Aubade (1937)
Hours before dawn we were woken by the quake.
My house was on a cliff. The thing could take
Bookloads off shelves, break bottles in a row.
Then the long pause and then the bigger shake.
It seemed the best thing to be up and go.
And far too large for my feet to step by.
I hoped that various buildings were brought low.
The heart of standing is you cannot fly.
It seemed quite safe till she got up and dressed.
The guarded tourist makes the guide the test.
Then I said The Garden? Laughing she said No.
Taxi for her and for me healthy rest.
It seemed the best thing to be up and go.
The language problem but you have to try.
Some solid ground for lying could she show?
The heart of standing is you cannot fly.
None of these deaths were her point at all.
The thing was that being woken he would bawl
And finding her not in earshot he would know.
I tried saying Half an Hour to pay this call.
It seemed the best thing to be up and go.
I slept, and blank as that I would yet lie.
Till you have seen what a threat holds below,
The heart of standing is you cannot fly.
Tell me again about Europe and her pains,
Who’s tortured by the drought, who by the rains.
Glut me with floods where only the swine can row
Who cuts his throat and let him count his gains.
It seemed the best thing to be up and go.
A bedshift flight to a Far Eastern sky.
Only the same war on a stronger toe.
The heart of standing is you cannot fly.
Tell me more quickly what I lost by this,
Or tell me with less drama what they miss
Who call no die for a god for a throw,
Who says after two aliens had one kiss
It seemed the best thing to be up and go.
But as to risings, I can tell you why.
It is on contradiction that they grow.
It seemed the best thing to be up and go.
Up was the heartening and the strong reply.
The heart of standing is we
cannot fly.
William Empson
***
Cocteau terá dito: sei que a poesia é indispensável, mas não sei a quê. W. H Auden, no
seu poema In memory of W. B. Yeats,
afirma: for poetry makes nothing happen.
Uso as duas citações a título provocatório, porque a descontextualização das frases permite que se diga tudo de tudo.
O poema com que abro este post foi analisado ontem na minha aula de mestrado. Como bom aluno que sou, entretive-me no fim de semana a lê-lo e a estudá-lo. É um poema complexo, a que acresce a minha dificuldade em ler poesia. Assim, fui pesquisar possíveis traduções ou estudos sobre este Aubade (sim, este, porque existem outros). Encontrei um em inglês que dizia mais ou menos isto (e resumo de forma quase obscena): W Empson viveu no Japão e terá tido uma relação amorosa com uma japonesa, supostamente referida no poema. Há quem diga que esta rapariga / mulher era esposa de alguém (dando um carácter de ilicitude à relação), embora haja quem afirme que era uma rapariga que viveria com o Pai (um tipo diferente de ilicitude). Empson terá dito que a relação entre ambos poderia dar origem a casamento, o que acabou por não se verificar. O poeta terá ainda afirmado a alguém que havia na altura uma recomendação para os ingleses não casarem com japonesas, porque ambos os países entrariam em guerra nos próximos anos.
Lido o resumo e uma ou outra apreciação,
algumas coisas do poema passaram a fazer sentido. Ora, na aula ninguém quis
saber do enquadramento histórico do poema ou das possíveis afirmações do poeta,
menos ainda da vida dele. Os intervenientes da aula divagaram pelas estrofes,
descortinaram metáforas, descodificaram frases cifradas. O simples terramoto com que abre o poema poderia ser uma alusão a outra coisa qualquer, a casa na falésia um código para não sei o quê. Eu, quadrado e seco de
criatividade, ative-me silenciosamente à explicação que tinha lido. Estava
sozinho, encostado a um canto onde os outros meninos da aula me gozariam caso me atrevesse à dissonância. Calei-me prudentemente - e com uma certa dose de cobardia.
Não é a primeira vez que isto me acontece academicamente.
O autor diz: “o cão ladra” ou “apanhei uma flor do jardim” e logo se levanta um bruaá de perplexidades e hipóteses díspares. Que o cão a ladrar é uma metáfora
para a ingratidão da vida, a rosa no jardim não é mais do que a pequenez que
somos face à imensidão do universo. Caricaturizo, óbvio. Mas será que um cão
não pode ser um cão? E colher uma rosa de um canteiro tem forçosamente de ser mais do que uma
actividade prosaica de fim de tarde? E o poeta, que já cá não está para dirimir a contenda, pode não ter querido dizer isso exactamente?
Terei sempre muita dificuldade em ler certa poesia.
Talvez por isso me atenha à mais simples, onde o menino órfão é com certeza o menino órfão. O limite da minha inquietude reside na decifração da expressão freira absorta.
JdB
Nota: para os fiéis leitores que estranharem o último parágrafo, sugiro a leitura do meu post de 6ªfeira passada, dia 26 de Setembro
JdB
Nota: para os fiéis leitores que estranharem o último parágrafo, sugiro a leitura do meu post de 6ªfeira passada, dia 26 de Setembro