10 maio 2009

Pensamentos dos dias que correm



Há dias aziagos.
Há ideias e decisões que nos povoam a mente durante alguns dias: um pensamento que se quer partilhar, um propósito que é preciso fazer, algo que é necessário dizer.
Medita-se sobre a melhor forma, o timing correcto, as palavras certas. Tudo em nome da eficácia e dos princípios que nos norteiam.
All of a sudden, diriam os ingleses, há um ligeiríssimo desalinhamento dos astros materializado em algo imprevisível, como se o meio-dia chegasse alguns minutos antes, como se o sol desaparecesse, não por trás da linha do horizonte, mas na vertical do nosso lugar, como se a água fervesse a 51º.
De repente, um minúsculo grão de areia deita por terra os pensamentos, as decisões, os propósitos, a noção de tempo exacto.
De repente, tudo em nós se desarticula, range num esforço de máquina forçada, estrebucha como criança que luta contra a sesta benfazeja.
De repente, já não somos nós, mas alguém que, cá dentro, revela o pior que todos temos: a escuridão, o frio, o mal. Elementos que não existem por si, mas pela ausência do seu inverso.
Alguns dos que me lêem sabem do que falo. Assim como sabem que há duas coisas que me pacificam interiormente. Uma é a música clássica bonita, aqui expressa nesta belíssima ária de Puccini. A outra...

Adeus, até ao meu regresso...

JdB

11 comentários:

  1. Esta ária é de facto de uma beleza excruciante; fechei os olhos, recostei-me, a mente perdeu-se por entre vales e montanhas, e eis que surge um riacho que me desce cara abaixo. JdB, para a próxima vez avise o seus leitores que se devem munir de um lenço, antes de iniciar viagem.
    bj

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  2. JdB,

    Como sabe eu leio sempre as suas crónicas, mas esta foi intrigante.
    Pelo que leio, o que o pacifica é:
    A Fé, a Família, a Vida, o Voluntariado, os Amigos, a leitura, a música.
    Será que acertei?
    Até para a semana.

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  3. Maf:ainda bem que gostou. Avisarei seguramente...

    Cris: coisa mais simples, mas andou perto. Escrever tambem descomprime, mesmo que intrigue. Obrigado pela visita

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Sim, JdB, como o compreendo.

    Toda a 'preparação' ou ensaio, toda a cautela ou respeito, toda a educação e amor, parecem desaparecer por passes mágicos, porque fervilham outras 'vontades' outras 'razões' que impulsiva e indomavelmente nos fecham o coração e nos abrem a boca...e (quase)tudo, mesmo o que não queremos jorra (sobretudo da forma que não queremos)

    depois...no espaço recatado que nos compete, mas não silêncio/paz interior,...depois da corrente passar, vem outra lavar, limpar, apaziguar nem que seja por minutos, breves momentos de redenção interior, de alívio ainda que convulso, de tréguas ainda que temporárias...
    e sim, sabe-me muito bem chorar...e ouvir música clássica...e voltar a enxugar a face desfeita e seguir em frente, na esperança de um novo dia na esperança de continuar a fazer por conseguir ser/fazer melhor.

    Músicas assim, arrebatam e arrebentam, mas sabem bem.

    Sagrados, são também estes, os momentos connosco e com o que de mais profundo nos absorve e envolve.

    Fique bem.

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  6. a: obrigado pela visita, estes momentos servem, de alguma forma como o comentários ao evangelho de hoje, para mostrar a nossa fragilidade. De facto, até nestas "coisas" vemos o pouco que dominamos. Vem depois a bonança, e a certeza de que aprendemos alguma coisa.

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  7. Continue a escrever enquanto ouve música...
    Beijinhos

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  8. a música clássica e a outra... boa forma de se pedir desculpa. Uma nota, porém... talvez a mensagem não chegue lá. Quem o conhece sabe, e muito bem!

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  9. Anónimo: obrigado pela visita. Quem me conhece sabe; quem não me conhece é-lhe indiferente. Chegar ou não chegar ao destino, qualquer que ele seja, pode ser irrelevante. Às vezes partir é já em si bastante.

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  10. JdB, partir sem destino, recolhendo, aqui e ali,restos de felicidade e, apenas, aqueles que o nosso comodismo permite. Partir sem destino, sem destinatário, sem objectivos, pode ser perigoso. Isto porque há "Elementos que não existem por si, mas pela ausência do seu inverso" e na falta de alternativas satisfatórias e excitantes , escolhe-se o que está à mão. Pior ainda, o mal menor.
    É triste.
    Não será melhor partir e tentar chegar a algum lado? Assim, quando decidimos fazer qualquer coisa, nem que seja escolher um amigo para tomar café, que seja pelo prazer de estar com esse amigo e não pela necessidade de partir e de colmatar a angústia provocada pela ausência de um qualquer outro.
    Ele há dias...
    mas não há dúvidas que a música é pacificadora, acima de tudo, libertadora.
    Boa escolha.

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  11. Ana: obrigado pela sua visita. A vida é "traiçoeira", sabe? Há males menores que se transformam em bens grandes; há amizades que nascem de desencontros encontrados. E, se perguntar ao poeta espanhol, ele dir-lhe-á mais ou menos isto: caminhante, não há caminho. O caminho faz-se a caminhar. Há um trecho do livro do Eclesiastes que também dá boas pistas...

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