Fotografia de JMAC, o homem de Azeitão |
A escrita é um exercício de vaidade oca se não tiver um propósito elevado, se não se destinar a mudar consciências, a orientar acções, a conformar comportamentos.
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Dois factores contribuem para o post de hoje: a leitura da frase acima, apanhada num dos blogues que visito regularmente, e o facto de estarmos nos primeiros dias de Janeiro, momento peculiar em que dardejamos votos de bom ano a torto e a direito.
Abandonadas as minhas funções profissionais como funcionário de uma multinacional, não mais estabeleci objectivos e metas para o ano que se aproximava, não mais defini estratégias para atingir o que me propunha atingir. Afastado que estou, também, de movimentos católicos, não mais pensei de forma estruturada no ano que vinha chegando, o que pensava alterar no meu comportamento para me tornar um homem melhor. Por outro lado, nada em mim é propício a definir horizontes para o ano, do tipo emagrecer, deixar de fumar, escalar o Monte Branco ou comprar um Porsche.
Um destes dias li o que alguém escrevera num boletim paroquiano relativamente ao que deveríamos / poderíamos desejar aos outros quando dizemos Bom Ano. E cito: (...) Escutar com atenção, ver com atenção, tocar com atenção. A atenção é uma dimensão fina das nossas relações. A atenção é o amor posto ao serviço dos mais desfavorecidos, dos mais abandonados, dos mais sozinhos. A atenção é a aquilo que separa um braço esticado de uma mão estendida, a diferença entre ver e olhar, o que distingue o ouvir do escutar. A atenção é o elemento cristão do exercício dos sentidos.
Face à frase demolidora com que inicio o post de hoje, a escrita daquele trecho paroquiano teria sido um exercício de vaidade oca caso fosse eu a escrevê-lo. Não tenho propósitos definidos, não tomei banhos de mar no dia 1, comi passas de forma errática ainda o ano não terminara. E no entanto talvez deseje ter mais atenção para dar aos outros; talvez deseje, de forma muito simples, a reposição de algumas coisas que dentro de mim foram alimento de paz nos últimos anos; talvez deseje o que algumas paisagens me oferecem - um coração que escuta o silêncio e uma alma que se perde na lonjura. Por fim, o que peço sempre, mesmo quando não formulo o pedido: discernimento e força.
JdB
Um 2015 bom no teu coração.
ResponderEliminarAmor e gratidão pelo blog.