10 junho 2024

Crónica de um viajante no Dubai (I)

 

Museu do Futuro (Dubai)

Ao longo de quase 50 anos de viagens mais ou menos regulares, conheci de tudo: locais que não me disseram nada embora tenha gostado deles, locais aos quais voltaria com gosto, locais que gostei de conhecer mas aos quais não tenho interesse em voltar. O Dubai insere-se nesta última categoria. Uma vez que aqui fazíamos escala no regresso da África do Sul, decidimos ficar 3 dias. Em abono da verdade, chega - e talvez sobre. 

Vir ao Dubai é confrontarmo-nos com uma experiência diferente - um país árabe muito rico, por onde passam turistas de muitos locais. No hotel onde ficámos, ingleses tatuados provenientes de cidades industriais inglesas, alguns russos (?), alguns alemães. Porém, apesar deste cosmopolitismo, é sempre um país árabe, altamente seguro, altamente controlado, muito quente. Por estes dias as temperaturas andam pelos 36 - 42ºC, o que para mim é terrível, uma vez que a minha temperatura de conforto não ultrapassa os 26ºC. 

No Dubai não há nada barato - talvez apenas a areia do deserto, caso esteja disponível. Os centros comerciais - sempre apinhados de gente que ali procura entretenimento e ar fresco - são luxuosos, com boas marcas, embora tenha visto mais luxo num de Singapura. Os preços são, na generalidade, altos. O vinho, por estarmos num país muçulmano, é também caro. Ontem bebemos uma garrafa de vinho branco chileno, qualidade média, por 20€. A subida ao arranha-céus mais alto do mundo custa para cima de 100 ou 120€. Dispensámos... O Dubai não produz nada - vive de imobiliário ou de serviços, pelo que importa tudo.

O hotel onde ficámos tem praia privativa, o que é um must para enfrentar estas temperaturas de quase Verão. O senão? A água está a roçar (se não for mais) os 30ºC. Significa isto que uma pessoa não se refresca - apenas se molha. 

Numa praia no Dubai

A arquitectura do Dubai é bonita - não só os edifícios com traça mais local, como os que têm um design internacional. Podem ver-se prédios semelhantes na Malásia (Kuala Lumpur) ou Singapura, só para dar um exemplo de países muito financeiros e não europeus.

Não estou a dizer que o Dubai é um destino incontornável. Porém, uma vez que é um hub aéreo muito frequente para quem viaja na Emirates, talvez faça sentido parar-se por 2 ou 3 dias (seguramente não mais) e perceber o que é isto - algumas (poucas) burkas, alguns (muitos) hijabs, muita gente ocidental, algumas mulheres (russas, talvez) muito produzidas e cheias de botox, chamadas sugar daddy, por prestarem serviço - temporário ou mais permanente - a árabes ricos. 

Centro Comercial no Dubai

Nota curiosa: fomos abordados no voo de Joanesburgo para o Dubai por uma assistente de bordo portuguesa que detectou a nossa identidade pelo passaporte. Muito simpática, conversou um bom bocado connosco a meio do voo e ofereceu-nos chocolates. Percebe-se que gostou de falar português com alguém não colega, e partilhou connosco uma parte mais difícil desta vida de assistente de bordo da Emirates - um certo desenraizamento, uma certa dúvida sobre e quando e para quê regressar a Portugal. Na Emirates ganha-se bem, mas não é um emprego para a vida. Dois dias depois passeávamos num centro comercial e encontrámo-la, juntamente com mais dois portugueses igualmente empregados na Emirate. Um encontro nacional - e improvável.

JdB

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