FILIPA RIBEIRO DA CUNHA
Nascida há 60 anos, no dia do Patrono dos Jornalistas e da Comunicação Social, a Filipa Ribeiro da Cunha deixou-nos a 20 de Agosto, depois de dois anos especialmente difíceis, após o diagnóstico de um cancro feroz. Como era seu apanágio, até essa dura prova atravessou com insólita tranquilidade, alicerçada numa fé profunda, que não temia a morte, nem o sofrimento, o que é ainda mais raro.
Sabemos quanto o mistério da hora da Partida convida mais ao silêncio, pois as palavras ficam aquém deste momento sagrado e estranho para os padrões humanos. Também o sentido ulterior de uma vida humana cabe mal em palavras, pelo que me fico pelo desenho de um rosto que breves traços biográficos ajudarão a reconstituir:
De carácter enérgico e uma genica que a sua magreza não faria adivinhar, habitava-a um especial gosto pela vida, saboreada com intensidade e originalidade. Logo nos tempos de estudante, na Católica, foi pioneira no lançamento do movimento de acção social da universidade – o GASUC – marcando gerações de colegas e amigos, que passaram a guardar algum tempo livre para visitar prisões, hospitais, bairros pobres, acompanhar miúdos precisados de apoio nos estudos, etc. À medida que os anos foram passando, o seu coração generoso e audaz aguçou-lhe o sentido maternal, sempre de portas escancaradas a todos, começando pelos mais carentes. E com muitos se cruzou em diferentes pontos do globo, acompanhando o marido na sua carreira internacional. A casa de família servia de abrigo e de pontos de encontro marcantes, tal como as conferências com que animou serões em inúmeras salas de Washington e Lisboa. Conheci amigos nas franjas da fé que foram tocados pelo seu testemunho desassombrado, sustentado em grandes textos e ilustrado por telas maravilhosas e bandas sonoras de primeira água. Uma das suas apresentações versou sobre um tema que lhe era especialmente querido – as Obras de Misericórdia, explicadas através da pintura do romântico francês popularizado pela figuração idealista da revolução francesa – Eugène Delacroix:
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