Cipriano observava, de longe, o Menino e os seus pais. Tinha os pés enterrados na neve mas não sentia frio. Na noite anterior, já deitado, ouvira alguém bater à porta da casa onde morava e escutara uma conversa murmurada, entre-dentes, entre o seu pai e aquele outro homem: “ ….. já batemos à porta de tanta gente ! nem a estalagem nos quis receber. não temos para onde ir… “ Percebeu que o seu próprio pai, a resmungos, acabou por ceder e indicou-lhes o estábulo. Cipriano manteve-se muito calado mas gravou na sua mente que amanhã logo de manhã iria ao estábulo ver quem estava.
Eram 6 da manhã e Cipriano espreitava, agora, o estábulo do pai. Cipriano tinha 5 anos e o que viu deixou-o fascinado. Perante os seus olhos desenrolava-se um bailado de cores e formas coloridas, brilhantes, como nunca antes tinha visto. Cada cor transmitia-lhe uma sensação de plena paz e alegria, cada forma deixava transparecer sentimentos de contentamento e euforia. Nunca, durante a sua curta vida, tinha Cipriano visto algo assim. O estábulo do pai, sempre tão escuro e sombrio, era um verdadeiro arco-iris. No centro do arco-iris, Cipriano viu três raios de luz dourada que se debruçavam para ele, como que a chamarem-no. A única vez que tinha visto a cor dourada, lembrava-se, foi quando, aos 3 anos de idade, caíra numa gruta com 8 metros de profundidade e a queda, como que por milagre, tinha sido amparada por uma luz dourada que o envolveu e poisou no chão com toda a suavidade. Cipriano é cego de nascença, mas não o sabe. Vive com os seus pais na montanha e para ele o mundo compõe-se de cores. Azul escuro quando mãe o chama para comer; amarelo quando vai tomar conta do rebanho; verde quando tem de ajudar o pai a plantar as batatas; branco quando a mãe o envolve com um abraço; vermelho quando o pai se zanga; a cada situação do seu dia-a-dia corresponde uma cor. Uma única cor, às vezes duas; mas nunca, nunca nada o tinha preparado para a explosão de cores que, nesse dia, via no estábulo do pai.
Aproximou-se mais da luz dourada que o chamava e estendeu a mão, com o indicador espetado. A Mãe do Menino percebeu, de imediato, que o rapaz era invisual e estranhou aquele gesto. Não percebeu porque razão o rapaz estendia a sua pequenina mão, tão segura, tão certeira na direcção do seu bebé. Estupefacta, viu o seu próprio Menino, que nem 24 horas de vida tinha, estender também o seu dedinho, seguro e certeiro, e uni-lo ao dedo do rapaz. Os dois permaneceram assim durante alguns segundos, dedo com dedo, como que a partilharem algo invisível. Cipriano sorria, os seus olhos, sem vida, brilhavam quase tanto como aquela estrela que, desde há dias, teimava em segui-los. A Senhora, habituada que estava já a viver coisas muito para além do seu entendimento, encolheu os ombros, sorriu para o marido fazendo-lhe sinal, com um dedo na boca, para que não dissesse nada.
Cipriano levantou-se e saiu. Foi aos seus afazeres. Nunca mais deixou de ver a luz dourada. A luz acompanhou-o pelo resto dos seus dias. Continuava a ver o azul, o verde, o amarelo, o castanho e todas as outras cores que definiam cada tarefa do seu dia, cada sentimento, cada decisão, cada hesitação, mas a partir daquele dia, todas essas cores passaram a ter um brilho dourado que o faziam lembrar o arco-iris que vira, naquela manhã, no estábulo do Pai.
Domingo, Se Fores à Missa ……… Procura a Luz Dourada !
Maf
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Depois de os Magos partirem, o Anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egipto e fica lá até que eu te diga, pois Herodes vai procurar o Menino para O matar». José levantou-se de noite, tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egipto e ficou lá até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciara pelo Profeta: «Do Egipto chamei o meu filho». Quando Herodes morreu, o Anjo apareceu em sonhos a José, no Egipto, e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e vai para a terra de Israel, pois aqueles que atentavam contra a vida do Menino já morreram». José levantou-se, tomou o Menino e sua Mãe e voltou para a terra de Israel. Mas, quando ouviu dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de seu pai, Herodes, teve receio de ir para lá. E, avisado em sonhos, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Assim se cumpriu o que fora anunciado pelos Profetas: «Há-de chamar-Se Nazareno».
Palavra da salvação.
Bom ano minha querida. Obrigada pelas ilustrações que me ajudam a entender, o que, por vezes, é tão duro de ler.
ResponderEliminarAcho que este foi um dos textos mais bonitos que jamais li aqui no Adeus... Obrigada, Maf. pcp
ResponderEliminarVer para quê? Quando fechamos os olhos e abrimos o coração, "vemos, ouvimos, sentimos" o que está dentro de nós....oramos...e acreditamos!
ResponderEliminarObrigada por este momento de fé e paz.
MJF
Continuação de BOAS-FESTAS Maf e obrigadíssima por este conto lindo, autêntico presente de Natal aos leitores do Adeus, MZ
ResponderEliminarobrigada, queridas leitoras, pelas palavras encorajadoras (às vezes pasmo quando realizo que alguém, de facto, lê estas lamechices que vou escrevendo):-)
ResponderEliminarUm óptimo Ano 2011 para todos os leitores, bloguistas e Mestre do Adeus.