18 junho 2009

A História de um Chapéu (parte I)

Era uma vez um chapéu. Um chapéu normal. Preto com abas largas. Não era tão imponente como uma cartola, mas também tinha mais carácter que um simples chapéu de côco. Este chapéu estava gasto e usado. Já tinha visto muitos anos e passado por muitas cabeças. Já estava um bocadinho desbotado e as suas costuras já tinham visto melhores dias. É preciso ver que este chapéu já tinha muitos anos. Já tinha sido testemunha de revoluções e ditaduras, de casamentos e divórcios. Já tinha passado por gerações e gerações que via todos os dias caminharem para o seu fim. Pode se dizer que este chapéu teria muitas coisas para contar. Oxalá os chapéus falassem. Teria tantas histórias... E que histórias! Histórias de coragem, amor e tristeza. Histórias para rir e histórias mais sérias. Histórias boas e histórias menos boas... Mas esta história não é sobre todas essas histórias. Esta história é a história de um chapéu. Um chapéu de aba preta, muito velho e usado.

Este chapéu, o chapéu do Avô Fausto como lhe chamavam os netos, estava na família há anos e anos sem fim. Já ninguém se lembrava bem de onde vinha, nem como tinha vindo. Mas o que todos sabiam era que o Avô Fausto não ia a lado nenhum sem ele. Passava os dias sempre com o seu chapéu. Os seus amigos e filhos até gozavam com ele. Mas ele não queria saber. Gostava do chapéu e pronto! Era prático, confortável, dava com tudo e não era como esses chapéus novos, muito pomposos e cheios de pretensiosismos. Enfim, o Avô e o seu chapéu eram famosos entre a família e amigos.

O Avô, tal como o seu chapéu, já estava muito velhinho. O tempo foi passando e passando até que chegou a sua hora. O Avô partiu mas o chapéu ficou. Ao fim de tantos anos o chápeu era atirado para dentro de uma caixa de cartão como se de uma simples peça de roupa se tratasse. Fechado num armário não voltaria a ver a luz do dia por muitos e muitos anos.

E passaram-se os anos. Primeiro um, depois outro, finalmente já tinham passado 20 anos quando o armário foi aberto. Qual não foi o espanto de todos quando ao abrirem uma caixa velha e coberta de pó encontraram lá dentro o chapéu! Todos se lembravam tão bem. Nessa noite sentaram-se à mesa (com o chapéu), a contar histórias sobre o Avô. Tantas contaram que os mais novos adormeceram à mesa. E foi aí que o neto mais velho, que já tinha casamento marcado, pediu aos pais para guardar o chapéu do Avô de quem gostava muito. Todos concordaram...

Qual não foi o espanto de toda a gente quando este neto brincalhão apareceu no seu próprio casamento com o chapéu do Avô na cabeça! Todos os primos se riram, todos os tios gostaram, todos os convidados comentaram e até aquela tia mais velhinha e taralhoca o confundiu com o seu Avô. Não podia ter feito maior sucesso. Depois do casório o chapéu acompanhou-o para a festa. E foi aí que ele brilhou. Foi a alma da festa! Tudo e todos queriam experimentar o chapéu do Avô Fausto. Dançavam com ele, comiam com ele, houve mesmo um parzinho que tentou fugir com o chapéu para um cantinho mais escuro.

(continua)

BG

6 comentários:

  1. Fico à espera da continuação do relato da vida do chapéu do Avô Fausto. Pela amostra, deve ser uma vida bem vivida! Obrigada BG. Nunca o vi por aqui, pois não?
    pcp

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  2. Se fosses um chapéu Bernardo, eras de certeza o chapéu do avô Fausto. Um chapéu que fica para sempre. I'm very proud of you. Um beijinho do tamanho dos anos que o chapéu viveu. T.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. De facto é a minha primeira vez. Mas a continuação está para breve. Muito obrigado pelos comentários. Tenho a certeza que o chapéu também agradece.

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  5. Bernardo,

    Também espero pela continuação.

    Quando comecei a ler, pensei logo:
    - O chapéu do Avô Fausto, deveria ter partido com ele, mas....
    Com a continuação, senti que o Avô, continua a desenrolar o seu papel de "Pater Familia".

    Até à 2ª. parte, Parabéns.

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  6. É verdade cris. Estou curioso para saber o que acha da segunda parte.

    Obrigado pelo comentário.

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