morrer anónimos, atirados para o esquecimento.  Quando será possível deter a mão de Caim, como tem implorado o Papa Francisco. 

Com sentido de oportunidade, o Papa decidiu que a Via Sacra deste ano será rezada pelas famílias e na estação atribuída aos ucranianos estarão também russos de boa vontade, a ajudar a levar a mesma Cruz. A cruz salvadora de todos, que há dois milénios restaurou o vínculo entre o Céu e a Terra. Grazia e obrigado(a) talvez consigam dizer o essencial. Boa Páscoa a cada um! 

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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