13 julho 2015

Vai um gin do Peter’s?

Num artigo recente, um professor do Técnico trouxe a lume o caso insólito de um negativo muito anterior à invenção da fotografia que data de meados do século XIX. Ora este negativo conta com 2000 anos. Como se fosse pouco, ainda soma a proeza de continuar a sobreviver ao tempo, incólume, o que não acontece com muitos dos que têm perto de 100 anos.
Sabemos que há casos por desvendar no património histórico e artístico da humanidade, como as gigantescas estátuas da Ilha de Páscoa ou os geoglifos do deserto de Nazca no Peru, igualmente desmesurados. Só que o tal negativo com vinte séculos mantém uma estranha actualidade, interferindo com o dia-a-dia de muita gente, como atesta o testemunho postado no final deste gin, de uma iraquiana de apenas 10 anos, acolhida num campo de refugiados.  
Começando pelo artigo, gentilmente cedido pelo autor, José Maria André recorda um fenómeno com características únicas e algo insólitas:

Uma fotografia com 2000 anos


Existe na cidade de Turim um grande lençol com uma imagem em negativo. Há 20 anos atrás, ninguém se admiraria com isso, porque era comum as máquinas fotográficas tirarem a fotografia em negativo e depois esse negativo ser passado para papel, produzindo o negativo-do-negativo, ou seja, a fotografia positiva, a preto e branco. Hoje em dia, só os idosos se lembram dos negativos. As fotografias digitais já não passam por essa etapa intermédia e os mais novos só conhecem imagens negativas obtidas no computador. Na história da humanidade, a época dos negativos fotográficos durou apenas uns cem anos. Até há pouco mais de um século, ninguém tinha visto um negativo e, actualmente, os negativos voltaram a ser raridades.

O curioso é que o grande lençol de Turim tem muitos séculos. A maior parte dos especialistas atribui-lhe 20 séculos e o mínimo de idade que lhe atribuem é 10 séculos. Como é que alguém se lembrou de fabricar uma imagem em negativo há tantos séculos atrás?
Outra característica pouco vulgar do lençol é ser uma imagem a preto e branco. Tirando os painéis de azulejo, as pinturas são quase sempre coloridas. Porque é que alguém fez uma pintura em tons de cinzento, em vez de um quadro a cores?

O lençol de Turim tem ainda outras complexidades. É quase uma pintura abstracta, não uma pintura decorativa, mas um amontoado de manchas que não se percebe bem à primeira vista. Arte semi-abstracta há 20 séculos?

A imagem do lençol de Turim não tem sinais de pincel ou de tinta, é um conjunto suave de manchas, como as fotografias. Que técnica de pintura tão estranha, há 20 séculos, que hoje ainda não se consegue imitar!

Além disso, o lençol está sujo de sangue. Alguém usou o lençol para limpar o sangue de uma pessoa ferida? Se é uma imagem tão valiosa, guardada com tanto cuidado, durante tantos séculos, porque é que nunca lavaram o lençol?

As investigações sobre este lençol destacaram muitas outras particularidades. As fibras de linho são típicas da Palestina de há 20 séculos e o entrançado do tecido é característico dessa região. Por entre as fibras, encontraram-se poeiras e grãos de pólen sobretudo de plantas típicas da Palestina e de algumas outras terras por onde o lençol andou.

Há documentos muito antigos que contam que aquele lençol envolveu o corpo morto de Jesus Cristo e por essa razão, embora não seja um tecido rico, foi guardado com tanto cuidado até hoje. Ao longo destes séculos, o lençol passou por diversas mãos e atravessou o Mediterrâneo até se fixar em Turim: uma sequência de peripécias, que poderiam ter arruinado aquela mortalha, se não tivesse havido um empenho tão grande em a preservar.

Pouco mais havia a dizer, durante muitos séculos. As pessoas continuavam a guardar aquele pano com grande devoção, porque os documentos asseguravam que tinha estado em contacto com o corpo morto de Jesus Cristo, mas não sabiam mais dessa relíquia. É certo que a guardavam num estojo muito rico, lhe construíram uma capela valiosa, numa igreja deslumbrante, mas apenas por causa destas notícias, transmitidas de geração em geração. Aquele pano sujo de sangue não parecia acrescentar mais informação.

