15 abril 2012

Domingo da Divina Misericórdia


(...) A misericórdia é, propriamente, aquele ponto da revelação que Jesus Cristo faz de si mesmo e do mistério de Deus onde Ele entra totalmente em ruptura com as medidas do mundo. A misericórdia é a coisa que o mundo tem mais dificuldade em aceitar na proposta cristã.
A misericórdia é diferente do perdão. A misericórdia é um coração que olha para mim e me acha miserável e que, reconhecendo-me miserável, me trata com amor. Não me trata segundo a minha miséria, mas segundo a Sua misericórdia.
O perdão ainda tem uma certa proporção. A ideia de perdão tem em si a ideia de mudança, de emenda, de arrependimento, de reparação. É uma coisa que ainda se controla, que se pode pesar, que pode ter uma medida, que pode ter alguma proporcionalidade.
A misericórdia é o olhar que olha para o ladrão que acabou de dizer que merece aquela morte ignominiosa e Lhe pede: “Jesus lembra-te de mim” e lhe dá, fora de toda a proporção e de todo o mérito, a recompensa: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.
A misericórdia não mede, não calcula, não pesa, não entra em linha de conta com o cálculo que eu faço acerca de mim próprio, não se adequa à medida que eu faço de mim. A misericórdia é este amor que entra por mim adentro e me mude e me transforma.
A misericórdia é a única coisa que, verdadeiramente, torna o homem capaz de grandeza. Porque o liberta completamente do cálculo, do seu e do alheio, da medida, do tomar o pulso à sua própria capacidade.

(Directo ao Assunto, Padre João Seabra, Editora Lucerna, 2003)

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