09 maio 2012

Diário de uma astróloga – [25] – 9 de Maio de 2012


Os Nós Lunares

Há um ano, o dono deste estabelecimento convidou-me para contribuir para o blog escrevendo sobre astrologia, que é simultaneamente a minha profissão e a lente através da qual tento compreender o mundo, os outros e, sobretudo, eu própria. Tem-me dado imenso prazer escrever estes posts e procurar exemplos ou imagens certas para ilustrar os textos que escolho, olhando para uma lista preliminar de assuntos e, depois, deixando que a inspiração, as datas do calendário ou um comentário ocasional ditem a ordem pela qual que eles têm aparecido.
Foi justamente um comentário aqui publicado que me indicou que era a altura de falar dos Nós Lunares. São os pontos de intersecção da órbita da Lua com a órbita aparente do Sol (a elíptica). São dois pontos opostos no espaço que distam, por isso, 180º entre si. O ponto de passagem da Lua de uma latitude sul para a latitude norte chama-se Nó Lunar Norte, e vice-versa, e são calculados para o momento do nascimento.

Os nós lunares não são planetas e, por isso, não representam energias específicas ao nível da personalidade mas, por integrarem toda a órbita do Sol e da Lua, os nossos luminários, são a simbologia mais parecida com “alma” que a astrologia pode fornecer. O eixo dos nós lunares é o resumo, ou a fotografia do nosso percurso evolutivo. O nó lunar sul representa os processos a que estamos habituados, os que nos são mais familiares, talvez por termos sido condicionados por experiências anteriores - de onde viemos. O nó lunar norte representa aquilo que temos que conquistar para nos sentirmos plenamente realizados – para onde vamos. É evidentemente o ponto de maior resistência, que requer esforço porque descobrir e cumprir a nossa missão não é tarefa fácil.
A astrologia chinesa refere-se a estes pontos como Cauda do Dragão e Cabeça do Dragão. Antigamente o Ocidente usava a mesma designação, em latim naturalmente. Nas pinturas e frescos renascentistas vêm-se representações de Cauda Draconis e Caput Draconis. Por exemplo, esta cabeça de dragão é um pormenor que faz parte do tema astral pintado no tecto do Castelo Sforzesco, em Milão, que data de 1474.


Lamento que o mundo ocidental tenha eliminado as referências à cabeça do dragão porque sugere com muita clareza a dificuldade, a conquista, o desafio. É com certeza mais ilustrativo do que Nó Lunar Norte.
Na semana passada, num dos seus belos textos, o JdB entregou-me de bandeja a oportunidade de falar sobre os nós lunares. Impressionou-me pela clareza com que definiu o que o eixo dos nós lunares representa em termos de escolhas e desejos. Com a sua autorização passo a citar e a comentar:

A parte mais saudável de mim é gregária. A parte mais lúcida de mim é gregária. Apesar disso, nas profundezas do que sou há algo que pensa na ilha do Corvo, no silêncio, na interiorização, na vontade de escrever em frente ao mar, na contemplação das ondas, na vastidão da paisagem, na parcimónia dos sons, num minimalismo existencial, no isolamento que favorece a espiritualidade. Demasiados factores me prendem ao inverso de tudo isto: a família, as relações afectivas, o medo, a (quase) certeza do que sou, a convicção do que é saudável, os projectos, as pessoas que me são imprescindíveis, o gosto por uma vida mundana, a dúvida sobre a validade de alguns desejos.

Para quem, como o JdB, tem consciência do seu percurso evolutivo, é importante perceber que a Ilha do Corvo é a sua cabeça do dragão, é a parte de si que precisa de conquistar, que é normal que seja menos lúcida porque vem, exactamente, das profundezas que eu chamaria a voz da alma. Mas os nós lunares constituem um eixo; há o outro lado, o lado oposto a puxar ao contrário, com o chamamento do que é familiar, do que é mais fácil: demasiados factores me prendem ao inverso
A experiência que tenho, comigo própria e com os meus clientes, ensinou-me que esta evolução requer equilíbrio. Para chegar onde devemos ir não podemos ignorar de onde viemos. Não é uma corrida onde viramos as costas ao ponto de partida com os olhos só na meta. É uma estrada que se vai construindo feito de escolhas e oportunidades, e muitas delas vêm ao nosso encontro quando menos se espera. Recentemente, numa consulta, discuti com uma cliente como a compra de um armazém velho, coisa que lhe apareceu “por acaso”, se encaixa perfeitamente no significado da sua Cabeça de Dragão.
O eixo dos nós lunares, o retrato no nosso propósito de vida, é diferente para cada um de nós pelo signos que ocupam (sempre em signos opostos), pelas casas em que estão localizados (sempre opostas) e pelos planetas que mais os influenciam.
Aqui fica a imagem dos símbolos usados no horóscopo, caso queiram consultar o vosso tema natal e aprofundar esta questão. Ao JdB espero que a visão astrológica o ajude no seu percurso de auto-conhecimento e de cidadão do mundo.



Luiza Azancot

3 comentários:

  1. Simplesmente interessantíssimo. Nunca tinha perebido a relevãncia destes "corninhos" na carta astral. De facto, assim explicado, tudo faz sentido.
    Adorei.

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  2. Luiza: obrigado pelo texto mas, sobretudo, pelo desatar de um nó (que não o lunar...) que andava por aqui há muito tempo. Talvez desde os meus 18 ou 20 anos. A tua explicação explicará - passe a redundância - muitas coisas.
    Desde que abri este estabelecimento que me exponho, de uma forma ou de outra. Nunca me questionei se o deveria continuar a fazer, porque a vida é a minha (enfim, não na totalidade) e porque há sempre uma oportunidade feliz de alguém derramar uma luz sobre uma sombra qualquer. O teu post é a confirmação (porque certeza já havia bastante) de que valeu a pena.

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  3. ACC e JB, os vossos comentarios dao felicidade a' minha alma uma vez que o meu caput draconis esta' na casa da comunicao.

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