17 agosto 2012

about a girl


como aquele marinheiro que perdeu as graças do mar, 
dedicava-se a garimpar estrelas esquecidas, baús remotos, cristais empoeirados
que enviava pelo correio, para as suas amigas mais queridas.

do cimento brotavam flores incandescentes
(ou eram seus olhos?)

e todas as manhãs eram agora manhã de santo antónio,
movidas a neblina e álcool, comprimidos, sonhos queimados, 
rostos difusos, debruados a negro.

‘absinto muito’, dizia ao espelho, de si para si,
mas não falava da fatal bebida,
antes dessa forma absoluta de sentir
e das saudades que sentia já
(vidros rasgando pulsos?)
das horas perdidas entre pernas e braços juvenis e feminis, 
quando jurava que o mundo era, outra vez, um lugar encantado.

(people they ain't no good - em fundo baço).

e um poema saíu-lhe das esventradas veias,
mostrando que a poesia - como o amor das raparigas -
é coisa com vida própria e que não raro o deixa à porta,

mesmo quando é do lado de dentro que ele está.

gi.

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