No dia 22 de Dezembro mencionei um jantar em casa de pessoas que não conhecia mas que, estou certo, teve o propósito cósmico de me por a conversar com o anfitrião, pai de uma criança de cinco ou seis anos com leucemia. Ontem telefonou-me, na sequência de um projecto de angariação de fundos para estas crianças. A meio da conversa disse-me: não sei se sabe, mas o meu filho está em cuidados paliativos, já não fará o transplante. O murro atingiu-me o estômago, provocando uma dor que achava já não ser possível, passados tantos anos do que levei pela primeira vez. Confesso que me custou muito - muito mesmo - a passar. Como partilhava à noite com alguém que conhece a situação, uma coisa é sabermos que estas crianças desaparecem - e tudo isso já nos angustia. Outra é o próprio pai dizer-nos isso. A nós, que sabemos o que é, e que sabemos o que sente e vai passar quem nos contou.
Terei de ler e reler o texto que publico abaixo do Pe. Tolentino Mendonça e puxar de toda a minha memória para ter a certeza de que, apesar de todo o mal, Deus prega-nos partidas, permitindo que encontremos um sentido para tudo isto. Agora é reler o Evangelho, rezar para que quem parte o faça sem sofrimento, quem fica o faça com força e fixar a frase: bem aventurados os que choram...
JdB
JdB, o pesadelo da visão do sofrimento de quem gostamos e a chapada da irreversibilidade da sua partida, são doses demasiadamente violentas, para as quais dificilmente encontramos conforto.
ResponderEliminarÉ talvez o último parágrafo do texto do Pde. Tolentino que me sossega. A vida floresce porque fomos semeando, apesar de todos os sofrimentos e obstáculos que nos vão apanhando pelo caminho.
Boa semana.
Querido João,
ResponderEliminarObrigada por revelar aqui a dor deste pai, a mim dá-me a oportunidade de rezar por ele e assim, mesmo de longe, tentar ajudá-lo a suportar esse sofrimento tão devastador mas que pode também ser tão redentor...
Acredito porque já o vivi nas palavras do Tolentino:"a morte dos que amamos ainda pode gerar vida, no sentido de que não nos perdemos deles, mas continuamos a crescer e a maturar conjuntamente, só que de forma diferente".
Peço ao seu anjinho que o recomponha também a si de mais este choque.
Beijinhos e ânimo
Tem de ser esse o sentido do sofrimento: a transmutação de dores quase que insuportáveis em algo de mais elevado, qual processo alquímico incompreensível, misterioso. E a certeza de que quem parte ESTÁ VERDADEIRAMENTE BEM, acabou-se o seu sofrimento (e isso conta, tem de contar...). E que, apartir de agora, quem cá fica passa a ter um anjo e um intercessor no outro mundo. Um grande beijo para si, JdB.
ResponderEliminarObrigadíssima, JdB pela sua partilha tão aberta e fecunda, que nos permite "apanharmos" ecos do grande embate que apanhou directamente, sabendo bem do que se trata. De facto, só à luz da fé pode a vida do ser humano encontrar pleno sentido, mais ainda nos momentos misteriosos da dor e da Partida definitiva. Bjs, MZ
ResponderEliminarEstes «murros» relativizam todas as outras dores, João. Mas não alteram a minha convicção de que o mundo, ou foi mal concebido, ou mal executado, não sei...
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