04 outubro 2015

27º Domingo do Tempo Comum

EVANGELHO – Mc 10,2-16

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova
e perguntaram-Lhe:
«Pode um homem repudiar a sua mulher?»
Jesus disse-lhes:
«Que vos ordenou Moisés?»
Eles responderam:
«Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio,
para se repudiar a mulher».
Jesus disse-lhes:
«Foi por causa da dureza do vosso coração
que ele vos deixou essa lei.
Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher.
Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa,
e os dois serão uma só carne’.
Deste modo, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, não separe o homem o que Deus uniu».
Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo
sobre este assunto.
Jesus disse-lhes então:
«Quem repudiar a sua mulher e casar com outra,
comete adultério contra a primeira.
E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro,
comete adultério».

***

O P. Javier Gafo, especialista espanhol em bioética, falecido há alguns anos, cita num dos seus livros uma bela história índia.

Um casal muito pobre ia celebrar o aniversário do seu matrimónio. Ele dava voltas e mais voltas à cabeça, sem sucesso, pensando como conseguir umas poucas moedas para presentear a mulher que tanto amava e que o tinha acompanhado durante quase toda a sua vida. Até que teve uma ideia que lhe causou calafrio: poderia vender o cachimbo, com o qual todas as tardes se sentava a fumar à porta da sua casa. Com o dinheiro, podia oferecer à sua mulher um pente, para que pudesse pentear o seu belo e longo cabelo, que cuidava com tanto esmero.

Finalmente, com o coração pesaroso e alegre ao mesmo tempo, aquele homem vendeu o seu cachimbo e aproximou-se de casa, levando envolvido num pobre papel o pente que tinha comprado. Lá o esperava a sua mulher, que tinha vendido o seu bonito cabelo negro para oferecer ao seu marido o melhor tabaco para o seu cachimbo.

O amor cristão caracteriza-se por supor entrega, dom de si, desprendimento e sacrifício de um pelo outro. Quando Inácio de Loyola fala do amor, diz que há duas coisas a ter em atenção: «a primeira é que o amor deve pôr-se mais nas obras do que nas palavras; a segunda é que o amor consiste em comunicação recíproca, a saber, em dar e comunicar a pessoa que ama à pessoa amada o que tem ou do que tem ou pode; e, vice-versa, a pessoa que é amada à pessoa que ama; de maneira que, se um tem ciência, a dê ao que a não tem, e do mesmo modo quanto a honras ou riquezas; e assim em tudo reciprocamente, um ao outro» (Exercícios Espirituais, 230-231). Não se pode amar sem entregar o melhor de nós mesmos na relação.

A Carta aos Efésios refere-se à relação matrimonial comparando-a com a relação que existe entre Cristo e a Igreja. Quando nas celebrações do Matrimónio se lê esta leitura, nota-se satisfação no rosto dos noivos durante a primeira parte do texto: «As esposas devem estar sujeitas aos seus esposos como ao Senhor» (5, 22). Mas quando se explica a segunda parte, as noivas são as que parecem mais satisfeitas: «Esposos, amem as vossas esposas como Cristo amou a Igreja e deu a sua vida por ela» (5, 25), porque do que se trata é simplesmente de um amor que está disposto à entrega até à morte, e morte de cruz...

Este amor oblativo só será possível se marido e mulher se fizerem uma só pessoa, que é o que Jesus propõe para a relação matrimonial. Convém, pois, alimentar constantemente esta decisão de amor mútuo que, combinando a dor e a alegria, se torna capaz de uma entre generosa no dia a dia da relação. Amor que se traduz em obras e amor que está disposto a dar e receber numa permanente comunicação. Amor que está disposto a vender o seu cachimbo ou o seu bonito cabelo para se encontrar com o outros, a partir do melhor de si mesmo.


Trad. / adapt.: Rui Jorge Martins 

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