08 fevereiro 2009

A imperfeição e o esforço

Pertencer - ou ser - Igreja Católica é ter a certeza da não perfeição das coisas. É conviver com regras com as quais nem sempre concordamos e que por vezes mudam com uma lentidão exasperante; é encontrar pessoas - consagrados e leigos - minados de incoerência entre aquilo em que dizem acreditar e aquilo que praticam.
Mas, pertencer - ou ser - Igreja Católica é, também, a certeza de que há uma mensagem maior do que nós, há um modelo que nos ilumina e inspira e que o sábado se fez para o Homem, e não a inversa; é, ainda, a certeza de que, como dizia alguém, um santo é um pecador que não desiste.
A minha ligação à Igreja Católica assenta nessas duas certezas: a da imperfeição e a do esforço. E assenta, também, na convicção de que Igreja somos nós, não são os outros.
Não me alongo, e reproduzo parte de um mensagem que enviei para a divulgação de uma carta que me chegou às mãos. À hora em que publico este post não sei se chegou resposta.

***


Tomo a liberdade de lhe enviar um link (http://pingamor-xiu.blogspot.com/2009/02/uma-carta-que-deve-circular.html) para uma carta publicada no blogue de um amigo. A carta amarfanhou-me ao nível do que sou - como Homem e como Católico. Na escala do desgosto (se assim se pode chamar), não há drama maior para um ser humano do que a morte de um filho. Nessa dor maior, perdê-lo por suicídio atinge foros de crueldade máxima. Só posso imaginar.
A carta publicada neste blogue revela a revolta de uma Mãe. Não perante o suicídio, que ela não entende, mas perante a recusa de um funeral religioso. Uns pais que casaram pela Igreja e que entenderam que o baptismo dos filhos fosse uma decisão consciente dos próprios, quando chegasse a altura.
Eu continuo a acreditar – e parafraseio alguém – que o braço da misericórdia é sempre maior do que o braço da justiça. E estou certo de que o Cristo a quem rezo todos os dias se afastaria da multidão para abraçar aqueles pais destroçados. E estou certo, ainda, de que acolherá o jovem que se suicidou – independentemente da recusa de um ou vários padres em rezar uma oração simples.


5 comentários:

  1. Não tenho uma dúvida. É assim que eu vejo o Catolicismo. Fico feliz quando vejo que há Católicos com esta abertura, que não "lêem" tudo by the book, mas que sentem (que não é mais que uma forma de saber única e intransmissível) que a misericórdia de Deus é MUITO, MUITO maior do que possamos imaginar.
    Fez-me bem esta mensagem. Encheu-me o dia. Obrigada.
    PCP

    ResponderEliminar
  2. Obrigada JB. Só assim se ajuda á mudança.

    ResponderEliminar
  3. Como no "segundo olhar" a que J se refere hoje, para os sacerdotes que ainda julgam e punem, por demais zelosos ministros de Deus na Terra a discriminar, deitemos nós o olhar de Cristo e em compaixão perdoemos porque não sabem o que fazem. Eles, que como tantas vezes nós, subestimam a luz do seu próprio pensamento, cuidando que o de outrem é o certo e deve prevalecer em quaisquer circunstâncias. É aí que as religiões estancam e se afastam do rebanho e do homem que ciente das nossas limitações e falhas, nos amou incondicionalmente.
    Jesus escolheu a dedo os seus discípulos, todos homens com personalidades "defeituosas". E através deles mostrou que a transformação está ao nosso alcance. Nunca os julgou, nem discriminou e eles chegaram lá.
    "O homem Jesus é um enigma para a psicologia. Os seus comportamentos ultrapassam os limites da nossa lógica" diz Augusto Cury, um psiquiatra que estudou durante quase 20 anos a mente de Cristo. Analisou o comportamento de Jesus e as suas respostas em momentos de grande tensão, no caos das emoções, na gestão dos pensamentos, na dor física, no medo, na ansiedade, às portas da morte. "Ferido, Ele foi ainda mais extraordinário."
    São 5 livrinhos, a colecção chama-se Análise da Inteligência de Cristo, e integra: O Mestre dos Mestres, O Mestre da Sensibilidade, O Mestre da Vida, O Mestre do Amor, O Mestre Inesquecível.
    É de ficar colado ao céu na Terra :)

    ResponderEliminar
  4. Sim, têm razão .
    A todo o instante somos confrontados com a nossa imperfeição, a contradição, a limitação das práticas religiosas relativamente aos dogmas teóricos . Perante as ofensas, as injustiças, as indiferenças(...), cabe-nos dar respostas, nem sempre fáceis.
    Só poderei imaginar a dor e perda sentida, entendo a necessidade de aconchego espiritual e por isso a mágoa e a revolta.
    Tento não julgar e aceitar os limites terrenos.
    E sei tal como JdB, que Cristo (n)os acolherá a todos de igual modo.

    ResponderEliminar
  5. Não há muito a acrescentar ao que já li aqui. A mensagem de Cristo é simples e cristalina: Perdão, Amor, Compreensão. Tudo o resto são invenções dos homens, maquinando hierarquias para se sentirem importantes.

    ResponderEliminar

Acerca de mim