27 dezembro 2013

"Um país de Bimbys"


Não sei o que motiva tantas compras, pontuais ou continuadas, do artigo em questão. Não sei se é o apego aos gadgets. Na realidade, não sei exactamente o que significa a palavra inglesa que um dos dicionários online traduz (também) por 'engenhoca'. Uma bimby é um gadget

Entre um período e outro - um lustro, por aí - vivi sem esse 'dispositivo' (outra tradução para gadget). Nos extremos desse quinquénio usei o 'instrumento' (outro termo possível) meia dúzia de vezes, se tanto. Reconheço-lhe as virtudes e, no entanto, não queria uma bimby nem que me fosse dada. E mesmo se me pagassem… 

Cozinhar não me constitui uma obrigação. É um gosto, um ioga gastronómico, um tempo durante o qual oiço música variada - de Ricardo Ribeiro a toadas chinesas, passando por Carlos Gardel e Mendelssohn, com uma passagem feliz por Tony de Matos. Tenho a fortuna de o poder fazer num recinto novo, bem desenhado, confortável, onde posso passar horas assando, picando, agitando, provando. Reduzirem-me à bimby - que faz sopas em 20 minutos, caldeiradas no mesmo período de tempo e cozido à portuguesa no espaço de um instante - é impedirem-me de um prazer demorado, reduzirem-me a leitura a short stories, vedarem-me a audição de um concerto de Beethoven porque a invenção (outra possibilidade ainda) apita intermitentemente antes do início do terceiro andamento.

"Cozinhar não é serviço, meu neto", disse ela. "Cozinhar é um modo de amar os outros", diz Mia Couto n' O Fio das Missangas. Cozinhar com a bimby é amar em velocidade supersónica, beijar rapidamente e, ao segundo afago de um corpo que se deseja, ser interrompido porque a varoma deu sinal de vida. É também por isso que o artigo do Wall Street Journal me inquieta. Sou sensível ao estado da nação e aos gastos aparentemente supérfluos dos meus conterrâneos. Porém, não deixo de preocupar-me com a perda de hábitos salutares. E cozinhar com vagar é um deles. 

JdB     


1 comentário:

  1. Querido João,
    Discordo em absoluto, a Bimby tira-nos a parte chata da cozinha e deixa-nos tempo para o bem bom, é preciso é ser criativo.
    Ainda há pouco conversava com uma cunhada, ótima cozinheira, que resistiu até agora à Bimby e me confessava: não percebo porque fui tão teimosa, o tempo que eu perdi...
    Continue essa campanha que tem graça mas eu prefiro a da caneta de tinta permanente...
    Beijinhos

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