03 setembro 2011

23º Domingo do Tempo Comum



Erros fecundos
Crescemos numa saudável convivência com os nossos erros. Dos mais simples aos mais notáveis dos homens e mulheres não há quem não erre, sucedendo até, como dizia o P. António Vieira, que “nos grandes são mais avultados os erros, porque erram com grandeza e ignoram com presunção”. Educar para o perfeccionismo cultivando o medo de falhar é criar almas escrupulosas e mentes atrofiadas. Aquelas capazes de ver “o argueiro no olho do irmão” e não a “trave” no seu próprio olho, especializadas na letra da lei e não no seu espírito. Mas o contrário também é pernicioso: a desresponsabilização pessoal e social, o erro instituído em costume, o deixar de viver como se pensa passando a pensar como se vive.

Não estou aqui a fazer um elogio do erro mas, como dizia alguém, brincando, “a vida ficou bem mais interessante com aquela falta de Adão e Eva no paraíso”. Claro que não estava a referir-se à profundidade teológica do pecado original nem a querer ofender Santo Agostinho e logo juntou: “não se canta na noite de Páscoa, “ó ditosa culpa que nos mereceu tão grande Redentor”? A possibilidade de errar e de reconhecer o erro não nos diminui; é a persistência no erro, a pretensão de sermos deuses, de viver autosuficientes que impedem a comunhão com Deus e com os outros, e esse é o maior erro da vida!

Jesus não andou à procura dos pecadores para os acusar. Era conhecido por comer com eles e sentia-se bem com a sua autenticidade. Acolhia e libertava valorizando mais o futuro do que o passado. Custava-lhe o fingimento e a sobranceria dos que se julgavam justos e impecáveis. O amor não lida bem com a aparência, prefere a transparência, ainda que seja como uma janela a precisar de limpeza. Assim não desiste de salvar e de oferecer um amor incondicional. Porque acredita nas extraordinárias capacidades de cada um de nós. Não andaremos longe de Jesus quando nos habituamos a excluir, a querer perfeito sem oferecer e fazer caminho, a congelar o que existe sem arriscar o novo por medo de errar?

É comprometedora a proposta que hoje nos é feita no evangelho para lidar com os erros dos irmãos. Do diálogo a sós, passando por pelo encontro com dois ou três amigos, confiando na comunidade, nunca se propõe desistir do outro. Curiosamente, mesmo depois de tentar tudo, a ideia de tratar o irmão como um pagão ou um publicano não significa excomunhão: não são eles os grandes destinatários do amor de Deus, aqueles que, surpreendentemente, acolhem Jesus com alegria? Felizes os que descobrem nos erros ocasiões para viver um amor maior, sementes de uma verdade que só encontra quem está disposto a caminhar!

P. Vítor Gonçalves

in VOZ DA VERDADE 04.09.2011


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EVANGELHO – Mt 18,15-20
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus


Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Se o teu irmão te ofender,
vai ter com ele e repreende-o a sós.
Se te escutar, terás ganho o teu irmão.
Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas,
para que toda a questão fique resolvida
pela palavra de duas ou três testemunhas.
Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja;
e se também não der ouvidos à Igreja,
considera-o como um pagão ou um publicano.
Em verdade vos digo:
Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu;
e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu.
Digo-vos ainda:
Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa,
ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus.
Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome,
Eu estou no meio deles».

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