Fotografia de JMAC, o homem de Azeitão |
Não tenho Facebook. Com uma frequência muito errática, não superior, estou certo, a três vezes por ano, entro na conta de gente próxima e por ali deambulo, qual turista em feira da ladra - com um interesse sociológico à cuca de uma oportunidade inesperada. Ao fim de quinze ou vinte minutos repito-me maçadoramente: não quero, e não vislumbro motivo para algum dia querer. Não vou entrar em considerações de privacidade ao nível da internet, de informações nossas com que alguém fica e que encheriam um livro de mil páginas; não argumento com o facto de não poder apagar-se o que lá está e que só se diluirá no éter dentro de vinte mil anos, o que torna o arremesso de plástico para o oceano num exercício de cidadania. Deixo de parte a utilização profissional desta rede social.
Raramente encontrei no FB tema que me interessasse. É mais fácil encontrar uma agulha num palheiro do que algo que valha a pena ler-se, com excepção, talvez, de gente criativa que dá motes desafiantes. Fora isso as pessoas comentam tudo de uma forma que me parece vazia de interesse, cheia de lugares-comuns que não ficam na memória, até porque muito poucos querem saber o que diz o próximo. Ou então investe-se tempo - normalmente tempo utilizável - a dizer que giro, adorei, estás o máximo, porque alguém pôs a fotografia do cão, do neto, da praia, de uma frase piedosa do Rabindranath Tagore transformada em cartaz motivacional.
Dizem-me que se encontram amigos antigos, que se fica a par das existências alheias ou do que faz furor no momento. O argumento contra, mais imediato, é a vantagem de se cultivarem amizades físicas, não virtuais. Quem tem 5000 amigos no FB - e eu sei de quem os tem - não é amigo de nenhum, apenas cultiva uma corte que sabe estar ávida de lhe espreitar o interior doméstico. O FB é, e perdoe-se a generalização sempre perigosa, o assassinato da privacidade na sua forma mais básica. Pouco falta para que alguém partilhe com o mundo a evolução da sua obstipação, disponibilizando tabelas nas quais se comparam frequências ou tempos médios entre...
Por outro lado, o FB é o paradigma de um época com contornos detestáveis, que se quer rápida, efémera, de consumo imediato, que deita para o lixo o tempo das coisas, o cuidado com a estética e com o estilo, que mata a proximidade e o cerimonial, que desnuda aos olhos alheios o que poderia ficar no recato. É uma época que ridiculariza os preceitos e as formalidades, que quer impor FB, twitters, sms e quejandos a tradições que têm séculos e que se manterão activas - ainda que lentas - mesmo quando as redes sociais tiverem sido descartadas em nome de algo mais invasivo ainda.
A esmagadora parte dos meus amigos - por quem tenho grande consideração - está no Facebook. Mesmo assim, peço a quem me está mais próximo que, no dia em que me detectarem um vago interesse em abrir conta, me questionem e depois me internem. Mas também pode ser ao contrário, que aqui, tal como na multiplicação, a ordem dos factores é arbitrária.
JdB
Muitos não ESTÃO no FB, SÃO FB, esta é a sua nova identidade. O propósito, o ânimo, do acontecer-se é publicar-se. Já poucos se bastam a si próprios, já poucos amantes preenchem o mundo com os dois. Também não tenho FB, renunciei a ser admirado por todos. Que me importam....
ResponderEliminarParabéns.
também não tenho e acho que nunca vou ter.
ResponderEliminarum texto muito interessante o seu.
gostei mesmo!
:)
ahniziv disse
ResponderEliminarNão podia concordar mais consigo. Também não tenho FB pelos mesmos motivos. Pergunto-me o porquê de as pessoas quererem uma exposição da sua vida privada a este ponto!?
Não só é ridículo como perigosíssimo.
Bom fim-de-semana
Querido João,
ResponderEliminarSubscrevo tudo o que disse, concordo 100%! Tenho FB apenas para votar em determinadas causas que só se acedem por aí ou para defender pessoas ou posições que só estão nessa rede. Dá-me muito gozo nunca lá ir e recusar todos os pedidos de amizade que por aí chegam...
Beijinhos