19 setembro 2014

Crónicas de um mestrando tardio (ou do regresso às aulas)

Faculdade de Letras de Lisboa, 15 de Setembro de 2014, por volta das 09.30h


Sou um velho, reconheço, e devo referi-lo à partida, tal e qual como um político que declara rendimentos no tribunal constitucional antes de se deitar à acção.

Aqui há dias, num blogue que costumo frequentar, era referido o início das aulas na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. E dizia o articulista que, num átrio todo organizado para receber os novos alunos, com secretárias, cadeiras, professores, doutores, estudantes, uma das músicas que passava era o Bacalhau Quer Alho, sendo que cito uma das quadras: o bacalhau quer alho! / É o melhor tempero / Quem comer alho / Fica rijo que nem um pêro. A música pimba no seu melhor, a abrilhantar a morada da sabedoria. Vamos embora Saul Ricardo!

2ªfeira dei início ao meu ano lectivo na Faculdade de Letras. Até estacionar o carro sou acompanhado pelo espectáculo que a Direcção-geral de Saúde, suportada pela OMS e pelo Ministério relevante, deveria proibir por questões de higiene pública: a praxe. Mandem vacinar as crianças, ensinam como se lavam as mãos - e interditem as praxes. São 09.30h e, à entrada da faculdade, um magote de gente com cabeleiras carnavalescas pintadas beberica cerveja - por copo ou garrafa de litro - como se não houvesse amanhã. Quis perguntar a uma jovem estudante, vestida a rigor, se tinha sempre sede àquela hora e se a matava com Super Bock, mas afligi-me com o hálito matutino.

Subo dois lances de escada. Num corredor, uma rapariga naturalmente fatigada (a constante da fotografia anexa) estende-se ao comprido a ler um clássico, confiante na limpeza do lajedo por onde espalha a sua gaforina morena. Não se espoja, pré-descansa. Não é desrespeito, é estágio de altitude. Não é geração à rasca, está à rasca.

Cinco minutos depois surgem dois estudantes trajados de negro. Percebo que perguntam é caloira? às jovens que encontram sentadas pelo chão, e dão indicações em função da resposta, tipo a praxe é no átrio, arranje uma cabeleira loira, ponha-se de gatas a beber cerveja e a imitar um burro, o que lhe parece? Estou curioso com a abordagem que me farão, mas ficam-se pelo não vale a pena perguntar se é caloiro, pois não? Sorrio e penso que tudo seria mais interessante se os estudantes circulassem pela faculdade sem ponto de interrogação, só ponto de exclamação e, em vez do é caloiro?, se ficassem pela interjeição: eh ca'loiro!, ou eh ca'morena! Ou ainda, com propriedade, eh ca'bebedeira!  

JdB

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