Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico.
Olho para a semana que passou com a mesma intensidade com que olho para a que agora entra. Nem tudo me é indiferente, mas a vida forçou-me a relativizar as coisas, os dramas, os problemas. Deus queira que seja diferente com as alegrias, e eu consiga manter o olhar de contentamento espantado para o que de bom me acontece, como se fosse uma criança a quem oferecem um gelado surpreendente no calor do Verão.
Nunca me conseguirei habituar à modernidade do viver o dia a dia, como se a eternidade se resumisse às próximas vinte e quatro horas. Preciso de objectivos, projectos, lutas, pensamentos que se lançam para lá do comezinho (digo eu...) do dia de hoje. É este, também, o reverso de uma medalha que me oferece tempo, um dos bens mais escassos da nossa modernidade.
Em muitos aspectos da minha vida atento no que está por diante e vejo uma parede que se ergue intransponível. Há assuntos que nos esmagam, futuros que se adensam, luzes que se apagam. Tenho dificuldade em encontrar sentido para muitas coisas, não vislumbro o sossego de quem acredita que tudo tem um motivo para acontecer. Cada um tem a sua cegueira, esta será a minha.
Ontem, pessoa a quem me liga uma amizade militante falava-me de equilíbrio e aceitação perante os temporais que nos assolam. Olho-me ao espelho e sou tentado pelo pecado da vaidade: independentemente de tudo o que me aconteceu (fosse ou não responsabilidade minha) há uma paz que me invade, impedindo a entrada de raivas, azedumes, rancores. Há um sentimento de libertação e despojamento que pode ser difícil de explicar. Estou certo de que a Fé e a espiritualidade me têm ajudado fortemente, mais ainda do que posso descrever em palavras.
Leio o Evangelho de hoje e retenho, como sempre, um ou dois pormenores que me tocam particularmente. Escolho a imposição das mãos. Talvez não seja o mais importante, mas traz-me lembranças fortes e marcantes.
EVANGELHO – Mc 6,1-6
Naquele tempo,
Jesus dirigiu-Se à sua terra
e os discípulos acompanharam-n’O.
Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga.
Os numerosos ouvintes estavam admirados e diziam:
«De onde Lhe vem tudo isto?
Que sabedoria é esta que Lhe foi dada
e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?
Não é ele o carpinteiro, Filho de Maria,
e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
E não estão as suas irmãs aqui entre nós?»
E ficavam perplexos a seu respeito.
Jesus disse-lhes:
«Um profeta só é desprezado na sua terra,
entre os seus parentes e em sua casa».
E não podia ali fazer qualquer milagre;
apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos.
Estava admirado com a falta de fé daquela gente.
E percorria as aldeias dos arredores, ensinando.
JdB
JdB, todos os domingos leio os seus posts com devota atenção e satisfação. Hoje, você surpreendeu-me quando diz não ter o sossego dos que acreditam que tudo tem um motivo para acontecer. Logo você! Você não acredita nos pequenos milagres da vida ? Você que, todos os domingos, nos lança uma ideia, uma semente, um sentimento que nos acompanha durante a semana. Você que acredita na vida depois da morte, que não esquece a sua condição de católico, você que cai e se levanta ainda mais forte ! Deixe-me dizer-lhe, sim, tudo acontece com um propósito; o que se passa é que esse propósito está, muitas vezes, para lá da nossa compreensão, do nosso entendimento; queremos racionalizá-lo, queremos tirar-lhe a prova dos nove, mostrá-lo orgulhosamente a toda a gente ... "vede, eis o meu propósito, eu sou alguém importante, eu sei o que quero da vida, etc.. etc.." Mas quanto mais nos julgamos em controlo das nossas vidas, mais a perdemos. Quanto mais coragem tivermos para a ir entregando, acreditando que tudo acontece por um motivo, mais a enriquecemos. Olhe, se tiver pachorra leia Chopra em 'The Spontaneous Fulfillment of Desire' (ou a versão portuguesa cujo título não me lembro). Bj e bom domingo.
ResponderEliminarJdB,
ResponderEliminarFaço minhas as palavras da maf, ela que me desculpe.
Não o conheço, pessoalmente, mas todos os Domingos, faz a minha
Missa, pois, confesso que não vou à Casa de Deus, regularmente.
Permita-me que lhe aconselhe também um livro.
Comecei a lê-lo ontem, e confesso que estou a adorar, é uma história verdadeira.
Um doente com E.L.A, dá-nos uma lição de vida ou antes será de morte?
O livro chama-se -Terças com Morrie".
Até para a semana.....
Cris, maf: obrigado pela vossa visita.
ResponderEliminarAcredito piamente que de tudo podemos e devemos tirar um ensinamento. De todas os vendavais que nos assolam podemos retirar um potencial sentido para a vida: um grande amor, uma grande obra, um grande sofrimento.
Tenho mais dúvidas em acreditar que há um propósito para tudo, porque isso seria, de alguma forma, acreditar no determinismo, acreditar que as coisas estão, de alguma coisa definidas previamente nas nossas vidas. Não acredito piamente nisso...
E continuo a não encontrar propósito nenhum para algumas coisas que me acontecem, embora tudo se possa "manipular" encontrando encadeamentos de eventos surpreendentes...
Bom sinal ter sublinhado a imposição das mãos, continua a acreditar no "sopro", na força do espírito para mover montanhas e para dar sentido ao "nonsense" das nossas vidas.
ResponderEliminarBeijinhos