Correm os dias, flui o tempo, tudo vai passando.
Pergunto-me qual será a chave para que cada momento que corre seja tempo de vida e não vida do tempo.
No fundo, como viver para sermos nós a passar pelo tempo e não o tempo a passar por nós. Como cavalgar nos ponteiros do relógio, em alternativa a contemplar o seu movimento na ânsia das badaladas que vão ditando o acontecer das rotinas.
Assim como cada espaço tem de ser preenchido para não ser vácuo, também cada tempo tem de ser “humanizado”, para não ser ponto indistinto de um infinito contínuo.
Humanizar cada tempo é acção individualizada de cada um, e significa preenchê-lo com a sua presença activa, ingerência, manipulação, com vida, para que nunca ocorram as “horas mortas”, dado que a morte nunca é das horas, mas sim de quem as não vivifica e anima.
Os momentos não morrem - quem morre é aquele que os desperdiça, não os vivendo, não os sentindo, desprezando-os, e, até, ansiando que passem.
Não proponho resolver esta equação com o apelo a que cada um humanize o seu tempo com grandes obras e feitos, com projectos importantes, com fantásticos acontecimentos, numa sucessiva vida de ribalta e importância, útil, profícua e valorosa.
O meu caminho não é esse, a minha chave não está no lugar-comum que sentencia que cada segundo é tão precioso e irrepetível que não pode ser gasto senão em coisa transcendente.
Não, o que proponho é que não desvirtuemos a realidade da vida e do homem, mas que seja precisamente a partir dessa realidade que consigamos a humanização do tempo que reputo indispensável a uma vida bem vivida.
Efectivamente, tenho por pressuposto que, por um lado, a vida é composta de muitos momentos, banais, comuns, vulgares, rotineiros, sem qualquer importância especial ou que mereçam menção, bem como escassos são os acontecimentos, coisas ou projectos, em que cada um participa ou tem oportunidade de participar, e que têm objectivamente grande valor, importância, influência, pelo menos para o “mundo”.
Na verdade, o percurso de cada um de nós é, na esmagadora maioria, uma caminhada na areia descoberta pela baixa-mar, cujas pegadas serão apagadas na primeira volta da maré.
Apenas uns poucos (eleitos) deixam obra e memória.
Temos, assim, a maioria, vidas comuns sem epopeias ou glórias, sem decisões sobre a sorte do Império, sem lances fatais, sem direito ao Olimpo.
Se a lucidez e humildade nos libertarem da pretensão de um presente e de um destino grandioso e magnificente, que não temos, estamos em condições de encarar o nosso viver com a valoração adequada e, sobretudo, devotar-lhe o ânimo e a atitude que sustento.
Efectivamente, a chave está, a meu ver, em assumir e cultivar uma atitude de entusiasmo e alegria na vivência de todos os momentos que nos cumpre viver, independentemente da maior ou menor importância que esses tenham para a humanidade, para a civilização, para o mundo ou para quem seja…
Entregarmo-nos plenamente, com “ganas”, com dedicação, com perfeccionismo, ao que sucede, a cada acção que iniciamos, a cada tarefa que desempenhamos, a cada missão que cumprimos, seja ela qual for e para o que for, é viver e animar o tempo.
Se na “casa da partida” de cada “jogo da glória” que jogarmos evitarmos as avaliações da respectiva importância, as comparações com outros jogos, concentrando-nos no momento, no jogo em si, entregando-nos com ânimo, empenho, lealdade e vontade de fazer e fazer bem, com ansiedade de o desfrutarmos, com ilusão, venceremos então o tempo, porque seremos nós a passar por ele e não ele a passar por nós. Estaremos, como disse, a cavalgar nos ponteiros do relógio.
Não é despicienda nem inconsequente esta atitude de concentração, de foco, de sublimação no que acontece agora e em que participemos.
Desde logo, esta atitude constitui um proveitoso e eficaz critério para seleccionarmos o que fazemos, marcarmos a nossa “agenda”, já que, conscientes da nossa entrega e empenho naquilo em que participarmos, recusaremos, por coerência, os eventos insusceptíveis de nos gerarem essa empenhada participação (recusa por objecção de ânimo).
