certos jogos semânticos
lembram-me os fogos fátuos
da infância, portas de cemitérios,
o anúncio inclemente aos vivos
de que a sua hora
chegará.
por exemplo, um homem.
um homem ao sol, segurando
um jornal - de ontem e de amanhã -,
enquanto dóceis cãezinhos coloridos
dão cor e vida - e um patusco sorriso -
ao quadro.
não sei se é desta teimosa neblina,
ou só desespero como diz alguém,
ali à esquina,
mas também a mim às vezes
mete nojo o que fazemos do amor
que fazemos.
as palavras são então
como catedrais esculpidas na pele
estátuas retalhadas a coração
e lápis de cor
um'outra forma de amor
- que sei eu?
repara no homem e nos cãezinhos
que lhe embalam a velhice.
diz-me: como posso sentir-me
mais perto do homem que dos amigos?
mais perto dos cãezinhos que do homem?
mais perto de ti do que de mim?
talvez sim, talvez não.
entretanto mergulho fundo no dia,
e finjo ser o que é possível
- como o meu nome:
que sabemos tão bem ser gi,
mas fingimos ser joão.
gi.
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