05 fevereiro 2010

raquel e jacob

(sete anos serviu jacob, no encalço de raquel)

que não há cura para o amor já o sabíamos,
muitos antes de lermos velhos e novos filósofos,
nessas tardes de lua vaga e sol rasteiro.

que não há cura para nós próprios também,
antes mesmo de nos enfiarmos bancos adentro,
em lúgubres cinemas de final de tarde.

(sete anos raquel serviu, à espera de jacob)

que não há cura para a vida senão a derradeira
era tudo o que concluíramos,
depois, tanto depois,
de pestanas queimadas,
de viagens em desvario,
de um tropel de emoções baratas,
da pirotecnia moderna,
de uma souplesse fingida, digamos assim.

(setenta vezes sete anos serviria jacob
setenta vezes sete anos esperaria raquel,
sem filósofos à cabeceira,
sem o cheiro acre dos cinemas de bairro,
sem viagens low cost,
sem baços cursos universitários,
sem ciência ou belas-artes)

dizei-me raquel,
dizei-me jacob:

em que lugar procurar-vos em mim?

escutai-me jacob,
escutai-me raquel:

como salvar o coração em chamas?


gi.

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