11 junho 2012

Fórmula para o caos


Em Portugal, sempre que há um determinado tema na roda do dia, logo surgem diversos pseudo-especialistas a comentar o que se passou, a explicar o que se passa e a prever, com uma certeza de fazer inveja aos bruxos, tudo que se vai passar, como consequência do que se passou. Falam de Economia, Saúde Pública, Justiça, Desporto, etc.

Mas, de facto, a economia é o departamento em que os especialistas mais aparecem e mais comentam na actualidade. Porém, como nem tudo é mau, ainda há verdadeiros especialistas. Aqueles que realmente sabem do que falam e só falam do que sabem. Não têm pretensões a falar de culinária e desporto com o mesmo grau de exactidão. De entre esses, destaco Tavares Moreira (ex-governador do Banco de Portugal). Como tal, deixo aqui umas linhas sábias sobre o PIB grego, publicadas no blogue Quarta República.

Pedro Castelo Branco


Grécia destrói riqueza? Como assim?

1. Num dos mais lidos e especializados jornais económicos “on line” editados em Portugal, li há pouco o seguinte comentário “ A Grécia continua a ser palco de forte destruição de riqueza”.

2. Este comentário, de sabor futebolístico (a moda assim o exige?), feito a propósito da notícia de que o PIB na Grécia tinha contraído 6,5% no 1º Trim/2012 por comparação ao 1ª Trim/2011 (variação homóloga), revela que quem o escreveu não tem a menor noção do que é o PIB: o valor daquilo que uma economia acrescenta (fluxo), num dado período, à riqueza nacional existente (stock) no início desse mesmo período. Ou, tendo essa noção, resolve escrever o que lhe vem à cabeça, pouco se importando se isso está certo ou errado.

3. O facto de o PIB do 1º trimestre deste ano ser inferior ao do 1º trimestre do ano anterior - em 6,5% ou noutra qq % - não significa que o próprio PIB seja negativo: significa apenas que o valor acrescentado do período considerado foi inferior ao do período de comparação...mas ser inferior não é o mesmo que ser negativo...

4. Assim sendo, não houve nenhuma destruição de riqueza, o que houve foi um acréscimo menor de riqueza do que aquele que se tinha verificado um ano antes...

5. Mas é através deste tipo de falsas ideias fabricadas à pressa pelos media, que os cidadãos vão consolidando a sua ignorância sobre estes assuntos, acabando por não ter a menor noção daquilo que se discute: todos têm a mesma razão, digam o que disserem, ninguém tem razão no final...

6. Não admira, pois, que este ambiente de confusão seja propício para os Crescimentistas difundirem as suas fantasiosas teses sobre o crescimento a “todo o vapor”, sem a menor preocupação quanto aos pressupostos desse mesmo crescimento...

7. Quem diz que a Grécia está destruindo riqueza pode dizer, com a mesma facilidade e convicção, que essa história da correcção dos desequilíbrios da economia é uma obsessão dos neo-liberais... e o que se impõe é dar toda a prioridade ao crescimento (como, é detalhe que pouco importa). 

Tavares Moreira

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