07 março 2009

Doces histórias da nossa gente

Ermelinda saíra de casa dos pais para o Convento de Santa Clara, em Vila Real, onde a incumbiram de ajudar na cozinha e de prestar apoio aos pobres e doentes que a Ordem caridosamente recolhia, até ao dia em que tomaria o hábito e se ordenasse freira. Associada à entrada no convento estava a sua imensa gulodice, que se queria corrigida e afastada. Assim, uma amarga campanha promovida pela Madre Superiora, sob o sloglan “doces, nem vê-los” impediria a rapariga de ter acesso ao açúcar ou aos muitos doces que faziam as irmãs clarissas.

O sofrimento aumentava e Ermelinda padecia mas, com ele, crescia também a fé de suprimir o seu defeito, e foi em Santa Luzia que depositou a esperança da cura, numa infinita devoção à santa dos cegos e dos males da vista. Um dia, orando, e porque tinha ouvido a história do Milagre das Rosas, teve uma visão, a que hoje chamaríamos de “bela ideia”. Usavam-se as papas de linhaça dentro de uns pachos feitos em quadrados de pano, com a pontas dobradas ao centro para segurar a papa, como remédio para chagas, contusões e inchaços. Ora, a noviça, que muitos pachos preparava aos doentes, resolveu, com a ração de açúcar que lhe estava atribuída, fazer uma compota de abóbora e uma massa de farinha que cortou em quadrados, recheou de doce e levou ao forno.

A Superiora, cujas vistas lhe faltavam, bem a viu passar com um tabuleiro. – O que levas? – São pachos, Irmã Madre, para os doentinhos de amanhã... E, na escuridão do seu quarto, cuidando que “do que não se vê não se peca”, Ermelinda saciava a gula, sem suspeitar que os bolinhos ficariam para sempre. Sob o nome de Pitos de Santa Luzia, ainda hoje são oferta obrigatória das raparigas aos noivos (a 13 de Dezembro, festa da Santa), que retribuem com uma gancha de S. Brás, no terceiro dia do mês de Fevereiro. A gancha é um rebuçado feito de açúcar em ponto, em forma de bengala, tal como a que S. Brás segura em uma das mãos.

DaLheGas

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