«Há entre mim e o mundo uma névoa que
impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são - como são para os outros»
- Fernando
Pessoa
Já dizia Fernando Pessoa,
homem sábio, que a imagem construída à luz dos nossos olhos, não corresponde ao
real, àquilo que de facto é e existe. Uma névoa densa, escura, equiparável ao
muro de Berlim, separa tais realidades por si só tão distintas. E não há vento
que a mova. Nem o vento capaz de levar um veleiro a desafiar furiosamente as
leis do mar, ou a simples brisa que me traz o teu perfume são capazes de
atenuar tal névoa.
Atrevo-me a híper dimensionar
a metáfora utilizada pelo génio que era Fernando Pessoa e assim, arrisco
comparar esta distinção entre a realidade real, perdoem-me o pleonasmo, e o
cenário imaginário a um grande e profundo abismo de onde emana uma escuridão
horripilante.
De um lado, o qual apelido de
zona de conforto, estou eu, o Pessoa e a grande maioria dos seres humanos deste
mundo que ainda não encontraram a coragem necessária para percorrer as frágeis
tábuas de madeira, unidas por dois fios massacrados pelo tempo, a que chamo
ponte. Refugiam-se, assim, no lado que já dominam e manipulam, fecham-se no seu
porto seguro, evitando a novidade, o desconhecido, a realidade. Vivem perante uma ilusão viciante,
gratificante até, que os afasta cada vez mais da ponte e os embrenha na
aliciante floresta que é o imaginário.
Do outro lado, contrastando,
temos um universo de pessoas reduzido. Não admira, poucos são aqueles que optam
por atravessar a tão frágil ponte que abana com uma ténue rajada. Para além de
ser um acto de coragem extrema, é uma opção que envolve, impreterivelmente, choque,
sofrimento, dor e lágrimas. Ao passarmos para o outro lado, ao escolhermos
encarar a realidade, estamos a deixar para trás algo que já tínhamos como adquirido,
um cenário que poderíamos adaptar a qualquer momento de forma a nos agradar. A
passagem representa a aceitação do real sem contornos, nu e cru, dos factos
como eles são e das consequências que deles advêm sem qualquer hipótese de um
ajuste favorável à nossa situação.
Encontro-me do lado ilusório
do abismo e por cá vou ficar até armazenar a coragem e a força necessárias para
atravessar a ponte e, assim, enfrentar tamanho choque. Criei um mundo imaginário
demasiado extenso para ser vivido em apenas 17 anos, porém tenho noção que o
dia em que as minhas fantasias já não me saciarão e terei necessidade de passar
para o outro lado, para o real, estará perto e quando fizer essa travessia
espero que todos já estejam do outro lado, que tenham feito a escolha certa (e
que a ponte não se tenha desmoronado!).
MTM
Bom dia MTM. Parece que esta semana estamos todos focados nos 17 anos e na adolescência. Que bom.
ResponderEliminarJá PO postou em homenagem à sua afilhada que faz 17 anos e nos relembrou das diversidade de emoções e sentimentos que nos assaltaram a todos.
A ponte que fala está lá, pronta para que se passe. A coragem e vontade também aguardam, o que falta é o momento em que nos deslocamos dessa zona de conforto, sobrevoando, olhando, admirando e dizemos,
É agora e é isto mesmo que eu quero porque não é chocante, é apenas a vida e eu não a posso perder.
Boa semana e belas palavras, como sempre.
Ola' MTM, filosofa e pensadora
ResponderEliminarQue 17 anos que lhe trouxeram esta maturidade! Pessoalmente eu vou mais pelo filosofo americano Manly Hall que acha que o conhecimento/realidade sao opinioes a um nivel de ilusao.
Boa travessia de pontes, e mais pontes.
MTM, não há crescimento (interior) sem sofrimento. Mas vale a pena passar a ponte e crescer para um novo patamar. Sei que ainda tem muita vida diante de si... aproveite-a, goze-a, viva-a intensamente. Não tenha medo de ter medo. Suplante-o só, tão simplesmente. Vai atravessar desertos, mas vai encontrar oásis. Da interiorização que a vida é isto mesmo - luz e sombra que se intercalam constantemente - nasce a coragem, uma das qualidades mais úteis para a vida (e curiosamente, parece-me, bastante subvalorizada). Bjs. pcp
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