18 agosto 2009

Pensamentos dos dias que correm

Das ocorrências indesejadas, falando de maneira genérica, algumas acarretam naturalmente dor e vexação, mas, na maior parte dos casos, é falsa a noção que nos habituou a nos enfadarmos com elas. Como específico contra este tipo de ocorrência, é conveniente ter à mão um dito de Menandro: «Nada te aconteceu de facto enquanto não te importares muito com o ocorrido». Isso quer dizer que não há motivo para o teu corpo e a tua alma se mostrarem afectados se, por exemplo, o teu pai é de baixa extracção, a tua mulher cometeu adultério, tu mesmo te viste privado de alguma coroa honorífica ou privilégio especial, pois nada disso te impede de prosperar de corpo ou alma.

Para a primeira categoria - doenças, privações, a morte de amigos ou filhos -, que parece acarretar naturalmente dor e vexação, esta linha de Eurípedes deve estar à mão: "Ai! por que ai? É o quinhão da mortalidade que nos coube". Nenhum outro argumento lógico pode romper de forma tão efectiva a espiral descendente das nossas emoções, do que a reflexão de que somente através da compulsão comum da Natureza, um dos elementos da sua constituição física, é que o homem se torna vulnerável à Fortuna; nos seus aspectos principais e essenciais, permanece seguro.

Plutarco, in 'Do Contentamento'

2 comentários:

  1. Ai JdB, isto está duma erudição ! Já ontem não percebi nada, hoje então, acho que vou chorar para um cantinho, lamentando a minha incapacidade de comprensão das coisas. Quer traduzir? Bjo

    ResponderEliminar
  2. Que espectáculo, JdB. So simple. And so difficult! I'm in awe... pcp

    ResponderEliminar

Acerca de mim