Pela mesma ordem de razões, por essa atitude, aquilo em que participarmos ganha quantitativa e qualitativamente, pois indiferença, ligeireza, negligência, leviandade, não são consentidas na nossa prestação. Detenho-me neste particular, porque o seu efeito prático é imenso. Basta pensarmos no quanto é diferente um relacionamento humano, mesmo circunstancial e aparentemente pouco relevante, quando vivido com a atitude de empenho e dedicação, versus a displicência de ser um passatempo.
A importância de cada acto actual ser o centro do mundo (do meu mundo), com indiferença à sua importância objectiva relativa, é uma via para, e pelo menos, o aperfeiçoamento de cada um, já que é um exercício exigente de entrega, de dádiva aos outros, de partilha, de autenticidade, oportunidade de darmos o melhor e o máximo de nós próprios.
Mas, acima de tudo, esta atitude confere-nos paz, serenidade. Na valoração devida do nosso pequeno mundo e vivência plena desse, perdemos interesse e justificação na constante comparação com os outros, na permanente aferição da nossa importância, do nosso posicionamento no “ranking” e na tormentosa adivinhação do futuro que nos espera, em função do desempenho dos outros.
Cada dia tem em si um potencial de vida imenso, mesmo que preenchido por coisas objectivamente menores, mas essas são as maiores, porque são a nossa vida, e assim devem ser encaradas.
ATM
Pergunto-me qual será a chave para que cada momento que corre seja tempo de vida e não vida do tempo.
No fundo, como viver para sermos nós a passar pelo tempo e não o tempo a passar por nós. Como cavalgar nos ponteiros do relógio, em alternativa a contemplar o seu movimento na ânsia das badaladas que vão ditando o acontecer das rotinas.
Assim como cada espaço tem de ser preenchido para não ser vácuo, também cada tempo tem de ser “humanizado”, para não ser ponto indistinto de um infinito contínuo.
Humanizar cada tempo é acção individualizada de cada um, e significa preenchê-lo com a sua presença activa, ingerência, manipulação, com vida, para que nunca ocorram as “horas mortas”, dado que a morte nunca é das horas, mas sim de quem as não vivifica e anima.
Os momentos não morrem - quem morre é aquele que os desperdiça, não os vivendo, não os sentindo, desprezando-os, e, até, ansiando que passem.
Não proponho resolver esta equação com o apelo a que cada um humanize o seu tempo com grandes obras e feitos, com projectos importantes, com fantásticos acontecimentos, numa sucessiva vida de ribalta e importância, útil, profícua e valorosa.
O meu caminho não é esse, a minha chave não está no lugar-comum que sentencia que cada segundo é tão precioso e irrepetível que não pode ser gasto senão em coisa transcendente.
Não, o que proponho é que não desvirtuemos a realidade da vida e do homem, mas que seja precisamente a partir dessa realidade que consigamos a humanização do tempo que reputo indispensável a uma vida bem vivida.
Efectivamente, tenho por pressuposto que, por um lado, a vida é composta de muitos momentos, banais, comuns, vulgares, rotineiros, sem qualquer importância especial ou que mereçam menção, bem como escassos são os acontecimentos, coisas ou projectos, em que cada um participa ou tem oportunidade de participar, e que têm objectivamente grande valor, importância, influência, pelo menos para o “mundo”.
Na verdade, o percurso de cada um de nós é, na esmagadora maioria, uma caminhada na areia descoberta pela baixa-mar, cujas pegadas serão apagadas na primeira volta da maré.
Apenas uns poucos (eleitos) deixam obra e memória.
Temos, assim, a maioria, vidas comuns sem epopeias ou glórias, sem decisões sobre a sorte do Império, sem lances fatais, sem direito ao Olimpo.
Se a lucidez e humildade nos libertarem da pretensão de um presente e de um destino grandioso e magnificente, que não temos, estamos em condições de encarar o nosso viver com a valoração adequada e, sobretudo, devotar-lhe o ânimo e a atitude que sustento.
Efectivamente, a chave está, a meu ver, em assumir e cultivar uma atitude de entusiasmo e alegria na vivência de todos os momentos que nos cumpre viver, independentemente da maior ou menor importância que esses tenham para a humanidade, para a civilização, para o mundo ou para quem seja…
Entregarmo-nos plenamente, com “ganas”, com dedicação, com perfeccionismo, ao que sucede, a cada acção que iniciamos, a cada tarefa que desempenhamos, a cada missão que cumprimos, seja ela qual for e para o que for, é viver e animar o tempo.
