11 setembro 2024

Vai um gin do Peter’s ? 

 CRIATIVIDADE DA MADRE TERESA E DO TURISMO PORTUGUÊS

A 5 de Setembro, o meu Pai faria 100 anos. Que saudades daquele grande senhor, pai e professor, por profissão e por vocação, que partiu há 10 anos! Desde 1997, o 5 de Setembro passou a ficar associado à Madre Teresa de Calcutá, festejando o dia da sua morte que, à luz da fé, correspondeu ao nascimento para a eternidade. São incontáveis os episódios e as suas respostas antológicas, em especial com os mais frágeis e também com os mais críticos do seu trabalho junto dos indigentes do planeta. Ainda assim, recebeu inúmeras mostras de consideração, começando pelo Nobel da Paz, em 1979, o acolhimento com honras de Estado nas Nações Unidas e noutros palcos internacionais de prestígio. Diz muito a maior nação hindu do mundo ter colocado a bandeira indiana sobre a sua urna, quando desfilou pelas longas avenidas de Calcutá, sob um sol escaldante, enquanto as multidões se aglomeravam para uma homenagem pública muito sentida. 

Um dos moribundos de uma viela infecta dos bairros proscritos de Calcutá, que morreu nos seus braços, desabafou: «eu que vivi como um cão, vou morrer como e com um anjo».  Um magnata ocidental, a quem a Madre Teresa pediu dinheiro para construir uma das suas casas da Caridade, cuspiu-lhe na mão que a mãe dos pobres lhe estendera. Mas ficou desarmado com a reacção da pequena missionária, que recolheu para si a mão com a cuspidela e lhe estendeu a outra: «Certo, isto é para mim. E agora, para os pobres» (abrindo a palma da outra mão). Tocado, o magnata entregou-lhe um cheque generoso.  

Contou um jornalista espanhol, que se encontrou com a Madre Teresa na casa das Irmãs da Caridade, em Nova Iorque, ter aproveitado a ocasião para a criticar frontalmente por aquele tipo de trabalho, taxando-o de paternalismo eivado de assistencialismo ineficaz. E instava a missionária a adoptar uma intervenção mais política, cheio de conselhos sobre os métodos para erradicar a pobreza. Enquanto se afadigava numa argumentação acalorada (segundo o próprio) baseadas nas suas muitas teorias, a M.Teresa ouvia-o silenciosa e continuava a visita ao berçário das Irmãs, dando festas a um dos bebés abandonados, mudando fraldas a outro, segurando o biberon de outro. Quando se ouviu um choro mais intenso, a Madre acorreu ao bebé desesperado, pegou-lhe ao colo, acalmou-o e depois posou-o nos braços do jornalista para socorrer outro recém-nascido, que começara a chorar. Depois da surpresa inicial, o espanhol olhou para o bebé (confessou, mais tarde, que era a primeira vez que o fazia, naquele berçário), segurou-o com cuidado e, comovido, mudou o chip e converteu-se. O bebé de carne-e-osso com nome, que lhe fora confiado pela missionária albanesa, resultara na melhor definição do que era a caridade real, capaz de chegar a quem precisa. 

Sem ideias feitas, nem teorias, a Santa de Calcutá partilhou algumas das melhores dicas sobre o amor profundo, à escala humana, que suplanta todas as diferenças de etnia, religião, idade, sexo, nacionalidade, matriz cultural, condição social, etc. apenas interessada em ajudar. É eloquente a atitude tolerante e aberta com que ajudou pobres de outras confissões religiosas, assim como agnósticos e ateus, com o objectivo maior de lhes aliviar o sofrimento:  

«As pessoas boas merecem o nosso amor; as pessoas más precisam dele.» 

«If you judge people, you have no time to love them.»

«Peace begins with a smile. (…) Every time you smile at someone, it is an action of love, a gift to that person, a beautiful thing.»

«If we have no peace i tis becausse we have forgotten that we belong to each other.

«We fear the future, because we are wasting the present. (…) Yesterday is gone…»

«Not all of us can do great things. But we can do small things with great love.»   

Bio telegráfica desta mulher que teve a coragem de ir até às periferias infra-humanas da sociedade: nascida no seio de uma família católica da Albânia (então território da Macedónia), em 1910, Agnes Gonxha Bojaxhiu cedo revelou vocação para missionária. Aos 18 anos, entrou para a congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto. Começou na Irlanda, mas rapidamente seguiu para um convento na Índia, onde dava aulas. Volvida uma década de vida pacata, pediu dispensa para fundar uma nova congregação, que cuidasse dos muitos sem abrigos com que se deparou. Assim nasceram as «Irmãs da Caridade». Em 1948, já sob o nome de Teresa, adquiriu nacionalidade indiana. Com o Nobel da Paz (1979), a sua obra ganhou projecção mundial, impressionando pela dedicação aos mais desprotegidos, sem medo de contrair doenças, nem repugnância pela degradação humana extrema, que procurava aliviar. Foi beatificada em 2003 e canonizada em Setembro de 2016, pelo Papa Francisco.

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É português o filme premiado, em 2023, com o galardão do Melhor Filme de Turismo do Mundo, no festival de Valência. «ALMA DE Lû («A Soul Made from Wool») foi rodado em 2022 para dar a conhecer a beleza subtil e aconchegante do interior do país, numa zona raiana, onde os lanifícios e a serrania pedregosa se impõem. Sob uma banda sonora magnífica, o mosaico variado de actividades daquela região fluem em acelerado, numa sequência plástica sumamente artística, que fusiona recortes da paisagem montanhosa com teares e outros elementos da região. O argumento parte da história do herdeiro de uma fábrica de lanifícios arruinada, na Covilhã, que Francisco converteu num laboratório de artesanato criativo e experimental, cognominado New HandLab.  A arte, o engenho e a boa vontade resgataram da falência uma velha indústria ameaçada de extinção, reenquadrando o saber milenar de artífices anónimos:  

https://lobbyproductions.com/video/newhandlab-a-soul-made-from-wool/

Também da Covilhã, outro filme premiado (com um bronze) tem um título igualmente poético para promover Pampilhosa da Serra, Arganil e Góis. A história segue o olhar curioso, inexperiente e límpido de uma criança, para a redescoberta de uma paisagem diferente, mas que nos cansámos de banalizar por falta de silêncio e de simplicidade para lhe reconhecer o fascínio e até a magia: 


Por seu turno, a medalha do público recaiu sobre a curta-metragem de Leonel Vieira, dedicada à vila fronteiriça do Alto Minho – Monção – orgulhosa dos seus pergaminhos ancestrais: 


Igualmente de inspiração medieva, o Museu do Oriente (parte Norte da Doca de Alcântara) oferece um concerto a 30 de Setembro, às 19h00, onde serão interpretadas cantigas das três grandes culturas que se entrecruzaram na Península Ibérica, nos séculos XIII e XVI: cristã, sefardita e árabe. Eduardo Ramos será o vocalista e tocador do alaúde árabe, enquanto Carlos Mendonça o acompanhará à  flauta e na percussão. O espectáculo integra-se no Ciclo de Concertos da Antena 2, com entrada livre, mas sujeito à lotação da sala, pelo que será necessário levantar bilhete no próprio dia.  

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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