A riqueza da informação
que hoje circula na net parece uma cascata inesgotável, puxando pelo melhor do
ser humano, empenhado em partilhar informação útil. Um verdadeiro serviço
público, de valor incalculável.
Depois do Rijksmuseum de
Amesterdão, chegou a vez de outros museus (de Nova Iorque) oferecerem online
centenas de livros. Com um simples clique, revisitamos exposições
espectaculares, de há meio século, mas que em nada perderam o interesse e a
actualidade.
Link do GUGGENHEIM, com 65 títulos sobre artistas como Klimt, Kandinsky,
Francis Bacon ou Munch:
http://www.guggenheim.org/new-york/exhibitions/publications/from-the-archives?layout=default&filter_type=archive&reset=0&start=20
A título de exemplo, algumas
das edições disponíveis:
A Century in Crisis:Modernity and Tradition in the Art of Twentieth-Century China
Contributions by Julia F. Andrews, Christina
Chu, Shan Guolin, Mayching Kao, Kuiyi Shen, Jonathan Spence, and Xue Yongnian Published in 1998 336 pages, fully illustrated Hardcover |
China: 5,000 Years,Innovation and Transformation in the Arts
Contributions by Helmut
Brinker, James Cahill, Elizabeth Childs-Johnson, Patricia Ebrey, Sherman Lee,
and Zhang Wenbin Published in 1998 504 pages, fully illustrated |
Kandinsky in Munich:1896–1914
Contributions by Peter
Jelavich, Carl E. Schorske, and Peg Weiss Published in 1982 312 pages, fully illustrated Softcover, 8.15 x 10 inches |
On the Spiritual inArt
Edited by Hilla Rebay Published in 1946 154 pages, fully illustrated Hardcover |
Link do MET:
http://www.metmuseum.org/research/metpublications/about-metpublications
Além da abundante
produção editorial do Met, as próprias obras do seu acervo também são
acessíveis através do portal, sem sairmos de casa. Para se ter uma ideia do
ritmo frenético da actividade deste Museu, alguns parâmetros eloquentes: mais
de 30 exposições por ano, publicação regular de periódicos de referência a
nível mundial, profusão mensal de catálogos e livros de arte ombreando com a
Taschen em qualidade.
Fundado em 1870, o Met tem
procurado incorporar o máximo de avanços tecnológicos, para simplificar o
acesso ao site e ampliar o seu público. Em 2000, lançou 2 publicações digitais:
Connections e o cronograma Heilbrunn de História da Arte,
com 300 cronologias, 900 ensaios e cerca de 7000 obras de arte, explicadas por
técnicos do Museu. Connections dá a conhecer os pareceres e interpretações dos especialistas.
O desafio mantém-se para aproximar o
grande público da arte, informando-o gratuitamente, entusiasmando-o e envolvendo-o
nos debates candentes ou no trabalho de detective dos historiadores para
certificarem a autoria das obras-primas e contextualizá-las. Agora, já não é preciso
viver na Big Apple para acompanhar a catadupa de novidades do Met e do
Guggenheim.
CONTRIBUTO
ESPANTOSO DA GULBENKIAN
Também
em Portugal há iniciativas que, com menos recursos, ajudam a divulgar a cultura
e a ciência, através de exposições inspiradoras. «360º Ciência Descoberta» é disso exemplo. Está patente ao público até
2 de Junho, recomendando-se as visitas guiadas, que estão anunciadas no site da
Fundação(1). Naturalmente que merecerá um gin
específico, mas fica já o alerta para esta mostra espantosa, que revela o contributo da grande gesta dos
Descobrimentos para a Ciência Moderna – um feito desconhecido da maioria
dos portugueses.
De
facto, a história nacional tem oscilado entre a apologia de um par de figuras
maiores, elevadas a heróis míticos, e o desacreditar das possibilidades do
país, numa variação bipolar que, desde meados do século XVIII, toca os dois
extremos. Tudo muito emotivo, simplista e fundamentado em convicções com pouca
ou nenhuma base científica.
