11 dezembro 2011

3º Domingo do Advento


Vozes com vida


É tão difícil responder à pergunta: “quem és tu?”. Podemos dizer o nome, o género, a idade, a profissão, o estado, a família, os gostos, as ideias, as crenças, a história pessoal, as relações, os projectos, e somos tudo isso e parece que ainda fica tanto por dizer! “Cada pessoa é um mundo”, dizia Clarice Lispector, e descobrir e revelar esse mundo é uma vocação que partilhamos. Estamos sempre a revelar-nos (curiosa a palavra que sugere voltar a pôr o véu sobre algo que se descobriu!), na busca incessante da verdade sobre nós e sobre os outros. Creio que a alegria é também um fruto deste entrelaçado da vida em que somos uns dos outros e uns para os outros. 


Talvez seja por isso que gosto muito de entrevistas. De ler, ver, ouvir, e guardar aqueles momentos em que alguém abre as janelas da alma para nos deixar entrar. Claro que a qualidade de uma entrevista também depende muito da humildade e humanidade do entrevistador, um pouco à maneira de João Baptista: “que ele cresça e eu diminua”. Uma entrevista é um diálogo alargado, uma revelação que se pode partilhar, um ponto de vista que aclara a verdade. Gosto das palavras que comprometem, das ideias que ganham corpo na vida, da autenticidade que gera confiança. Por estes dias apareceu nas livrarias um primeiro volume com 60 entrevistas realizadas pelo jornalista António Marujo ao longo de 20 anos para o jornal Público. “Deus vem a público – Entrevistas sobre a transcendência” oferece-nos uma sinfonia de vozes e de vidas que “estão empenhadas na busca de sentido, na mais funda raiz das ideias, na procura da humanidade (...), na construção de um mundo mais justo e fraterno.” Sabe bem reler ou ler pela primeira vez estes testemunhos de alegria e de dor, de coragem e fidelidade, de humildade e grandeza de pessoas que se gravam na nossa alma. Nas suas palavras percebemos que “quem somos” está intimamente ligado com “quem queremos ser”, o ser relacionado com o agir!


João Baptista é hoje entrevistado por sacerdotes e levitas. Confessa a verdade: “Não sou o Messias”. Identifica-se como a voz (não a de alguns concursos execrandos e abjectos da televisão!) que convida a endireitar o caminho do Senhor. Anuncia que “no meio de vós está Alguém que não conheceis”. Sem técnicas de oratória revela-nos a sua alegria: ele é mensageiro de uma boa nova, diz palavras que abalam certezas bafientas e os privilegiados da riqueza e da religião, baptiza todos os que querem mudar de vida. A sua alegria brota da liberdade de ser todo de Deus, e não se deixar comprar nem amedrontar pelos poderosos. Não se grava também em nós esta alegria, e o desejo de a vivermos?
    
P. Vítor Gonçalves, tirado daqui



EVANGELHO - Jo 1,6-8.19-28
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João.
Veio como testemunha, para dar testemunho da luz,
a fim de que todos acreditassem por meio dele.
Ele não era a luz,
mas veio para dar testemunho da luz.
Foi este o testemunho de João,
quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém,
sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem:
«Quem és tu?»
Ele confessou a verdade e não negou;
ele confessou:
«Eu não sou o Messias».
Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?»
«Não sou», respondeu ele.
«És o Profeta?». Ele respondeu: «Não».
Disseram-lhe então: «Quem és tu?
Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram,
que dizes de ti mesmo?»
Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto:
‘Endireitai o caminho do Senhor’,
como disse o profeta Isaías».
Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram:
«Então, porque baptizas,
se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?»
João respondeu-lhes:
«Eu baptizo em água,
mas no meio de vós está Alguém que não conheceis:
Aquele que vem depois de mim,
a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias».
Tudo isto se passou em Betânia, além Jordão,
onde João estava a baptizar.

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