Em África, ou pelo menos no país em que me encontro, o Zimbabwe, a religião é levada a sério. Aqui não há agnósticos e muito menos ateus e, se os há, não se assumem. É habitual, num qualquer contexto social, perguntarem-me que igreja frequento e suscitarem assuntos religiosos para fazer conversa. Os estrangeiros e principalmente os europeus, campeões do laicismo, sentem-se muitas vezes ofendidos com estas manifestações de religiosidade e consideram-nas um sinal de sub-desenvolvimento.
Perguntaram-me ontem qual era o meu sacrifício de Quaresma. Assim, sem mais nem menos. A pessoa que me fez a pergunta nem sequer me conhecia bem e não sabia portanto se eu era cristão. Não lhe passou pela cabeça que a pergunta pudesse ser deslocada ou considerada indiscreta. É sub-desenvolvimento, dirão os europeus. Os africanos contrapõem no entanto que o declínio da Europa começou exactamente com a negação da Fé. "O futuro pertence-nos porque nós temos Deus e vocês já O abandonaram", dizia-me no outro dia um amigo local.
Depois de todas estas acusações, senti-me compelido a postar algo alusivo à quadra quaresmal. Para que os africanos saibam que nem tudo está perdido na Europa.
JdC
Que bom texto, João!
ResponderEliminarLapidar, diria mesmo.
Abr
fq
Bom dia meu querido amigo,
ResponderEliminarEsta sua missiva veio mesmo a calhar. No outro dia numa conversa entre amigos íntimos, só poderia ser assim senão o tema não se tinha levantado, discutia-se a superioridade intelectual dos brancos. Claro que eu que vivi e adoro África e o seu povo discordo e discordei, reconheço que com alguma agressividade, desta posição, defendendo sempre a diferença e nunca a superioridade. Estamos perante um exemplo bem emblemático da sensibilidade e a cultura de um povo. Vivem em fé, seja qual for o credo e acreditam sempre numa força superior que os orienta para o bem (para nós europeus talvez o mal.
Como dizia Mia Couto
"A cinza voa, mas o fogo é que tem asa" ( in o Último voo do Flamingo)
Obrigada.