22 junho 2015

Da Escola Prática de Infantaria, 35 anos depois


À semelhança de muita gente, mas também ao contrário de muita gente, o serviço militar obrigatório - vulgo tropa - não me trouxe gratas recordações. Tenho memórias, boas e más, mas o cômputo geral não é positivo. Entrei na então Escola Prática de Infantaria, em Mafra, a 17 de Março de 1980. Voltei lá sábado passado - 35 anos depois, portanto.

A tropa cortou-me uma entrada já tardia no curso de Engenharia; por outro lado, obrigou de mim um exercício físico a que não estava habituado; mesmo sendo um "fundista" em termos de caminhadas a pé, sempre fui lento nas marchas, pelo que esta actividade, tão presente, me era penosa. Como vinha muitas vezes a casa - era camarada do famoso basquetebolista Carlos Lisboa, que vivia em S. Pedro do Estoril - estudava menos do que devia. Enfim, entre apreciação de instrutores, testes psicotécnicos e outras coisas positivas, lá fui à escola de oficiais...

A fotografia acima constitui uma das minhas memórias marcantes. No dia seguinte a ter entrado, olhei para o lado e vi talvez 500 ou 600 recrutas todos fardados por igual, com a mesma roupa vincada e nova, um bivaque (chama-se assim?) posto à parva. A imagem, com 35 anos, é-me muito forte. A sensação foi desconfortável e está mais presente do que o frio, a pouca higiene ou a má comida.     

A fotografia abaixo é do refeitório dos frades, onde almocei e jantei durante alguns meses. A recordação mais "curiosa"? O facto de, à altura, haver uns pacotes de Flora, redondos, que eram literalmente cortados ao meio, pelo que cada mesa, de 16 recrutas, tinha direito a 2 meios pacotes, cortados com precisão de faca afiada...



Mandei a fotografia de cima ao ATM, que percebe estas idiossincrasias de um homem sempre voltada para o que já foi (como escreveria o Alberto Janes, para a Amália cantar, tenho a janela do peito / aberta para o passado).  Não correrei o risco de maçar ninguém com histórias, mas quem nunca foi à tropa, quem nunca sentiu o significado da frase "soldado instruendo bragança, tem uma carta" (porque não viveu em 1980) tem mais dificuldade em perceber do que falo. 

Não fiz uma romagem de saudade, mas a visita teve o seu impacto...

JdB

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