09 dezembro 2011

writer’s block


leitor amigo:
hoje, não tenho nada para escrever que mereça ser escrito,
nada tenho a dizer que mereça – mesmo – ser dito.

ambos sabíamos que haveria de chegar o momento
em que o famoso bloqueio nos sairia ao caminho,
para meu desconforto e para teu merecido descanso.

como se a negação da escrita fosse, em si mesma,
a cerimónia da sua própria confirmação
(no fundo como é a morte a definidora da vida).

a isto chamamos, tu e eu, muito baixinho,
a secreta ontologia das palavras.

rastilhos acesos que tombam em cinzas, de repente,
e que nos deixam a memória repleta de espectros brilhantes

- toda a luz que, até há pouco, existiu.


(silêncio.)


leitor meu, não te distraias.
olha que nada disto verdadeiramente importa..

o que importa é dizeres-te bem alto um segredo:

vais ousar bater com a porta,
vais ousar vencer a troika,
vais espantar de vez do teu espelho
essa viscosa coisa a que chamas medo.

gi.

2 comentários:

Acerca de mim