24 setembro 2014

Diário de uma astróloga – [87] – 24 de Setembro de 2014

A astrologia condiciona ou aumenta o livre arbítrio?


Muitas das minhas consultas astrológicas começam assim:


Por outras palavras, estou a parafrasear Shakespeare:


Este diálogo revela interrogações mais profundas e que têm sido objecto de contínuos debates filosóficos e religiosos. Os agentes do destino, as divindades que manipulavam os fios da teia que é a nossa vida, as Moirai, eram importantes figuras na mitologia grega. Mas, em resumo, as perguntas são: O nosso destino é predeterminado ou temos livre arbítrio para decidir entre as várias escolhas ao nosso alcance? Somos marionetes accionadas por forças invisíveis ou somos definidores no nosso caminho?

Na minha área acrescento mais uma: A astrologia condiciona ou aumenta as escolhas e, consequentemente, o livre arbítrio?

Na minha opinião, o destino é formado por uma combinação de factores que advêm das condições do nosso nascimento, acontecimentos sobre os quais não temos controlo e factores que podemos modificar através da consciência, esforço e disciplina.


Acredito que as condições do nosso nascimento não são acidentais, não nos “calhou” essa sorte, mas são ditadas pelo nosso caminho espiritual e cármico. Como muitos dos meus colegas astrólogos, acredito que antes de nascermos escolhemos o país, a família de origem, a época e o momento do nascimento. Essa escolha vem da alma, isto é, de um ponto espiritualmente elevado fora do alcance da consciência. Independentemente da crença pessoal, estes factores são predeterminados. Aqui não há livre arbítrio. Ter nascido mulher, em Portugal, em 1950, numa família de classe média alta, determinou grande parte do meu destino. Se tivesse nascido homem, negro, no Sul dos EUA, nessa mesma época, de pais trabalhadores rurais, o meu ponto de partida seria muito diferente e o meu destino (como ponto de chegada) também.

Em segundo lugar, podemos não ter controlo sobre certos acontecimentos, mas temos controlo sobre a nossa reacção a esses acontecimentos. Ao desespero e à pena de nós próprios podemos contrapor aceitação e força, se formos vitimas de um acontecimento traumático. A crise económica (acontecimento social) desperta numas pessoas empreendedorismo, noutras a vontade de emigrar, e noutras a depressão. A gestão da crise está fora do nosso campo de escolhas, mas temos livre arbítrio sobre o que fazer dela.

O terceiro grupo de factores é o mais relevante para responder à questão inicial. Outra conversa frequente:


O que deveria responder: Antigamente acreditava-se que a astrologia revelava o destino de uma pessoa e que o tema natal era determinístico. A astrologia servia para saber que teia as Moirai tinham tecido e, nesse quadro, talvez a ignorância seja uma bênção. Apesar de a astrologia actual que pratico continuar a assentar sobre a frase atribuída a Hermes Trisgemistos “O que está em abaixo é como o que está em cima” ou noutra tradução “assim na terra como nos céus”, com o desenvolvimento da psicologia arquetípica, tornou-se um instrumento de autoconhecimento, um instrumento liberatório onde, através das escolhas na parte do destino que controlo, posso ser parte activa no traço do meu caminho de vida.

Nas palavras de filósofo Richard Tarnas: O grande mérito da Astrologia é que ela parece revelar muito precisamente que arquétipos são importantes para cada pessoa, como eles interagem uns com os outros, e quando e como têm maior probabilidade de serem expressos no curso da vida. Deste ponto de vista, o tema natal não é uma prisão distribuída aleatoriamente que nos leva a um destino inexorável, mas pode ser visto como a definição da estrutura básica do nosso potencial - sugerindo os dons pessoais e as provações que escolhemos para que nesta vida possamos evoluir. A Astrologia ilumina as dinâmicas arquetípicas fundamentais que condicionam profundamente nossas vidas, o que não quer dizer que determinem as nossas vidas.

A astrologia permite compreender melhor a nossa personalidade, os nossos complexos, trazer ao nível do consciente as pulsões inconscientes que nos fazem agir sempre da mesma maneira e, assim, libertarmo-nos de nós próprios. A astrologia é um extraordinário instrumento de desenvolvimento pessoal. A astrologia é o motor de arranque para:

Plantar um pensamento, colher um acto
Plantar um acto, colher um hábito
Plantar um hábito, colher um carácter
Plantar um carácter, colher um destino.

Luiza Azancot

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