Quanto eu gosto de ver no chão das catedrais (Chartres) ou nas traves da nave principal (Lucca) um labirinto gravado! Houve um tempo em que os homens sabiam que a imagem do caminho é a figura da própria existência. Mas no tempo das vias de comunicação globais e das altíssimas velocidades, perdemos o saber das viagens profundas.
Todos os labirintos começam e terminam no coração do homem, mas este tem vastidões que ignoramos, desertos que só pressentimos, silêncios maiores que todo o silêncio, aberturas para muito longe. Raramente nos dispomos a percorrer semelhante paisagem. Os seus caminhos são duros, de uma esperança estreita e áspera, mas também purificadora. Reconduzem o coração, escravo de tantas dispersões, à utopia de um centro. Permitem refundar a vida. Morte e renascimento; cruz e ressurreição; inverno e primavera.
Peregrinar é aceitar percorrer nas estradas de hoje o antiquíssimo labirinto penitencial que as catedrais tinham gravado: redescobrir pelo apagamento a verdade do que se é; experimentar na pobreza o sentido do que se possui; reinventar na errância o endereço das construções sedentárias que nos motivam; medir no eterno a direcção do provisório.
Texto de José Tolentino Mendonça retirado daqui
várias foram as vezes em que tive a honra e o privilégio de escutar as homilias deste homem que, tendo dedicado a sua vida a Cristo, continua a ser um cidadão do mundo, um homem com uma sensibilidade e beleza extremas, que nos interpela e nos faz sentir o evangelho de uma nova perspectiva. Bem haja Pe.Tolentino
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