30 março 2010

Jardim das Oliveiras

Foi chamado ao templo pelos doutores da lei. Pediram-lhe que entregasse aquele a quem chamava de Mestre. Em troca, receberia trinta moedas de prata. Era esse o preço da traição. Uma bolsa cheia em troca de uma vida.

Deram-lhe três dias para dar uma resposta. Era o tempo que faltava até à madrugada antes da Páscoa. Tinham medo que o povo se revoltasse quando o prendessem, por isso preferiam fazê-lo de noite, quando todos dormissem.

Por um lado pesava-lhe o facto de entregar um homem justo. Sabia o que o esperava, e não via nele razão para uma morte tão demorada e dolorosa.

Por outro lado, já há algum tempo que certas dúvidas o preocupavam. De que outro modo poderiam ter a terra prometida, de que ele tanto lhes falara, se não derrotando os romanos que estavam no poder? Se ele se intitulava rei, onde estavam as suas riquezas? Onde estavam os exércitos prontos a combater e a recuperar a terra que lhes pertencia? Porque perdia tanto tempo a pregar, quando poderia estar a preparar a batalha?

Chegou, por fim, à conclusão de que este não era o profeta que tanto esperava. E sentiu-se desiludido. Mais que isso, sentiu-se traído. Tinha depositado todas as suas esperanças neste homem a quem chamavam messias. Todas em vão. Isto, juntamente com as trinta moedas, era suficiente para o entregar.

Levou os doutores da lei até ao Jardim das Oliveiras. Sabia que o encontraria aí, a rezar. Quando lá chegou viu-o de pé, no meio de alguns discípulos que, tal como o povo, também dormiam. Parecia ter envelhecido vários anos desde a última vez que o tinha visto, na ceia dessa noite. Tinha os olhos inchados e os traços do rosto vincados pela angústia. Dirigiu-se a ele para cumprir o que tinha sido acordado.

'Judas, é com um beijo que entregas o filho do homem?'

SdB (III)

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