18 setembro 2014

Club Noir

talvez seja apenas o negro dos teus olhos
quem aqui me traz, uma  outra vez
como outrora, a outro eu que fui, 
os palácios da Sereníssima República.
formas, num e noutro caso,
num e noutro tempo,
de contemplar um arremedo
de eternidade, essa beleza
para a qual faltam palavras.
talvez Lisboa e Veneza sejam irmãs
ou contas de um mesmo colar
separadas por séculos
mas por nada mais. talvez.
entras, como uma deusa rafaelita,
deslizando, trazendo contigo 
a fresca brisa da noite,
neste dancing club onde te espero.
mais uma vez, só os séculos
entre nós, são diferentes.
vejo o debruado dos teus olhos
pousarem ao de leve sobre o
negro velho da minha camisa
e somos já o mesmo mergulho, 
tu e eu.

talvez o Club Noir seja, afinal,
o templo em que te espero,
o templo em que te encontro.
por isso, nele ergui com estas
mesmas mãos que escrevem
uma outra casa a que chamo
casa.


gi.

(lisboa, setembro de 2014, escrito no telemóvel, ao balcão do club noir, a meio de uma qualquer madrugada.)

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