Gosto imenso de duetos. Hoje trago-vos um que descobri recentemente e que reúne alguns ingredientes que me agradam particularmente. É melódico, tem um ritmo que me encanta, é maravilhosamente interpretado e transmite genuína alegria e prazer no fazer/cantar música. Tem como figuras centrais Zucchero, um italiano com uma voz inconfundível, e Cheb Mami, um músico de origem argelina que, entre outros, colaborou também com o Sting (ver vídeo do Desert Rose). A meu ver, formam um dueto muito conseguido e harmonioso, particularmente interessante pelo facto de possuírem vozes tão marcadamente “nacionais”. Com “nacionais” quero dizer típicas dos respectivos países. Os italianos tendem a cantar com vozes baixas, roucas, muitas vezes anasaladas, sempre envolventes e sensuais. É o típico caso do Zucchero. Os árabes, do pouco ou nada que conheço, parecem-me ter vozes de timbre mais fino, por vezes pouco masculinas (espero que não haja argelinos, sauditas, iranianos e por aí fora a lerem-me!), adequadas a canções (contemporâneas) ainda muito enraizadas na tradição musical destes países. É claro que estou a fazer uma generalização quando caracterizo as vozes dos italianos e dos árabes. É um pouco como dizer que todas as escandinavas são longilíneas e loiras, que os alemães são todos avantajados e corados e os italianos, na sua maioria, lindos de morrer. Não é assim, claro! Mas pronto, as generalizações também têm o seu papel …
Não consigo deixar de fazer referência, também, ao prazer óbvio que emana destas interpretações. Aliás, como de milhares e milhares e milhares de outras. A música tem, a meu ver, esse atractivo incomparável quando colocada ao lado das outras grandes Artes: a sua incorporalidade toca a alma como nenhuma outra, transmitindo-lhe alegria, raiva, sofrimento, amor, sentido do divino numa questão de acordes. E tem qualquer coisa de gratuito, no sentido de generoso, de dádiva. A sua existência transforma a nossa própria Existência, conferindo-lhe dimensões, cores, se quiserem, que nos fazem “voar” para além da própria realidade. Neste momento, atravessou-me o espírito a imagem da Pietá do Michelangelo … a Escultura (a meu ver mais do que a Pintura), talvez pelo aspecto oposto, ou seja pela sua corporalidade, tem também esta capacidade de nos “transportar” … mas não é a mesma coisa …
É essa alegria, esse gozo espontâneo de que falava, que se encontram estampados neste vídeo. Os sorrisos, a linguagem corporal, os olhares cúmplices dizem tudo. E o acompanhamento das duas lindíssimas e pujantes back vocals? É impossível olhar para elas e não admirar a força da sua presença, a confiança que emanam, o poder da sua voz, o seu extraordinário cabelo afro e generosas proporções que, neste contexto, resultam quase que magnéticas …
Reúnem-se, nesta canção, 3 tradições, 3 línguas e 3 formas de estar completamente distintas: a italiana, a árabe e a negra/americana. Querem combinação mais exótica e estimulante?
pcp
Bem giro PCP. Obrigada.
ResponderEliminarNão sei porquê faz-me lembrar Daniel Barenboim que esteve aqui em Lisboa há umas semanas também para o lançamento do livro 'Está tudo ligado'. Deu uma conferência muito interessante sobre a relação da música com a vida (na perspectiva dele, Baremboim). Depois autografou livros e eu lá fui com os dois que tinha comprado. Deixei passar as pessoas, fiquei a conversar, e dpois lá me apresentei com dois livros. Ele não gostou (depois de autografar centenas aparece uma com dois...) e eu disse-lhe 'Only three more to go...) ele riu-se, autografou e ficámos assim. O livro é interessante, sem dúvida e lê-se ràpidamente.
Excelente música!
ResponderEliminarfq
Obrigada aos dois pelas vossas contribuições. O "está tudo ligado" faz imenso sentido para mim. É um conceito oriental, do que sei, mas muito verdadeiro. Obrigada pela ideia... pcp
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