A crónica dominical de hoje foi escrita sob o signo da ligeireza. Talvez tenha sido um erro, porque o tema de hoje presta-se a considerações várias. Uma ligeiríssima achega, portanto.
Todos nós conheceremos a história que tem alegadamente Salazar com interlocutor. Alguém lhe terá falado numa família feliz. O estadista terá respondido: felizes? E já fizeram partilhas?
Para além desta história, todos nós conheceremos famílias desavindas que se entendiam como Deus e os anjos até que a correnteza de expressões morte, testamento, partilhas passa a fazer parto do léxico dos intervenientes. Nessa altura, infelizmente, vem ao de cima, como o azeite, o pior que temos em nós: a cobiça, a raiva, o sentimento erradamente apurado de justiça, a ganância. Numa fracção de instante tudo o que nos unia passa a ser factor de afastamento.
Por trás de tantas famílias voltadas de costas entre si está a ditadura dos bens materiais. Não se pretende que sejamos pobres, que sejamos patetas, que vivamos numa indigência humilhante e estéril. Pretende-se, apenas, que tenhamos uma visão equilibrado do que temos e do que podemos prescindir em nome de uma pacificação familiar.
Pretende-se, apenas, que não queiramos ter infinitamente mais do que precisamos, que não prejudiquemos a nossa estabilidade familiar por causa de critérios de imagem, de sinais exteriores de sucesso, de uma vergonha infantil de quem tem mais do que nós.
JdB
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarJoão, é verdade que várias das famílias «unidas» que conheci não resistiram a episódios de partilha de bens. Mas não estou certa de que tenha estado sempre em causa a ganância. Em muitos casos, o «bolo» a repartir resumia-se a um punhado de migalhas, o que me leva a pensar se a desavença não terá sido devida à tentação que alguns têm de enganar os outros; melhor dizendo, à tendência que alguns têm de julgar ou fazer dos outros parvos. O que, entre próximos, se torna, realmente, mais difícil de suportar. ;-)
ResponderEliminarBom dia. A minha familia (infelizmente) já passou pela fase das partilhas e talvez porque "Não Há Regra Sem excepção" não houve zangas, nem cobiças, nem traições. É verdade que o espólio não era grande coisa - as tais migalhas de que a Luisa fala - e várias pessoas comentaram: "Ah, se tivessem muito, haviam de ver !!" Mas mesmo assim, não sei ! Conscientes de que as partilhas podem destruir uma familia e temendo o exemplo de tantas, acho que nos empenhámos mesmo em partilhar, na verdadeira acepção da palavra :-) Correu bem e ainda bem. Prova que é possível. Uma boa semana para todos.
ResponderEliminarMaf
Luísa e Maf: obrigado pela vossa visita.
ResponderEliminarInfelizmente, o número e famílias desavindas pelas partilhas é superior ao das que não estão, diria eu. Confesso que a "ganância" me parece ser a faísca que acende o fogo da discórdia. Há quem tenha a ganância de um quadro do Columbano, há quem tenha a ganância de um prato feito há 50 anos. O importante, para esses, é que o outro não fique com mais do que eu.
Todos nós conhecemos, também, histórias felizes. Não resisto a contar uma que me garantem ser verdade, passada com familiares próximos. Decidiu-se que o espólio seria todo sorteado, para não haver injustiças. No entanto, os sorteios foram sendo repetidos até que o bem em questão coubesse - EM SORTE - àquele que tinha demonstrado vontade de o ter. Esses irmãos viveram felizes até ao fim da vida, o mesmo não acontecendo com os descendentes, que não terão seguido o mesmo figurino.