07 julho 2014

Vai um gin do Peter’s?

Continuando o gin de 23 de Junho, a completar o mini-guia sobre locais menos conhecidos de Lisboa, seguem  mais nove dicas e um alerta sobre a possibilidade de visita ao Palácio da Ega (ref. no gin anterior), por marcação, desde que se reúna um número mínimo de participantes.    

 

PALÁCIO DAS NECESSIDADES, actual Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Alcântara (não permite visitas)



Mandado erguer por D.João V, foi a única residência real que sobreviveu ao grande terramoto de 1755. Abrange também as antigas instalações do Convento de Nossa Senhora das Necessidades, com capela própria e inúmeras salas com elementos decorativos em talha dourada e belas esculturas, que o tornam num conjunto arquitectónico valioso.
Quando terminou a monarquia, passou a ser sede do MNE, tendo as peças de ourivesaria transitado para o Museu de Arte Antiga e parte do mobiliário para os palácios da Ajuda e de Queluz (todos eles visitáveis).


PALÁCIO BURNAY, na rua da Junqueira, a Alcântara (visitável por marcação)


Mandado edificar por D. César de Meneses, entre 1701 e 1734, teve várias obras de remodelação e mudanças de propriedade, chegando a ser a residência de Verão dos patriarcas de Lisboa, até ser adquirido pelo Estado, em 1940.
A maioria das peças do sumptuoso recheio foi vendida em 1936, como o mobiliário, as tapeçarias, as telas e as esculturas. Mantém, no entanto, as pinturas murais, onde se destacam as da escadaria principal em trompe-l’oeil, criando um efeito monumental de relevos. Hoje, aloja o Instituto de Investigação Científica Tropical. 

QUINTA DOS AZULEJOS, nos Paços do Lumiar, hoje Colégio Manuel Bernardes (visitável mediante marcaçção)


O edifício principal foi edificado, no início do século XVIII, pela família do ourives Colaço da Cruz/Colaço Torres com uma decoração notável. O conjunto inclui a casa, a capela e os jardins profusamente ornamentados de arcos, lagos, bancos e colunata octogonal, revestidos por azulejaria policromada e de bom esmalte, representando cenas bíblicas, de caçadas e da mitologia clássica. Proveniente da Real Fábrica de Faianças do Rato, foi enriquecendo ao longo do tempo, reunindo estilos diferentes, do barroco ao rococó.

Local de visita da alta sociedade, a Quinta foi frequentada pela família real, desde o tempo de D.José, chegando a ser residência temporária da rainha D.Maria I, no final do século XVIII. A partir de meados do século XIX, mudou consecutivamente de proprietário e de designação (ex: «Quinta do Espírito Santo»), até ser transformada em colégio privado, a partir de 1935.


IGREJA DO CONVENTO DA ENCARNAÇÃO, entre a av. da Liberdade e o Hospital de S.José (visitável em dias de culto)



Recuamos ao reinado de Filipe II para cumprir uma disposição da filha de D.Manuel I – a Infanta D.Maria – de erigir um convento de religiosas sob a invocação de Nossa Senhora da Encarnação. O edifício, em linguagem barroca, guarda um dos tesouros mais notáveis em talha dourada e em azulejaria.
Conheceu as maiores intervenções nos reinados de D.João V e de D.José, sobressaindo no seu interior: a colecção de azulejos azul e brancos de setecentos, característicos do Ciclo dos Grandes Mestres lisboetas; o retábulo-mor de 1719, trabalhado em prata e atribuído a João Frederico Ludwig; as pinturas e a talha dourada da capela-mor; as pinturas no convento atribuídas a Bento Coelho da Silveira e a André Gonçalves e seus discípulos.

  

IGREJA DE SÃO MIGUEL, perto da Sé (visitável quando abre para o culto)



A  fachada sóbria, com duas torres sineiras, não sugere o interior rico em talha dourada e tecto de madeira pintada, além de painéis ornamentais, de nave única.
Embora date do início da nacionalidade, foi reedificada entre 1673 e 1720, em estilo maneirista e barroco.


IGREJA DE SANTA CATARINA, ao Chiado (visitável nos horários de abertura ao culto)


Uma jóia do barroco, salienta-se pela talha dourada do retábulo da capela-mor da autoria de Santos Pacheco (1728), pelas 6 telas de André Gonçalves relacionadas com a Eucaristia, pelo fresco do tecto de António Pimenta Rolim (1689), e ainda pelas imagens de Santa Catarina, S. Paulo Eremita e de Sto. Antão a ladear o Sacrário.
Ao longo do transepto encontra-se: a capela lateral do Senhor Jesus da Pobreza com o embutido de pedra florentino; a capela de Nossa Senhora da Atocha, gótica, oferecida, em 1681, pelo pintor de azulejos Gabriel del Barco; e as pinturas de Vieira Lusitano, na zona superior. Ao fundo da Igreja, vislumbram-se os estuques pintados por Giovanni Grossi, além do órgão setecentista.
Fundada em 1647 como igreja conventual, começou por ser dedicada ao Santíssimo Sacramento. A partir de 1835, passou a ser designada por Igreja de Santa Catarina, após a destruição da original, situada no Alto de Santa Catarina.

 

Palácio dos Condes da Calheta, no Largo dos Jerónimos (visitável com marcação prévia)



No século XVII, a zona do Palácio reunia as casas e quintas de D. João Gonçalves Câmara, quarto Conde da Calheta. A casa principal, característica das construções de seiscentos e setecentos, estende-se por dois andares, irregulares em altura, com a fachada sul voltada para o jardim, desfrutando de uma extensa varanda no primeiro andar e cinco grande janelas.
Posteriormente, foi adquirido pelo Rei D. João V, em conjunto com a Quinta do Meio. No reinado de D. José, funcionaram no Palácio as secretarias de Estado e o Arquivo Militar, além dos interrogatórios aos implicados no atentado contra o rei, em 1758.
Ao longo do século XX foi várias vezes intervencionado, nomeadamente para a Exposição do Mundo Português (1940). Hoje alberga o Jardim-Museu Agrícola Tropical.

Convento dos Cardaes, na Rua do Século, ao Príncipe Real (visitável aos Sábados à tarde e por marcação)


Um edifício pré-pombalino, de seiscentos, tem na igreja uma colecção extraordinária de azulejos holandeses (de Jan Van Oort), um magnífico altar-mor em talha dourada, embutidos em mármore, pintura, escultura e inúmeras outras peças de arte sacra.
O exterior sóbrio e austero abriga um interior barroco, fundado por D.Luísa de Távora como convento de carmelitas. Desde o final do século XIX que foi entregue a uma ordem religiosa vocacionada para a assistência a deficientes profundos, que ainda hoje funciona.   

Igreja da Madre de Deus, no Museu do Azulejo, em Xabregas (visitável no horário do Museu)


A construção do convento inicia-se sob a égide da Rainha D.Leonor (1509), sendo a Igreja do reinado de D.João III. Enriquecida ao longo dos séculos, em especial com o ouro do Brasil, por ordem de D.João V, constitui um exemplo notável do barroco português.  
Pinturas, painéis de azulejos e talha dourada forram este templo pertencente ao convento onde hoje está  alojado o Museu do Azulejo. O altar em estilo rococó revestido a ouro são verdadeiras jóias do património histórico da cidade.

Com estas sugestões completa-se o mini-guia dos lugares menos conhecidos de Lisboa, que vale a pena explorar.

Maria Zarco

(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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