Foi aí que comecei a reparar mais neste estranho chapéu... Era como se ele tivesse uma vida própria. Saltava de pessoa para pessoa com uma graça e precisão que me deu que pensar... Comecei a dar atenção quando o padrinho de casamento resolveu fazer um brinde. Pôs-se de pé, arrancou o chapéu ao noivo e pousando-o na cabeça pediu a atenção de todos. O padrinho era um tipo engraçado. Vistaço, era mesmo o estéreotipo do eterno solteirão. De copo na mão falava sobre tudo o que tinha feito com o noivo, de todas as suas conquistas e de todas aquelas coisas que se dizem nestas alturas para nos envergonhar. Sentadas na ponta da mesa estavam um grupo de raparigas que lhe faziam olhinhos. Já tinha namorado todas. E hoje estava confiante que arranjaria uma diferente. Mas apesar de todas as mulheres, bebedeiras, aventuras e histórias que tinha para contar este padrinho estava muito infeliz. Porque é que não podia ser ele ali sentado a ouvir os seus amigos a contar histórias sobre ele? Porque é que não podia ser ele que finalmente encontrava as mulher da sua vida? Naaa... Estava muito melhor assim. Sem mulher e preocupações. Em vez de uma que o prendia, tinha várias diferentes que lutavam por ele. Isso sim era vida...
Nisto levanta-se o sogro. E também ele tira o chapéu para si e coloca-o na cabeça. O sogro naqueles longos discursos enfadonhos e cheios de significado que só os sogros sabem fazer, falava muito sobre o seu eterno amor com a sua mulher. O que é curioso é que tanto ele como a sua mulher eram os dois infelizes. Aparentemente tinham tudo. Uma filha bonita que agora se casava, o amor um do outro. De que mais precisavam? Secretamento ambos desejavam espaço para respirar. Descanso um do outro. Mas o medo de se perderem era tanto que se agarravam com unhas e dentes e não se largavam à coisa de 25 anos... Já nem sequer era um casamento saudável.
Depois do seu discurso o sogro arrastou a sua enorme barriga de volta para o seu lugar e deixou o chapéu do Avô Fausto em cima da mesa. Nisto aparece um sujeito com um ar esquisito e põe o chapéu na cabeça. Avança para o microfone e também ele começa a falar. Era um dos primos mais afastados. Daqueles que nunca ninguém se lembra bem do nome. Nem ele próprio sabia muito bem o que estava ali a fazer... Mas a sua mãe, coitadinha estava doente em casa, pedira-lhe para ler umas palavritas. E assim lá foi ele. Meio encolhido e envergonhado, sempre a sentir-se um bocado a mais. Verdade seja dita, ninguém ligou nenhuma ao que tinha a dizer. Mas ele fez a vontade de sua mãe, e meio desorientado tentou encontrar outra vez o caminho de volta para a sua mesa.
E assim se passou o jantar, os brindes e o bolo. Estava na hora da dança. O chapéu continuava a saltar animadamente de convidado para convidado. Até já havia um primo da noiva que se declarava à prima do noivo com o chapéu na cabeça. Ai se o Avô tivesse visto isto... Ele de joelhos muito corado, dizia-lhe o quanto gostava dela. E para seu próprio espanto ela pregou-lhe um beijo e arrastou-o para a pista de dança. Era a última vez que ele se declararia a alguém. Mal sabia na altura que ela era a mulher da sua vida. Que iria casar e ter uma batelada de crianças com ela. Mas era normal. Já estava a entrar na idade de arranjar alguém a sério...
(continua)
BG
O chapéu podia escrever um blog, tal como este. Tantas coisas tem o tal chapéu para contar...
ResponderEliminara sua escrita tem um ritmo giro, leve, alegre. espero pelas novas aventuras do chapéu ...pcp
ResponderEliminarBernardo,
ResponderEliminarQue família, que festa de casamento.
o Avô Fausto, deve ter sido o máximo, pois, mesmo através do seu chapéu, consegue impôr a sua presença, despertar emoções, incutir respeito.
A imagem de marca do Avõ, é o seu chapéu. Espero ter mais histórias do Avô e do Chapéu.
Agora penso eu, que "chapéu" havemos de deixar, para as gerações seguites?
Qual vai ser a nossa imagem de marca....
Vou pensar qual vai ser a minha!...
Talvez escolha uma coisa sem valor material, pois ainda "vou acabar", à venda, numa qualquer casa de penhores.
Estou a adorar a sua escrita soft,
mas com um conteudo muito bom.
Temos escritor, que bom......
Até para a semana.....
BG, é caso para dizer : Se o Meu Chapéu Falasse !
ResponderEliminarAté para a semana .
Obrigado por todos os comentários. Peço desculpa de não ter respondido antes mas estive sem Internet nestes últimos dias.
ResponderEliminarMuito obrigado pelos elogios que me dão confiança para continuar a escrever histórias como a do Chapéu.
Até quinta-feira.