12 setembro 2014

Das fotografias

Viana do Castelo, Setembro de 2014
Recupero Roland Barthes, e um ou outro pensamento que já aqui partilhei em tempos idos: o punctum, esse detalhe que nos fere.

Nunca fui um fotógrafo. Tive a primeira câmara fotográfica há trinta e cinco anos, talvez. Era uma Diana, parece-me, oferta da TAP. Era uma máquina com uma estrutura plástica frágil, que fazia prova de vida através de ruídos mecânicos sonoros. Tirei pouca fotografias - seguramente más. Três ou quatro anos mais tarde, por ocasião da minha primeira viagem a Londres, recebi uma Kodak (seria Instamatic?). O rolo vinha incorporado numa cassete, o plástico era rijo e o flash consistia em quatro lâmpadas encastradas numa espécie de farol rectangular, que rodava quando a lâmpada se "consumia" para iluminar a cena. Tirei algumas fotografias - pessoas de corpo inteiro, paisagens urbanas moderadamente enquadradas.

Caminha, Setembro de 2014

Vinte anos depois pedi para me trazerem uma Nikkon de Nova Iorque. Era uma máquina boa, manual, à qual fui juntando lentes, zooms, filtros, tripés - e alguma técnica. Foi a fase dos retratos com que imortalizei, em papel, a existência dos meus mais próximos. Muitas fotografias com as crianças de chapéu, porque há fetiches que são assim mesmo. Alguma paisagem de qualidade razoável, que não envergonha. Acima de tudo retratos, que eram o horizonte do meu pormenor.

Agora fotografo - com pouca frequência - com uma máquina digital pequena, equipada com funções que não domino nem fixo. Para além de usar o dispositivo para constituir prova irrefutável de uma presença, para fixar um momento, uma proximidade afectiva, uma curiosidade qualquer, faço-o, sobretudo, para apanhar uma minudência, uma imagem ínfima que transforme a fotografia numa ideia, num pensamento ou numa história. Para isso tiro dezenas de fotografias, ambicionando a sorte, aqui e ali, de ver um fio de luz a iluminar um fragmento de poeira, um telhado num ângulo bizarro com um candeeiro, uma fiada de arcos com uma perspectiva interessante, uma incongruência arquitectónica. Em muitos casos, para só eu perceber e apreciar o aparente petit rien.


Ponte da Barca, Setembro de 2014

Hoje busco o pormenor, porque dele sou utilizador fraco. Detenho-me no detalhe de uma fotografia, na frase de um texto, numas mãos esguias que pousam numa varanda, num sorriso a que alguém se entrega numa multidão estranha. 

Procuro o punctum, se bem que desconheça o bem que isso me trará.

JdB  

PS: há pessoas que fazem versos, outras são poetas; há pessoas que tiram fotografias, outras são fotógrafos - é o caso de JMAC, o homem de Azeitão. O seu a seu dono.   


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