No último século, a técnica fotográfica revelou o que ninguém tinha imaginado antes. Ao tirar uma fotografia (em negativo), verificou-se que o negativo aparecia como um positivo. Isto é, o lençol era uma imagem negativa! A imagem quase abstracta tornou-se perfeitamente clara, na fotografia. O interesse cresceu, multiplicaram-se as investigações e, agora que a imagem fazia mais sentido, empregaram-na para reconstruir as feridas e as feições de Jesus. Por todos os sinais, conseguiu-se perceber como é que tinham decorrido a flagelação, a coroação de espinhos e a crucifixão. Quando os especialistas em medicina legal reconstituíram estes factos, os historiadores ficaram assombrados, porque os pormenores coincidiam exactamente com os hábitos romanos de crucifixão da época de Jesus.

Regularmente, este lençol de Turim, conhecido como «Sudário», é exposto para ser visto de perto pelos fiéis (sobretudo fotografado, porque é na fotografia que a imagem se revela melhor). Neste momento, está acessível na catedral de Turim, que o Papa Francisco irá visitar no próximo Domingo 21 de Junho.

Um dos secretários do Papa, o padre egípcio Yoannis Lahzi Gaid, publicou recentemente um livro(1) contemplando a Paixão de Jesus com base na imagem do Sudário. Como o Pe. Gaid tem o Papa à mão (privilégios de secretário), conseguiu que ele lhe escrevesse o prefácio do livro. O texto do Papa Francisco é uma meditação maravilhosa sobre Jesus, em tom de oração: «Faz, Senhor, que eu Te possa ver hoje nos rostos desfigurados, nos corpos sofredores de todos os tempos, nas pessoas descartadas, marginalizadas e esmagadas pelo peso das suas cruzes (…) Faz, Senhor, que eu seja uma imagem de Ti, o teu Sudário, para testemunhar aos homens do nosso tempo o abraço do teu amor inefável!»
Pormenor do Sudário: a imagem negativa aparece como positiva.

José Maria André
 7-VI-2015
Publicado nos jornais «Correio dos Açores»,
«ABC Portuguese Canadian Newspaper» e «Verdadeiro Olhar»

Vem a propósito deste misterioso negativo, demasiado antigo para os conhecimentos humanos, a entrevista(2) a Miriam, uma criança do Iraque que teve de fugir ao ataque devastador dos fanáticos do Daesh, aqui a falar com  uma serenidade e sabedoria de vida extraordinárias, muito para lá das possibilidades de um QE fabuloso! Tudo com um sorriso meigo, como se a condição de refugiada fosse fácil. Só a resposta que dá ao entrevistador sobre a forma como encara os seus cruéis perseguidores por quem reza a Deus para que lhes perdoe, já se percebe que está noutro campeonato! Claro que ela lhes perdoou, como diz tranquilamente, a dada altura. Até o entrevistador fica atordoado, insistindo com a miúda, para perceber se teria bem a noção do que estava a afirmar. O olhar lúcido e a escolha certeira das palavras não deixam margem para dúvidas, transmitindo uma paz imensa, que rasa o inexplicável. Sim, é ela que nos pacifica. Poderíamos ficar-nos por lhe reconhecer uma maturidade muito acima dos 10 anos. Mas haverá alguma idade em que uma reacção desta grandeza e fé seja comum? Convenhamos que tudo o que Miriam diz e é, suplanta a escala da maturidade.

https://m.youtube.com/watch?v=_ige6CcXuMg

Fica-se sem palavras depois do testemunho desta criança inspirada e de uma bondade transparente.

Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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 (1)  Título do livro de meditações do padre egípcio de rito copta: "Via Crucis dalla Bibbia alla Sindone" (Via Sacra, da Bíblia ao Sudário)

 (2)  Postado a 26 de Fevereiro de 2015 no Youtube, remetendo para o site http://www.wazala.org/2014-02-letters-from-egypt/ com relatos e entrevistas a vítimas do DAESH (ISIS). 


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