02 outubro 2013

Tanegashima e Nagasaki (Portugal no Mundo)


As exóticas Ilhas Japonesas no Oceano Pacífico a que Marco Polo chamou  Cipangu  sempre fascinaram os  portugueses,  primeiros europeus a visitar o Japão.
Ilhas de origem vulcânica, onde furacões, sismos e tsunamis são uma constante, moldaram um povo único, de carácter e personalidade  fortes, de rituais rígidos em que a honra supera a morte! Mal  entendidos pela Civilização Ocidental, que por vezes os apelidou de bárbaros, nome com que curiosamente os portugueses foram crismados quando chegaram ao Japão (Namban-jin/bárbaros do sul), as qualidades e defeitos do povo  japonês mais não são de que "balsamos consoladores das duras misérias deste mundo"!   
Para melhor entender o "espirito" do povo japonês, povo que tem o culto da flor, onde a flor da Cerejeira (Sakura) tem valor simbólico igual ao da  Bandeira,  devemos ler  "Relance da Alma Japonesa" de  Wenceslau de Moraes, escritor nascido em 1854 em Lisboa, oficial da Marinha de Guerra, professor do Liceu em Macau, Cônsul em Kobe e Osaka no Japão em 1899, País pelo qual se apaixonou e aonde ficou a viver . Dai-Nippon (O Grande Japão) e o  "O Culto do Chá" escritos por Wenceslau, são autênticos monumentos dedicados à Civilização Japonesa.


Em 1954, a comemorar os cem anos do nascimento de Wenceslau de Moraes que viveu e morreu  (1929)  em  Tokushima , foi  inaugurado um Memorial em que no altar foram depositados ramos verdes de Sakaki, árvore sagrada do Xintoísmo/Caminho dos deuses. 
Na festa dos mortos, que Wenceslau tão bem descreveu no seu livro "Bon-Odori em Tokushima",  a juventude japonesa  alegremente dança e canta á volta do seu Monumento!    
 Armando Martins Janeira (1914-1988), diplomata, especialista em Wenceslau de Moraes, igualmente apaixonado pelo Japão onde foi Embaixador,  escreveu  várias obras  como "O Impacte Português sobre a Civilização Japonesa" e "NÔ", editado em 1954  em Tóquio,  onde o autor reúne as mais belas poesias da  Literatura e Teatro Japonês.
Em 1543, portugueses vindos de Malaca, António  Mota, Francisco Zeimoto e António Peixoto, aventureiros em comércio por conta própria, fora do  "serviço da Coroa", por sorte do acaso chegam à Ilha de Tanegashima. Fernão Mendes Pinto (1510-1583) ali chega em 1544.
A sua empolgante obra  "Peregrinação", editada em 1614, obra  que a americana Rebecca Catz classifica como "Sátira (verdade deformada) e anti-cruzada",  é um escrito de profunda filosofia  moral e religiosa.
A "Peregrinação" é "Acto de Contrição" de um aventureiro, que  perante o  corpo  incorrupto de S. Francisco Xavier na chegada a Goa, de quem era amigo e admirador, de algum modo impressionado,  entrega a sua fortuna e o tempo que lhe resta  de vida  à Companhia de Jesus.   Será  mais um  Milagre de S. Francisco Xavier??
A "Peregrinação", como livro de Viagens e Aventura,  só  com as  "Viagens de Marco Polo" (1254-1324) pode ser comparada.  Fernão Mendes Pinto, figura querida no Japão, tem estátua de António Duarte no Pragal (Almada), onde viveu os últimos anos da sua vida.


A comemorar a chegada dos portugueses e da introdução das "Armas de Fogo", os japoneses realizam em Tanegashima a "Festa da Espingarda". Um cortejo com milhares de participantes  vestidos com trajes de aventureiros portugueses, Caravela, bandeiras e símbolos portugueses e uma réplica de Fernão Mendes Pinto, desfilam pelas ruas da Cidade.                    


Com o corte de relações ente a China e o Japão em 1549, o comércio entre os dois Países passa a ser feito por intermédio dos portugueses, que após o acordo luso-chinês do Comandante Leonel de Sousa em 1554,  se estabelecem em Macau em 1557.
A "Nau do Trato ou Barco Negro" vinda de Macau, ao trocar no Japão seda e cerâmica chinesas por prata japonesa, deu origem ao que chamamos: "Negócio da China"!
A viver em Nagasaki, S. Francisco Xavier, Titulado Apóstolo das Índias pelo Papa Urbano VIII em 1623,  desembarca  em Kagoshima na  Ilha de Kyushu em 1549.  A Cidade de Nagasaki  fundada por navegadores portugueses na segunda metade do século XVI junto a vila piscatória na Baía de Nagasaki, foi em 1580 doada  aos Jesuítas pelo  Daimyo Omura  Sumitada, que se converteu ao cristianismo com o nome de D. Bartolomeu.
Ao inverso de Hiroshima  que foi totalmente arrasada no bombardeamento nuclear no fim da 2ª Guerra Mundial, Nagasaki, Cidade Simbólica do Cristianismo no Japão, construída á maneira portuguesa em colinas de terreno acidentado, sofreu menos estragos, quando escusadamente foi  bombardeada por gente,  cujo a ignorância é de "bradar aos céus"!!   
Em 1552, Luís de Almeida (1525-1583) medico jesuíta  a viver em Funai (actual  Oita), funda no Japão  o primeiro Hospital e uma Casa de recolhimento para crianças abandonadas.
Luís de Almeida, com estátua em Oita, é no Japão considerado um Santo.  
Em 1582, pela mão dos Jesuítas, a 1ª Embaixada japonesa composta por quatro jovens Daimyos, sai de Nagasaki a caminho da Europa, desembarca em Lisboa e  segue para Roma  onde é recebida pelo Papa Gregório XIII (1572-1585).



Nagasaki esteve em poder dos Jesuítas até 1587, ano em que a religião cristã foi proibido  no Japão. Em 5 de Fevereiro de 1597  vindos de Kyoto 26 cristãos foram crucificados em Nagasaki, sendo os primeiros mártires cristãos do Japão. Beatificados  pelo Papa Urbano VIII em 1627, foram canonizados em 1862 pelo Papa Pio IX.
Em atitude de tolerância e talvez de arrependimento, os japoneses  em sua Memória  construíram em 1962 um imponente Monumento em Nagasaki.     



Em 1639 os portugueses com a ajuda da intriga holandesa são expulsos do Japão.  Nagasaki, refugio de cristãos, continua no entanto a ser o Centro  Cripto-Católico do Japão!  
A influencia portuguesa no Japão faz-se notar no inúmero vocabulário  introduzido na língua japonesa (arigatô/obrigada), no cristianismo, na astronomia,  medicina, arte de navegar, cartografia, na Arte Namban (apreciada em todo o Mundo), culinária (doçaria), costumes, etc.
Além das Armas de Fogo, os portugueses introduziram no Japão a Imprensa.
Em 1604, o jesuíta João Rodrigues, conhecido no Japão como Tçuzu, que significa o intérprete, escreveu em Nagasaki a "Arte da Lingoa de Japam".  A primeira gramática em língua japonesa foi  igualmente escrita em Nagasaki  por um jesuíta português.    




Os portugueses continuam fascinados pela Civilização Japonesa.
Os japoneses  respeitam e guardam  com orgulho a velha  Herança Lusitana.   


FMCN

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