Sagitário e as Viagens
O símbolo do Sagitário
é um centauro com um arco e flecha a apontar para o céu, ou pelo menos virada para
cima. Este símbolo tem-se mantido ao longo dos séculos, como se pode ver pela
iluminura tirada de um Livro de Horas medieval e uma tatuagem contemporânea. O
centauro tem uma explicação mitológica de que falarei noutra altura, mas a
flecha é importante para o post de
hoje. O símbolo usado por astrónomos e astrólogos é também a flecha, o que dá
uma justa imagem da necessidade principal de Sagitário: ir mais longe relativamente ao ponto onde se
encontra.
Ir mais longe quer dizer explorar: exploração física através de aventuras e viagens, intelectual através de estudos superiores ou espiritual, quando metaforicamente nos dirigimos ao céu na procura de Deus.
Assim, o Sagitário
é o viajante do Zodíaco e, como estamos no mês em que o Sol está nesse signo, apropriadamente
li “A Arte da Viagem” de Paul Theroux, escritor americano que me tem
fascinado, entretido e feito sonhar com livros sobre as suas viagens.
Quando me
refiro a energia “sagitária” considero, não só as pessoas que fazem anos entre
22 de Novembro e 20 de Dezembro mas, também, as que têm vários planetas em Sagitário,
uma casa 9 repleta ou Júpiter, o planeta
que rege este signo e a casa 9, num ponto de destaque na carta natal.
A condição da
casa 9 explica que tipo de viajante somos. Com Neptuno em Balança na casa 9, eu
sonho com viagens por mar (Neptuno), com
cruzeiros em barco à vela onde a beleza e o elemento ar (balança) estão em evidência.
Um grande amigo com Mercúrio (planeta da comunicação, escrita e aprendizagem) em
Sagitário na casa 9 (dupla dose) depois de ter tido a inspiração de começar um blog a seguir a uma viagem, embarcou
recentemente numa viagem intelectual.
Paul Theroux
não tem Mercúrio na casa 9, mas tem Júpiter muito forte em conjunção e no midpoint Saturno e Urano. Esta localização
dá-lhe a capacidade de ter uma filosofia de vida e de escrita onde os caminhos
trilhados (Saturno) são analisados de uma forma nova, fresca, original (Urano).
Na “Arte da
Viagem” falou da viajante que mais
admira, a irlandesa Dervla Murphy, uma excepcional “sagitária”, agora com 81 anos, mas que fez viagens extraordinárias
toda a sua vida e a maior parte delas de bicicleta. Nasceu no dia 28 de
Novembro de 1931 numa aldeola no seio de uma família muito modesta. Descreve assim
quando e como íniciou a sonhar com viagens:
“Quando fiz 10 anos os meus pais deram-me uma bicicleta em segunda mão e o meu avô mandou-me um atlas também em segunda mão. Eu já gostava de andar de bicicleta mas nunca tinha tido uma e pouco tempo depois do meu aniversário resolvi ir de bicicleta à India. Nunca me hei-de esquecer o local exacto onde tomei essa decisão, numa colina ingreme perto de Lismore. A meio da subida olhei orgulhosamente para as minhas pernas que pedalavam com esforço e pensei que se continuasse a fazer este movimento por muito tempo chegaria à India.”
“Quando fiz 10 anos os meus pais deram-me uma bicicleta em segunda mão e o meu avô mandou-me um atlas também em segunda mão. Eu já gostava de andar de bicicleta mas nunca tinha tido uma e pouco tempo depois do meu aniversário resolvi ir de bicicleta à India. Nunca me hei-de esquecer o local exacto onde tomei essa decisão, numa colina ingreme perto de Lismore. A meio da subida olhei orgulhosamente para as minhas pernas que pedalavam com esforço e pensei que se continuasse a fazer este movimento por muito tempo chegaria à India.”
E aos 31 anos, depois de ter tratado
do pai e da mãe até ao fim da vida deles, chegou à India; foi sozinha de
bicicleta, demorou 6 meses e gastou 64 libras. Escreveu um livro – o primeiro
de muitos – “Full Tilt – From Dunkirk to
Delhi by bike”. Quando lhe perguntam se é corajosa ela diz que não, que é optimista
e explica: “Os optimistas só acreditam nos desastres depois de eles acontecerem, e
por isso não são medrosos, que é o contrário de ser corajoso.”
De acordo com rectificação
que fiz da sua carta, Dervla é uma fortissima “sagitária” porque tem o Sol, Mercúrio,
Marte, Vénus e o Ascendente nesse signo. Júpiter e Neptuno estão na casa 9 por
isso sonhou (Neptuno) e realizou (Júpiter) viagens (casa 9) toda a sua vida, e
foi durante essas aventuras (Sagitário) que se relacionou com afegãos, etíopes,
madagasquenhos ou russos da sibéria (Vénus), teve uma prolífica carreira de
escritora (Mercúrio) o que lhe permitiu viver a vida nos seus termos, com
autonomia, desafiando as convenções da época (Marte). Viveu plenamente o seu potencial de
aventureira (Sol) e conseguiu tudo isto em parte porque encarrou o mundo com optimismo
(Ascendente em Sagitário), certa de que a sua flecha iria longe e chegaria ao
alvo.
Dervla Murphy
jovem durante uma das suas viagens
Luiza Azancot
Que gira, a personalidade da Dervla Murphy! Sobretudo por vir donde veio, ter nascido numa época em que não se fazia nada disto e ter-se literalmente atirado à vida. Digna da maior admiração, a meu ver. Obrigada! pcp
ResponderEliminarFiquei encantada com esta história Luiza...vá se saber qual é o elo que me encantou...mas senti um eco enorme aqui dentro!
ResponderEliminarParabéns por este texto...
Astrid Annabelle
Minha querida amiga, que texto maravilhoso.
ResponderEliminarQuero saber mais sobre esta viajante. Identifico-me imenso com a sua versão de optimista.
Sabes que uma sagitária lá em casa, mas não a revejo aqui nem um bocadinho.
bjos
Desde muito cedo que gostei de viajar, e fi-lo muitas vezes sozinho. Como escrevi uma vez, o prazer da partida assentava no prazer do regresso. Como se a totalidade só se cumprisse com um bilhete de ida e volta. Perdi o gosto pela viagem solitária, faz-me falta a companhia. Talvez me tenha enchido de inseguranças que aos 20 não tinha, talvez seja apenas o desejo da partilha que me acompanha em muitos outros aspectos da vida.
ResponderEliminarEmbarquei numa viagem intelectual, de facto. Uma viagem estimulante, desafiante - e difícil. Tenho um bilhete de "muita" ida (porque não sei onde irei parar), tenho a sorte da partilha com quem domina melhor estes temas, tenho a mesma curiosidade que tinha aos 20 anos, temperada pela idade que nos dá mais sabedoria e menos capacidade. Só me falta perceber como enquadro o prazer do regresso, que sempre me foi tão fundamental...
Belo post, como sempre. Obrigado pela referência ao editor e dono do estabelecimento.
É fantástica a leitura do mundo através da sabedoria da "Astróloga"...
ResponderEliminarXi coração
João Diogo