Cantigas
de portugueses,
São como barcos no mar
São como barcos no mar
Vão de uma alma para outra,
Com risco de naufragar
Com risco de naufragar
(Fernando Pessoa)
Ao incentivar casamentos de portugueses com
naturais, Afonso de Albuquerque cria em todo o
Oriente português raças luso-asiáticas com alma própria. Raças que através dos
séculos souberam sentir e manter o que de bom receberam dos portugueses. Tendo em
comum centenas de palavras de origem portuguesa, as línguas crioulas que nasceram, tal como aconteceu
no Brasil e em África formaram uma teia de intercomunicação que inundou toda a
Ásia. Língua franca nos séculos XVI, XVII
e XVIII, obriga a Companhia de Jesus
(IHS) a aconselhar que missionários
estrangeiros aprendam português antes de embarcar.
No Oriente cristão as práticas religiosas são feitas em
português. Nomes, arquitectura, culinária, danças e cantigas ou são portuguesas
ou se mescladas, fazem lembrar Portugal.
João de Barros (1496-1570) autor das "Décadas da
Ásia", na sua "Gramática de Língua Portuguesa" (1539) diz que a língua portuguesa sobreviverá aos restos materiais da presença portuguesa na
Ásia! Os crioulos, são autênticos arquivos orais de cantigas e de contos lusos.
Ao ler o livro "De Chaul a Batticaloa" do
texano K. David Jackson, também autor de
"Os Construtores dos Oceanos",
professor de português em várias Universidades Americanas, linguista, dedicado estudioso
da Cultura Portuguesa no Oriente, sentimos amargura perante a indiferença
política quanto aos "crioulos". Herança inestimável deixada por Portugal, hoje considerada Património da Humanidade!
Em 1973, o antropólogo romeno Laurentiu Theban ao
visitar na Índia a Fortaleza de Chaul construída pelos portugueses em 1534,
situada 56 km a sul de Bombaim, arrasada
pelos maratas em 1739, verificou que na margem sul do rio Kundalika ( frente a
Chaul) junto ás ruínas do Morro de Chaul, existia uma comunidade que tinha como
única língua o crioulo! O provável, é estarmos perante um caso raro ou mesmo
único no mundo!!
Especialista em linguista, Theban apurou que este "crioulo"
falado na aldeia piscatória de Korlai era de origem portuguesa. Isolada
há 250 anos, esquecida pelo mundo, Korlai manteve a língua, a religião católica e as tradições portuguesas!
Como dissemos, os crioulos no Oriente como línguas
intimas, são uma teia de "entendimento". O Kristang de Malaca
"entende" o Papiá de Macau!
Em korlai, na missa de Natal as pessoas ao
cumprimentarem-se dizem "Bom Fest".
Em Batticaloa no Sri Lanca (Ceilão) ao despedirem-se dizem "Bom
Saodi"!
David Jackson ao deparar-se com o texto da canção de
Korlai "Sol já cobriu lume
rica", encontrou grande semelhança á canção "Sol, Istrella maas
lume" copiada em 1903 por Tavares de Melo em Colombo (Ceilão).
Em 1983 organizado por Lindley Cintra, deu-se em Lisboa
um Congresso sobre a "Situação Actual da Língua Portuguesa no Mundo",
onde Jerome Rosário falante do crioulo de Korlai a convite do linguista Clancy
Clements recitou em crioulo o conto do "Rat su histor".
Em 1987 em Korlai, Helena de Sousa cantou "Maldita Maria Madulena, Maldita
Firmoza".
Monsenhor Sebastião Dalgado no seu livro
"Influência do Vocabulário Português em Línguas Asiáticas", considera
"o português de Ceilão como o
dialecto crioulo por excelência", provavelmente devido ao predomínio de
vocábulos portugueses na língua cingalesa.
A aldeia de Korlai é caso único. A comunidade da Igreja
de Nossa Senhora do Monte Carmelo, única congregação católica no distrito de
Kobala com cerca de novecentas famílias a falar crioulo como
língua única, levou Clancy Clements a afirmar ter havido uma "crioulização"
quási imediata com a chegada dos portugueses entre 1515 e 1520!
Chaul, conhecida pelos gregos como "Symulla"
era uma famosa feitoria comercial no Mar Índico. Hoje, coberta por densa
vegetação é arquivo de ruinas e inscrições portuguesas.
Em 1554 publicou-se em Lisboa a "Cartilha em Lingoa
Tamul e Portugues" por Vicente Nazareth; em 1604 em NagasaKi
a "Arte da Lingoa de Japam pelo Jesuíta João Rodrigues "
(conhecido no Japão como Tçuzu, o Intérprete); em 1640 em Rachol (Goa) a
"Arte da Lingoa Canarim" por Tomás Estevão, etc. David Lopes em 1936
publica "A Expansão da Língua Portuguesa no Oriente nos Séculos XVI, XVII
e XVIII".
Gerson da Cunha (1844-1900), nascido em Goa, historiador e arqueólogo, autor de a "Contribuição Para o Estudo da
Numismática Indo-Portuguesa confirma a previsão de João de Barros, acrescentando
apenas, que só as moedas resistem à acção do tempo. Quando estas desaparecerem só restaram as marcas verbais que tanto
enriqueceram as línguas do Oriente.
As moedas
indo-portuguesas foram cunhadas manualmente até ao reinado de D. Luís. Cunharam-se em Goa (1510), Malaca (1511),
Cochim (1530), Ceilão (1598),
Baçaim e Damão (1611), Chaul (1646)
e Diu (1668). Hoje raras, são do maior
interesse numismático.
Em termos de aventura, a Epopeia Portuguesa é a Comunhão
de Portugal com o Mar!
"Mara nutem fundu minha vida par tira" (O
mar não é tão fundo que me tire a vida)
FMCN, 14 julho de 2013
Interessantíssimo este esboço histórico sobre a presença Portuguesa na Índia
ResponderEliminarInteressantíssimo este esboço histórico sobre a presença Portuguesa na Índia
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