14 janeiro 2010

Deixa-me rir...

Desculpem-me os fãs do PO, mas desta vez sou eu outra vez … o PO está super ocupado esta semana…
Duas versões da mesma canção: Pretty Woman. Uma, a clássica, cantada pelo Roy Orbison. Performance sóbria, voz inconfundível. Confesso que não sou apreciadora. O timbre de voz dele irrita-me. Ou seja, o que me fez escolher esta canção foi precisamente a segunda versão que aqui apresento: a mesma música cantada no contexto de um filme indiano.
Já há uns tempos que me apetecia postar qualquer coisa que tivesse a ver com a Índia. Mas a música indiana é muito diferente da nossa e tenho tido algum receio de não agradar aos ilustres visitadores do Adeus … Mas desta vez não resisti. O Youtube presenteou-me com este vídeo que é o retrato vivo de algumas das infinitas facetas do meu país preferido.
Começa por ser um vídeo que tem a ver com a diversão mais popular na Índia: o cinema. Bollywood e a sua produção de filmes a metro são sobejamente conhecidos. Quem souber um bocadinho sobre esta Meca do cinema indiano sabe que os actores têm de saber cantar e que a música e a dança são elementos essenciais em todos os filmes. As coreografias são invulgarmente precisas (talvez não particularmente criativas!) e dão cartas, a meu ver, a ballets ocidentais (ainda recentemente vi um na Royal Opera House, em Londres, que deixava muito a desejar do ponto de vista de coordenação do corpo de baile). A linguagem gestual, que só pode vir na linha da antiga tradição teatral indiana, é toda ela extremamente expressiva (e excessiva), e muito baseada na articulação de braços, mãos, olhos, pescoço, coluna, ancas … o corpo move-se com uma imensa flexibilidade, numa linguagem rica de significados, que vai muito para além dos diálogos (que não são o forte de Bollywood).
São filmes com finais felizes na sua esmagadora maioria. Há sempre vilões e damas inocentes, sudras e brâmanes, lutas fratricidas e demónios à solta em templos dedicados a serpentes… mas acaba sempre tudo em bem. Acho graça a este aspecto muito romantizado do cinema indiano. Tenho-me perguntado a razão de ser deste romantismo, deste lirismo tão em desuso no mundo ocidental. A meu ver, é capaz de ter a ver com uma espécie de sublimação da realidade vivida no dia-a-dia. Toda a gente sabe que a Índia é constituída por uma massa humana de milhões e milhões de seres que vivem abaixo do limiar da pobreza, e que todos os dias vendem a sua saúde e a sua longevidade a troco de umas míseras rupias. Esquecer, durante 2 horas, esta miséria, o trânsito caótico, a poluição, a doença crónica, o fantasma da pobreza, o ostracismo, a semana 7/7, a quase ruína que significa dar um dote às filhas casadoiras, é o que se pretende. Para tragédias, já basta a vida … no dizer popular português…
O personagem central deste vídeo é Shahrukh Khan, um dos sex symbols do cinema mainstream indiano. Não é grande actor, não tem grande versatilidade, mas é bonitão, canta, dança, é expressivo, tornou-se muito popular (o que na Índia raia a “divinização”) e está multi-milionário.
Tudo isto é kitsch para o nosso gosto. Mas é tão divertido, alegre e elucidativo do género de filmes que Bollywood também faz (porque, na sua esmagadora maioria, são dedicados ao consumo “interno” e das suas comunidades no exterior – e consequentemente muito impenetráveis), que resolvi incluí-lo nesta rubrica.
Ah, esqueci-me de dizer que qualquer filme de Bollywood que aspire a uma certa “sofisticação” (ou talvez internacionalização?) tem obrigatoriamente de conter elementos ocidentais... é o caso. Uma exuberante mistura de cultura indiana com fortíssimas pinceladas da América. Have fun.




pcp

6 comentários:

  1. Bur asyv Konkani PCP
    Óptima maneira de iniciar este dia chuvoso!B deA

    ResponderEliminar
  2. Bur asyv Konkani PCP
    Óptima maneira de iniciar este dia chuvoso!B deA

    ResponderEliminar
  3. Bur asyv Konkani PCP
    Óptima maneira de iniciar este dia chuvoso!B deA

    ResponderEliminar
  4. A palavra "Obrigada" não existe em hindi, deA, sorry.

    Mas aqui vai uma explicação interessante, para quem gosta de linguística e de fonética/sons - eu adoro sons! - sobre palavras mais ou menos equivalentes:

    Shukriyah é uma expressão mais usada por Muçulmanos no Norte da Índia e deriva do Urdu. Também se usa no Paquistão.

    Dhanyavad é usado em toda a India, sobretudo por Hindus e deriva do Sânscrito. Dhanya quer dizer blessed.

    Por isso, Shukriyah ou Dhanyavad para ti. pcp

    ResponderEliminar
  5. Fantástico !!! Um ritmo e uma alegria esfusiante, prefiro a versão indiana. Quem dera aos portugueses transmitir toda esta alegria.
    Maravilhoso texto !!!
    Parabéns pcp

    ResponderEliminar

Acerca de mim