03 junho 2011

uma espécie de credo

"não é preciso muito para ser feliz",
disse-me, uma vez, um professor da escola primária.
lembro-me dele, todos os dias,
agora que, dobrados os trinta há tempo bastante,
percebi a arquitectura de mies van der rohe:
less can be more, stupid boy.
so much more.

por isso,
alimento-me frugalmente,
não venero deuses materiais,
poupo bastante energia,
habituei-me a viver com pouco:
pão quase ázimo,
café de saco,
palavras,
alguns discos,
não muitos filmes,
uns fatos de corte fino e antigo.
(só abuso do sal das memórias e do açúcar dos sonhos.)

vivo, por assim dizer, a quaresma que escolhi,
acredito na vida eterna e nas estrelas,
e na possibilidade de as flores poderem tomar o mundo.

algures entra aqui a pele de uma rapariga
e o rosto, e o rasto de resto.

tem que terminar o poema?
não pode..
e lavro aqui o meu protesto!

gi.

3 comentários:

  1. As últimas três linhas desiquilibraram o seu magnífico poema ... foi concerteza intencional... mas, de alguma forma, desiquilibrou a perfeição que se adivinhava... Obrigada, gi. pcp

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  2. Olá, pcp.
    Gentil e sagaz, sem dúvida.
    Mas o que é a 'perfeição'? Essa coisa cansativa e, por vezes, glacial?
    Tem inteira razão - com um bocadinho de coloquialismo, lá se foi o impoluto edifício. Antes assim.
    ;)
    Flores para si, leitora atenta.

    gi.

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  3. Não, a perfeição não é cansativa e glacial. Embora também possa ser... tal como chata e monótona! Mas eu não a vejo assim. Vejo a perfeição como o atingir dum patamar mais elevado, feito de um misto de espanto/revelação, em que o tempo pára e o único sentimento que perdura é o ... não sentir. Sou sua leitora atenta, sou. Desde a primeira hora. pcp

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