As exóticas Ilhas Japonesas no Oceano Pacífico a que
Marco Polo chamou Cipangu sempre fascinaram os portugueses,
primeiros europeus a visitar o Japão.
Ilhas de origem vulcânica, onde furacões, sismos e
tsunamis são uma constante, moldaram um povo único, de carácter e personalidade
fortes, de rituais rígidos em que a
honra supera a morte! Mal entendidos
pela Civilização Ocidental, que por vezes os apelidou de bárbaros, nome com que
curiosamente os portugueses foram crismados quando chegaram ao Japão (Namban-jin/bárbaros
do sul), as qualidades e defeitos do povo japonês mais não são de que "balsamos
consoladores das duras misérias deste mundo"!
Para melhor entender o "espirito" do povo
japonês, povo que tem o culto da flor, onde a flor da Cerejeira (Sakura) tem
valor simbólico igual ao da Bandeira, devemos ler "Relance da Alma Japonesa" de Wenceslau de Moraes, escritor nascido em 1854 em
Lisboa, oficial da Marinha de Guerra, professor do Liceu em Macau, Cônsul em
Kobe e Osaka no Japão em 1899, País pelo qual se apaixonou e aonde ficou a
viver . Dai-Nippon (O Grande Japão) e o
"O Culto do Chá" escritos por Wenceslau, são autênticos
monumentos dedicados à Civilização Japonesa.
Em 1954, a comemorar os cem anos do nascimento de Wenceslau
de Moraes que viveu e morreu (1929) em
Tokushima , foi inaugurado um
Memorial em que no altar foram depositados ramos verdes de Sakaki, árvore
sagrada do Xintoísmo/Caminho dos deuses.
Na festa dos mortos, que Wenceslau tão bem descreveu no
seu livro "Bon-Odori em Tokushima", a juventude japonesa alegremente dança e canta á volta do seu
Monumento!
Armando Martins
Janeira (1914-1988), diplomata, especialista em Wenceslau de Moraes, igualmente
apaixonado pelo Japão onde foi Embaixador, escreveu várias obras como "O Impacte Português sobre a
Civilização Japonesa" e "NÔ", editado em 1954 em Tóquio, onde o autor reúne as mais belas poesias da Literatura e Teatro Japonês.
Em 1543, portugueses vindos de Malaca, António Mota, Francisco Zeimoto e António Peixoto,
aventureiros em comércio por conta própria, fora do "serviço da Coroa", por sorte do
acaso chegam à Ilha de Tanegashima. Fernão Mendes Pinto (1510-1583) ali chega
em 1544.
A sua empolgante obra "Peregrinação", editada em 1614,
obra que a americana Rebecca Catz classifica
como "Sátira (verdade deformada) e anti-cruzada", é um escrito de profunda filosofia moral e religiosa.
A "Peregrinação" é "Acto de Contrição"
de um aventureiro, que perante o corpo
incorrupto de S. Francisco Xavier na chegada a Goa, de quem era amigo e
admirador, de algum modo impressionado, entrega a sua fortuna e o tempo que lhe resta de vida à Companhia de Jesus. Será mais um Milagre de S. Francisco Xavier??
A "Peregrinação", como livro de Viagens e Aventura,
só com as "Viagens de Marco Polo" (1254-1324)
pode ser comparada. Fernão Mendes Pinto,
figura querida no Japão, tem estátua de António Duarte no Pragal (Almada), onde
viveu os últimos anos da sua vida.
A comemorar a chegada dos portugueses e da introdução das
"Armas de Fogo", os japoneses realizam em Tanegashima a "Festa
da Espingarda". Um cortejo com milhares de participantes vestidos com trajes de aventureiros
portugueses, Caravela, bandeiras e símbolos portugueses e uma réplica de Fernão
Mendes Pinto, desfilam pelas ruas da Cidade.
Com o corte de relações ente a China e o Japão em 1549,
o comércio entre os dois Países passa a ser feito por intermédio dos
portugueses, que após o acordo luso-chinês do Comandante Leonel de Sousa em
1554, se estabelecem em Macau em 1557.
A "Nau do Trato ou Barco Negro" vinda de
Macau, ao trocar no Japão seda e cerâmica chinesas por prata japonesa, deu
origem ao que chamamos: "Negócio da China"!
A viver em Nagasaki, S. Francisco Xavier, Titulado
Apóstolo das Índias pelo Papa Urbano VIII em 1623, desembarca
em Kagoshima na Ilha de Kyushu em
1549. A Cidade de Nagasaki fundada por navegadores portugueses na segunda
metade do século XVI junto a vila piscatória na Baía de Nagasaki, foi em 1580 doada
aos Jesuítas pelo Daimyo Omura Sumitada, que se converteu ao cristianismo com
o nome de D. Bartolomeu.
Ao inverso de Hiroshima que foi totalmente arrasada no bombardeamento
nuclear no fim da 2ª Guerra Mundial, Nagasaki, Cidade Simbólica do Cristianismo
no Japão, construída á maneira portuguesa em colinas de terreno acidentado, sofreu
menos estragos, quando escusadamente foi
bombardeada por gente, cujo a ignorância
é de "bradar aos céus"!!
Em 1552, Luís de Almeida (1525-1583) medico jesuíta a viver em Funai (actual Oita), funda no Japão o primeiro Hospital e uma Casa de
recolhimento para crianças abandonadas.
Luís de Almeida, com estátua em Oita, é no Japão
considerado um Santo.
Em 1582, pela mão dos Jesuítas, a 1ª Embaixada japonesa composta por quatro jovens Daimyos, sai de Nagasaki a caminho da Europa, desembarca em Lisboa e segue para Roma onde é recebida pelo Papa Gregório XIII (1572-1585).
Em 1582, pela mão dos Jesuítas, a 1ª Embaixada japonesa composta por quatro jovens Daimyos, sai de Nagasaki a caminho da Europa, desembarca em Lisboa e segue para Roma onde é recebida pelo Papa Gregório XIII (1572-1585).
Nagasaki esteve em poder dos Jesuítas até 1587, ano em
que a religião cristã foi proibido no
Japão. Em 5 de Fevereiro de 1597 vindos
de Kyoto 26 cristãos foram crucificados em Nagasaki, sendo os primeiros
mártires cristãos do Japão. Beatificados pelo Papa Urbano VIII em 1627, foram
canonizados em 1862 pelo Papa Pio IX.
Em atitude de tolerância e talvez de arrependimento, os
japoneses em sua Memória construíram em 1962 um imponente Monumento em
Nagasaki.
Em 1639 os portugueses com a ajuda da intriga holandesa
são expulsos do Japão. Nagasaki, refugio
de cristãos, continua no entanto a ser o Centro Cripto-Católico do Japão!
A influencia portuguesa no Japão faz-se notar no inúmero
vocabulário introduzido na língua
japonesa (arigatô/obrigada), no cristianismo, na astronomia, medicina, arte de navegar, cartografia, na Arte
Namban (apreciada em todo o Mundo), culinária (doçaria), costumes, etc.
Além das Armas de Fogo, os portugueses introduziram no
Japão a Imprensa.
Em 1604, o jesuíta João Rodrigues, conhecido no Japão
como Tçuzu, que significa o intérprete, escreveu em Nagasaki a "Arte da
Lingoa de Japam". A primeira
gramática em língua japonesa foi igualmente escrita em Nagasaki por um jesuíta português.
Os portugueses continuam fascinados pela Civilização
Japonesa.
Os japoneses respeitam e guardam com orgulho a velha Herança Lusitana.
Excelente texto.
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