10 novembro 2011

Rei de Copas

(imagem retirada da net)

Nota prévia:


Fujo do frio como o diabo da cruz. Gosto de calor, de roupas leves, de teses queimadas e de brisas mornas. Vou pois ter a honra de inaugurar uma nova rubrica de listas neste prestigiado blogue com o "top ten" dos maiores calores que apanhei até agora. Foram situações extremas, na maior parte dos casos muito desagradáveis e que só confirmam o adágio popular de que "tudo o que é de mais chateia". A classificação tem mais a ver com o incómodo de que me lembro sentir do que propriamente com a temperatura. Todas as situações aconteceram contudo bem acima dos 40ºC.
Os 10 maiores calores (no sentido literal) que apanhei na minha vida e onde

1º Khyber Pass (fronteira entre o Paquistão e Afeganistão)

Se relativamente à maior parte dos outros casos não me lembro da temperatura 
exacta que fazia, neste caso lembro-me bem. Quando saí do automóvel para 
participar numa cerimónia oficial ao ar livre o termómetro marcava 49 graus.
A região, terra de esconderijo do Bin Laden, de terrorismo e de todo o tipo 
de tráficos, é um lugar de uma beleza rara. Desolado, rude e extremo (no 
Inverno as temperaturas descem aos 20 graus negativos), transmite-nos 
simultaneamente uma sensação de encanto. Por lá passaram o Alexandre da
 Macedónia, o Gengis Khan e outros conquistadores mais modernos. Todos se
deram mal. Se calhar foi por causa do calor.



2º Bombaim (Índia)

Também aqui me lembro da temperatura que apanhei: 47 graus. E o pior é que
 às 2 da manhã estavam ainda 37 graus. Acrescente-se uma humidade a rondar os 
100% e temos a antecâmara do inferno. Tive ali a sensação de que o calor 
pode ser insuportavelmente opressivo. Disseram-me que estive lá na altura
pior. Que depois vêm as monções e que, com elas, vem a libertação. Só pode.



3º Manaus (Brasil)

Que me desculpem os brasileiros, mas Manaus é um buraco infecto, pegajoso e
irrespirável. Tem no entanto um povo muito simpático, um teatro lindíssimo e 
umas caboclas de fazer parar o trânsito. Foi importante no curto período em
 que teve o monopólio do comércio da borracha e os seus habitantes acham que 
vai voltar a sê-lo um dia com base nas riquezas ainda inexploradas da
 Amazónia. Tomei banho na piscina do hotel à meia-noite e sequei-me ao ar sem 
precisar de uma toalha. Tal era o calor.



4º Tete (Moçambique)

Moçambique não é propriamente um país frio, mas os moçambicanos consideram
 Tete o pior que lá há em termos de calor. Passei por Tete algumas vezes a
caminho do Malawi e pude confirmar os relatos dos soldados portugueses que lá estiveram em operações militares. Um autêntico forno, garanto-lhes, com 
temperaturas a rondar os 45 graus. Ao que parece, o trabalho nas minas de 
carvão da região é considerado um dos mais difíceis do mundo. Dentro das 
minas as temperaturas ultrapassam, e bem, os 50 graus. 



5º Nicósia (Chipre)

Quando o avião estava para aterrar no aeroporto de Larnaca (que serve a
cidade de Nicósia) o piloto informou que na capital de Chipre estavam àquela
 hora 44 graus. Lembro-me do bafo que entrou no avião quando a porta se abriu 
e lembro-me também da água da piscina do hotel ser quente ao ponto de não 
apetecer tomar banho. Na volta turística que dei pela cidade não houve 
igreja na qual não entrasse. Não por nenhum súbito acesso de Fé ortodoxa,
 mas porque eram os únicos sítios frescos onde se podia estar.



6º Sevilha (Espanha)

Sevilha é, segundo consta, a cidade da Europa que detém o record da 
temperatura mais elevada. Não estive lá no dia do record, mas os dias de 
Verão que lá passei deram para perceber que o calor faz parte integrante da
 vida daquela cidade. Nas horas mais quentes não se vê ninguém na rua, porque
efectivamente não é humanamente possível andar na rua. É uma espécie de 
Sibéria ao contrário. A minha mãe tentou andar 100 metros para apanhar um
 táxi e desmaiou.



7º Darwin (Austrália)

Haverá certamente sítios mais quentes no interior da Austrália, mas Darwin é 
seguramente a cidade litoral com temperaturas mais altas ao longo de todo o ano. Estive lá num Verão particularmente rigoroso e lembro-me concretamente 
do vento escaldante e das enormes dores de cabeça que provocava. A cidade
 mais próxima fica a 4 horas de avião. No meio apenas um enorme deserto de
 onde sopra o vento. Nos jardins públicos de Darwin vêm-se centenas de
 aborígenes alcoolizados à procura de sombras para curar as bebedeiras.
 Pudera...



8º Dubai (Emiratos Árabes Unidos)

Dubai tem o típico calor do deserto apenas temperado por uma ténue brisa
marítima. É o Algarve nos piores dias elevado à décima potência. No entanto,
 tudo lá é tão climatizado que se consegue estar vários dias sem se dar pelo 
calor. O pior é quando se tem que vir à rua durante o dia. Armei-me em
independente e resolvi caminhar do hotel até um centro comercial lá perto.
 Pensei que ia ter um treco. Fiquei completamente desidratado e, à chegada ao 
centro comercial, devo ter bebido alguns três litros de água.



9º Roma (Itália)

Muita gente já deve ter ido a Roma no Verão e sabe pois o calor que lá se
 pode apanhar. Lembro-me concretamente de um dia de Julho em que tinha umas 
horas livres entre duas reuniões e resolvi fazer turismo a pé, engravatado.
 Acabei por ter que ir a correr ao hotel tomar um duche e mudar de roupa pois
fiquei encharcado em suor. Lembro-me também de ter desligado o ar
 condicionado antes de adormecer e de ter acordado no meio da noite como se
 estivesse dentro duma sauna. 



10º Almodôvar (Portugal)

Que me lembre, foi em Almodôvar que apanhei o maior calor em território 
português. Vinha do Algarve para o Alentejo e parei para pôr gasolina. O 
termómetro do carro indicava 43 graus.




JdC

3 comentários:

  1. Que ideia mais divertida.
    Tantos sítios, my god, confesso que nem Almodôvar conheço, mas continuo a preferir o calor das minas de Tete à brisa húmida do Estoril.
    Boa semana JdC

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  2. Giríssimo! Divertidíssimo! pcp

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  3. Houve um espanhol que foi para o inferno. Perguntado como era, respondeu: pior que Badajoz.
    Deve ser um calor do género do que apanhaste em Sevilha!
    Belo roteiro, sim senhor!
    Abr
    fq

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