Começo esta mini-micro-crónica sobre Buenos Aires com um cliché e um vídeo.
Cliché: Argentina, o país dos tangos.
Vídeo: País dos tangos? Assim seja. Posto aqui um abaixo para ser a banda sonora do texto.
Depois de uma viagem que, entre sair de casa e chegar, durou mais de 24 horas, 15 das quais passadas a tentar ver um filme num ecrã do tamanho do meu passaporte com o queixo apoiado nos joelhos, chego finalmente a Buenos Aires. Pensei que ainda teria uma semana calma e pacata antes de começar a segunda parte da viagem em 'modo descoberta', mas o trânsito da cidade fez com que a aventura começasse logo. Aqui, se existem regras de trânsito (o que não tenho a certeza), estas não se aplicam aos taxistas nem aos condutores de autocarros. Nenhum dos dois usa piscas, buzinam para informar que vão mudar de faixa. Quem tiver o azar de não se desviar a tempo é abalroado. As passadeiras têm como fim dar aos peões um sítio onde pode acontecer um atropelamento em massa, assim o impacto de um autocarro ou táxi é dividido por várias pessoas, e os ferimentos são menores.
Quanto à cidade em si, ia para lá com expectativas muito elevadas por tudo o que tinha lido e me tinham contado. Sim, em algumas zonas da cidade podíamos estar a passear por Madrid, Londres ou Paris. E sim, ali os bifes escrevem-se com B grande. Até ter entrado num restaurante chamado La Cabrera só tinha comido bifes com problemas de crescimento, ou anões, não sei bem. Nesse jantar suspeito que tenha comido o meu peso em Bife de Chorizo...
Penso que Buenos Aires terá sido a cidade maior onde já estive, o que implica muitas viagens de autocarro. E aqui levantou-se o primeiro problema. Cada percurso custa 1.25 pesos, e não se pode pagar com uma nota. Na Argentina inteira existe um problema grave de falta de moedas, portanto cada vez que nos calhava a sorte grande de termos um troco com moedas tínhamos de as guardar com a vida. Na pior das hipóteses, pode pedir-se a alguém se troca uma nota. Fiz isto uma vez e uma senhora trocou-me uma nota de 5 pesos por quatro moedas de 1 peso. Até nisto não há almoços grátis.
Uma coisa que reparei na semana que lá passei foi que em Buenos Aires existem dois deuses: o Carlos Gardel e o Maradona. Existem posters, pinturas e fotografias dos dois espalhados por toda a cidade. Se passarmos a pé pela zona do estádio do Boca Juniors, em cada parede temos o Maradona a chutar uma bola de futebol. Se formos a um restaurante ou a uma casa de tangos mais típicos temos o Carlos Gardel, sempre de chapéu, a olhar para a clientela com um ar melancólico. Não fui a uma casa de tango per se, mas sim a um armazém que tinha uma banda a tocar, populares com mais ou menos jeito a dançar e, nalguns dias, aulas gratuitas. E lá estava ele, com uma fotografia que ocupava quase uma parede inteira.
As primeiras vezes que passeei em Buenos Aires reparei que muitos homens se cumprimentavam de beijinho. Homens dos 8 aos 80 anos. Explicou-me alguém que vive lá que é costume que dois amigos se cumprimentem de beijinho e não de aperto-de-mão, sem que isto tenha qualquer tipo de conotação. Enfim, curiosidades...
Agora que a música chegou ao fim, posso realmente afirmar: Mi Buenos Aires Querido!
SdB (III)
Que humor delicioso! Ri-me com as descrições do seu périplo por Buenos Aires. Cidade, e país, que visitei em 1993 e de que guardo as melhores recordações. Lembro-me de ter adorado esta viagem (que incluiu sobretudo o Chile e também o Uruguai). Não há como os grandes espaços americanos! Talvez se possa dizer o mesmo de África (de outra forma). Belo texto. Obrigada. pcp
ResponderEliminarBoa, boa, SdB (III)! Que piadão de post!
ResponderEliminarÉ verdade, as capitais têm muitas semelhanças, muitas coisas parecidas. Às vezes é preciso gastar mais tempo para conseguir apanhar o que há de especial nos sítios onde estamos.
Aqui vai o meu pedido tardio, mas cheio de vontade. Espero mais episódios desta viagem invejável.
ResponderEliminarGardel, persegue-me e confesso que detesto. Aquela voz metálica gravada num registo arquipassado dum 78 rotações empenado. Leva-me ao suicídio. Prefiro Maradona, com seu ar seboso e vigoroso, libertando um pó branco a cada passagem de bola.
Boa semana SdBIII.