Os Nós Lunares
Há um ano, o dono deste estabelecimento convidou-me para contribuir para o
blog escrevendo sobre astrologia, que é simultaneamente a minha profissão e a lente
através da qual tento compreender o mundo, os outros e, sobretudo, eu própria. Tem-me
dado imenso prazer escrever estes posts e procurar exemplos ou imagens certas
para ilustrar os textos que escolho, olhando para uma lista preliminar de
assuntos e, depois, deixando que a inspiração, as datas do calendário ou um comentário
ocasional ditem a ordem pela qual que eles têm aparecido.
Foi justamente um comentário aqui publicado que me indicou que era a altura
de falar dos Nós Lunares. São os pontos de intersecção da órbita da Lua com a órbita aparente do Sol (a elíptica). São dois pontos opostos no espaço que distam, por
isso, 180º entre si. O ponto
de passagem da Lua de uma latitude sul para a latitude norte chama-se Nó Lunar
Norte, e vice-versa, e são calculados para o momento do nascimento.
Os nós lunares não são planetas e, por isso, não representam energias
específicas ao nível da personalidade mas, por integrarem toda a órbita do Sol
e da Lua, os nossos luminários, são a simbologia mais parecida com “alma” que a
astrologia pode fornecer. O eixo dos nós lunares é o resumo, ou a fotografia do
nosso percurso evolutivo. O nó lunar sul representa os processos a que estamos
habituados, os que nos são mais familiares, talvez por termos sido condicionados
por experiências anteriores - de onde viemos. O nó lunar norte representa
aquilo que temos que conquistar para nos sentirmos plenamente realizados – para
onde vamos. É evidentemente o ponto de maior resistência, que requer esforço porque
descobrir e cumprir a nossa missão não é tarefa fácil.
A astrologia chinesa refere-se a estes pontos como Cauda do Dragão e Cabeça
do Dragão. Antigamente o Ocidente usava a mesma designação, em latim
naturalmente. Nas pinturas e frescos renascentistas vêm-se representações de
Cauda Draconis e Caput Draconis. Por exemplo, esta cabeça de dragão é um
pormenor que faz parte do tema astral pintado no tecto do Castelo Sforzesco, em
Milão, que data de 1474.
Lamento que o mundo ocidental tenha eliminado as referências à cabeça do
dragão porque sugere com muita clareza a dificuldade, a conquista, o desafio. É
com certeza mais ilustrativo do que Nó Lunar Norte.
Na semana passada, num dos seus belos textos, o JdB entregou-me de bandeja
a oportunidade de falar sobre os nós lunares. Impressionou-me pela clareza com
que definiu o que o eixo dos nós lunares representa em termos de escolhas e desejos.
Com a sua autorização passo a citar e a comentar:
A parte mais saudável de mim é
gregária. A parte mais lúcida de mim é gregária. Apesar disso, nas profundezas
do que sou há algo que pensa na ilha do Corvo, no silêncio, na interiorização,
na vontade de escrever em frente ao mar, na contemplação das ondas, na vastidão
da paisagem, na parcimónia dos sons, num minimalismo existencial, no isolamento
que favorece a espiritualidade. Demasiados factores me prendem ao inverso de
tudo isto: a família, as relações afectivas, o medo, a (quase) certeza do que
sou, a convicção do que é saudável, os projectos, as pessoas que me são
imprescindíveis, o gosto por uma vida mundana, a dúvida sobre a validade de
alguns desejos.
Para quem, como o JdB, tem consciência do seu percurso evolutivo, é
importante perceber que a Ilha do Corvo é a sua cabeça do dragão, é a parte de si que precisa de conquistar, que é
normal que seja menos lúcida porque vem, exactamente, das profundezas que
eu chamaria a voz da alma. Mas os nós lunares constituem um eixo; há o outro
lado, o lado oposto a puxar ao contrário, com o chamamento do que é familiar,
do que é mais fácil: demasiados factores
me prendem ao inverso.
A experiência que tenho, comigo própria e com os meus clientes, ensinou-me
que esta evolução requer equilíbrio. Para chegar onde devemos ir não podemos
ignorar de onde viemos. Não é uma corrida onde viramos as costas ao ponto de
partida com os olhos só na meta. É uma
estrada que se vai construindo feito de escolhas e oportunidades, e muitas
delas vêm ao nosso encontro quando menos se espera. Recentemente, numa consulta,
discuti com uma cliente como a compra de um armazém velho, coisa que lhe
apareceu “por acaso”, se encaixa perfeitamente no significado da sua Cabeça de
Dragão.
O eixo dos nós lunares, o retrato no nosso propósito de vida, é diferente
para cada um de nós pelo signos que ocupam (sempre em signos opostos), pelas
casas em que estão localizados (sempre opostas) e pelos planetas que mais os influenciam.
Aqui fica a imagem dos símbolos usados no horóscopo, caso queiram consultar
o vosso tema natal e aprofundar esta questão. Ao JdB espero que a visão
astrológica o ajude no seu percurso de auto-conhecimento e de cidadão do mundo.
Luiza Azancot
Simplesmente interessantíssimo. Nunca tinha perebido a relevãncia destes "corninhos" na carta astral. De facto, assim explicado, tudo faz sentido.
ResponderEliminarAdorei.
Luiza: obrigado pelo texto mas, sobretudo, pelo desatar de um nó (que não o lunar...) que andava por aqui há muito tempo. Talvez desde os meus 18 ou 20 anos. A tua explicação explicará - passe a redundância - muitas coisas.
ResponderEliminarDesde que abri este estabelecimento que me exponho, de uma forma ou de outra. Nunca me questionei se o deveria continuar a fazer, porque a vida é a minha (enfim, não na totalidade) e porque há sempre uma oportunidade feliz de alguém derramar uma luz sobre uma sombra qualquer. O teu post é a confirmação (porque certeza já havia bastante) de que valeu a pena.
ACC e JB, os vossos comentarios dao felicidade a' minha alma uma vez que o meu caput draconis esta' na casa da comunicao.
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