Se na “casa da partida” de cada “jogo da glória” que jogarmos evitarmos as avaliações da respectiva importância, as comparações com outros jogos, concentrando-nos no momento, no jogo em si, entregando-nos com ânimo, empenho, lealdade e vontade de fazer e fazer bem, com ansiedade de o desfrutarmos, com ilusão, venceremos então o tempo, porque seremos nós a passar por ele e não ele a passar por nós. Estaremos, como disse, a cavalgar nos ponteiros do relógio.
Não é despicienda nem inconsequente esta atitude de concentração, de foco, de sublimação no que acontece agora e em que participemos.
Desde logo, esta atitude constitui um proveitoso e eficaz critério para seleccionarmos o que fazemos, marcarmos a nossa “agenda”, já que, conscientes da nossa entrega e empenho naquilo em que participarmos, recusaremos, por coerência, os eventos insusceptíveis de nos gerarem essa empenhada participação (recusa por objecção de ânimo).
Pela mesma ordem de razões, por essa atitude, aquilo em que participarmos ganha quantitativa e qualitativamente, pois indiferença, ligeireza, negligência, leviandade, não são consentidas na nossa prestação. Detenho-me neste particular, porque o seu efeito prático é imenso. Basta pensarmos no quanto é diferente um relacionamento humano, mesmo circunstancial e aparentemente pouco relevante, quando vivido com a atitude de empenho e dedicação, versus a displicência de ser um passatempo.
A importância de cada acto actual ser o centro do mundo (do meu mundo), com indiferença à sua importância objectiva relativa, é uma via para, e pelo menos, o aperfeiçoamento de cada um, já que é um exercício exigente de entrega, de dádiva aos outros, de partilha, de autenticidade, oportunidade de darmos o melhor e o máximo de nós próprios.
Mas, acima de tudo, esta atitude confere-nos paz, serenidade. Na valoração devida do nosso pequeno mundo e vivência plena desse, perdemos interesse e justificação na constante comparação com os outros, na permanente aferição da nossa importância, do nosso posicionamento no “ranking” e na tormentosa adivinhação do futuro que nos espera, em função do desempenho dos outros.
Cada dia tem em si um potencial de vida imenso, mesmo que preenchido por coisas objectivamente menores, mas essas são as maiores, porque são a nossa vida, e assim devem ser encaradas.
ATM
"Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
ResponderEliminarSê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas."
(Pablo Neruda)
Certo dia, Alguém Amigo e Especial disse numa roda de ouvintes, que escrevessemos no espelho do w.c. duas curtas frases e as lessemos cada manhã ao levantar:
-"sou ESPECIAL E ÚNICO.
-como vou tornar ESTE dia especial? "
A resposta está na acção, e não na reacção. SER .
Frequentemente é mais fácil escorregarmos para o reagir e deixar ser, do que para o Agir e Ser .
O Medo absorve-nos e aprisiona-nos se o deixarmos invadir e alastrar.
AMOR versus Medo.
Fechamos a carapaça , entregues ao casulo, num sofrer, de portas e janelas fechadas à Vida, em vez de abrirmos as portadas de par em par, respirarmos o ar conscientes e gratos por podermos escolher Ser.
E até a relva dá graça e cor ao caminho...
Atm,
ResponderEliminarEu já fico contente se o TEMPO, que passo com a minha família, meus amigos e por fim comigo, seja lembrado com carinho.
Pois, pela minha vida passaram muitos Heróis que não fizeram História na Humanidade, mas fizeram na minha, e eu todos os dias me empenho para ser o Herói, nas vidas dos meus.
Às vezes os Tempos menos produtivos do nosso ser, servem para sermos daqui a um bocado, o Cálice da Vida para aqueles que fazem parte do nosso Mundo.
Quem nos ama escreve muitas vezes o nosso nome nas areias do dia-a- dia, e não existe imagem mais bonita do que um Sol a deitar-se atrás da linha do Orizonte, e a águas levarem o nosso nome, para se deitar com ele, ao pé de Deus por uma noite.
Estou no seu banco à espera da semana que vem.....
ATM
ResponderEliminarTodos nós temos um potencial de vida imenso. A nossa arte está também em conseguir ajudar o outro a descobrir o seu potencial e a encontrar as soluções dentro de si, socorrendo-se dos recursos a que tem acesso.Assim as nossas pegadas nunca serão apagadas pela dança da maré. Volte sempre