Nesse
sentido, «360º» tem o mérito de desvendar uma dimensão bem realista (mas
ignorada) da história, que segue uma linha hoje em voga nos meios académicos anglófonos,
ao reconhecer a importância da sociedade no seu todo, i.e. a influência do cidadão
comum e anónimo no curso dos acontecimentos, sem se restringir ao papel desempenhado
pelos líderes e demais autoridades instituídas.
Começando
pelas peças medievais e evocando referências da Antiguidade clássica, «360º»
revela as raízes dos famosos avanços científicos do século seguinte,
impossíveis e até inexplicáveis sem a progressão do saber gerada pelos
Descobrimentos portugueses e espanhóis. Até aqui, a história da ciência
costumava fixar-se nas figuras de proa do século XVII em diante,
maioritariamente britânicas, holandesas ou de outras nacionalidades bem distantes
dos países peninsulares. Mas omite um fenómeno inédito, ocorrido durante e por
causa dos Descobrimentos marítimos.
Com o
início da navegação arriscadíssima em alto mar –abandonando as águas seguras do
Mediterrâneo – a prática náutica passou a exigir aos membros comuns da
tripulação dos galeões lusos o uso de fórmulas matemáticas e a manipulação de instrumentos sofisticados,
necessários para o cálculo preciso de localizações e a identificação dos
melhores rumos. Tudo tarefas vitais nas viagens em pleno oceano. Como costuma
alertar o Comissário da exposição (Prof.Henrique Leitão): temos de desfazer o
mito do povo de aventureiros, que enfrentou
as agruras do Atlântico em cascas de noz, adoptado por uma certa narrativa
da história pátria, bem intencionada mas pouco factual. Ao invés, tratou-se de
um empreendimento muitíssimo preparado, com décadas de antecedência e
sustentado por uma sólida formação técnica, marcada pelo rigor e pela
acumulação de saber (obviamente, em segredo de Estado), que permitiu a várias
gerações de portugueses percorrer caminhos nunca antes navegados, e que só se
abriram a outros países (bastantes anos depois), quando conseguiram ter acesso
aos conhecimentos náuticos precocemente dominados pela marinha portuguesa. Durante
todo o século XVI, assistiu-se ao afinar constante (e bem programado, sendo
tudo anotado nos diários de bordo) de novas técnicas, favorecendo a rápida
progressão marítima que espantava as outras potências da época. De facto, o
nosso domínio dos mares foi alcançado a uma velocidade vertiginosa. Uma conquista
notável e invulgar, que um historiador norte-americano especializado neste
período considerava um salto qualitativo bem maior do que a chegada do Homem à
lua.
Assistiu-se
também à democratização de saberes complexos, até à data confinados a uma elite
ínfima, maioritariamente ligada ao clero, de onde derivaram para as
universidades. A novidade estava no facto de simples marinheiros, praticamente analfabetos,
manejarem a sextante como pouquíssimos faziam em terra firme… Era uma questão
de vida ou de morte. Tinha razão Camões quando cantava: A necessidade aguça o engenho. Devemos também ao Poeta ter dado
ampla voz a tanta gente anónima, esforçada e valorosa, que soube aplicar com
acuidade e talento um vasto manancial de técnicas inovadoras, exigidas pelas
circunstâncias.
«Vede, Ninfas, que engenhos de
senhores
O vosso Tejo cria valerosos,
Que assim sabem prezar, com tais favores,
A quem os faz, cantando, gloriosos!» — Os Lusíadas, Canto VII«As armas
O vosso Tejo cria valerosos,
Que assim sabem prezar, com tais favores,
A quem os faz, cantando, gloriosos!» — Os Lusíadas, Canto VII«As armas
«As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
.....
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.» — Os Lusíadas, Canto I
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
.....
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.» — Os Lusíadas, Canto I
Além
do Catálogo da exposição, de imensa qualidade e a preço simbólico, vale a pena espreitar
o filme introdutório, em www.gulbenkian
.pt.
Entre Lisboa e Nova Iorque, os programas superabundam.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
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Belíssimas sugestões.
ResponderEliminarBoa semana.
Muito bom!
ResponderEliminarfq
Obrigadíssima pelos comentários tão simpáticos, MZ
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