O Natal aproxima-se a passos largos e reconheço que, se
por um lado devo e quero valorizar o muito que representa, o que me pode trazer
de bom para o espírito (que para o corpo….) e o que me compele a levar de bom
aos outros (dois pontos que dependem sobretudo de mim), por outro não me é de
todo estranho o sentimento de “não passar pela casa da partida” a que JdB aqui
se referiu há uns dias.
No meu caso particular atribuo isso sobretudo a hábitos
rotineiros demasiado arreigados, para quem o Natal representa perigo e
sobressalto. Que são claramente manifestações clássicas de egoísmo. “Largos
dias têm 100 anos”, diria por certo com a-propósito Pinto da Costa, o eterno
Presidente do FCP (não confundir com “Longos dias têm 100 anos”, de Agustina).
Não esqueço todavia que no Natal as nossas memórias mais
tristes se tornam especialmente vivas e presentes. Mas acho sinceramente que
não há época mais propícia para bem lidar com elas do que o Natal, tempo por
excelência de amor, esperança e agradecimento.
Trago-vos para final de ano 2 músicas portuguesas. A 1ª,
actual, integrando um álbum com nome de uma rua que me é familiar, e estamos em
tempo de festejar as famílias. A 2ª, já com uns anitos, porque há muito a
queria apresentar neste blogue, que também há muito me vem suportando…
Um Santo Natal, com muita paz e alegria para todos.
fq
Bom dia fq
ResponderEliminarGostei das suas escolhas e acima de tudo do seu texto.
Tenho ouvido reclamações, suspiros, desabafos e zangas por causa dos arranjos natalícios. Pais separados, filhos casados, pais recasados com enteados, netos de filhos recompostos, netos emprestados e até avós que continuam a fazer gosto em recolher a sua família nuclear. Tenho ouvido os jovens nómadas a reclamar da dificuldade em repartir a consoada e dia de natal com todos os ascendentes e descendentes - temos de ir à mãe, temos de ir ao pai, passar pelos avós ir aos sogros, e o Raimundo ainda tem de levar os filhos à ex sogra.
Esta esquizofrenia familiar e natalícia não é saudável, não só porque nos leva a detestar o natal, como separa as pessoas, releva e eleva laço não hierarquizáveis.
Soluções não tenho. Dramas e conjecturas afectivas também as fiz, mas talvez tenha algo mais apaziguador e doce que alguns dos meus amigos, um presépio alargado e muito criativo, arquitectado e montado por dois filhos recompostos e uma consoada cheia de netos em volta de uma árvore que, naturalmente, porque esta é a lei da vida, vai renovando o stock de sapatos em número e tamanho de pé.
Talvez tenhamos de assumir que perpetuar a família nuclear é difícil. Talvez tenhamos de assumir que o natal é uma época de paz e que, sempre de porta aberta, vamos recebendo e visitando sem hora marcada e sem perú quente, quem gostamos e quem gosta de nós.
Utopia, mas aproveito para de desejar um santo e pacífico natal a todos os frequentadores deste estabelecimento.